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Escritores debatem seu papel em conflitos
DO ENVIADO ESPECIAL
Escritores de países em conflito
se reuniram na semana passada
em Tromso, no norte da Noruega,
muito além do Círculo Polar Ártico, para debater sua função nessas
sociedades em transe, dentro das
comemorações dos cem anos do
Prêmio Nobel da Paz, outorgado
pela Noruega.
Cada um relatou como influencia e é influenciado pela violência.
O único consenso parece ser o de
que a literatura, se é incapaz de
agir de forma imediata para impedir as carnificinas, pode servir
ao menos para revelar ao outro lado que o inimigo é tão humano
quanto ele.
O sul-africano branco Andre
Brink, por exemplo, conta que
Nelson Mandela leu vários livros
africâneres em seus longos anos
na prisão e depois revelou ter sido
uma das melhores formas de
compreender o inimigo e sua forma de pensar. "A descoberta do
outro e o reconhecimento do outro é a coisa mais importante e
mais difícil num conflito", disse.
"Um branco que leu um dos
meus livros me confessou depois
que não sabia que negros podiam
ser assim. Uma confissão terrível,
mas que mostra a relevância da literatura", concluiu Brink, que
chegou a ser detido pelo regime
racista sul-africano por sua luta
contra o apartheid.
Já o irlandês Joseph O'Connor
destacou a perniciosa memória
seletiva de católicos e protestantes
num conflito onde "Deus é a
bomba atômica".
O palestino Izzat Ghazzawi sugeriu que os políticos deveriam
dar seus postos aos escritores,
muito mais sensíveis e compreensivos. "A literatura é a forma mais
profunda para se conhecer o outro", disse ele.
Foram três dias de discussões
em Tromso, com os escritores fazendo recitais depois nos cafés e
bares da pequena cidade ártica, de
60 mil habitantes, com a localização isolada do encontro já fornecendo uma grande metáfora sobre o pouco poder de seus escritos
diante dos conflitos que refletem e
comentam. Por mais que estejam
certos, sua influência e leitorado
são muito limitados, ainda mais
em países onde ódios antigos alimentados por mitos e lendas são a
verdadeira ficção a preencher o
imaginário dos beligerantes.
Talvez mais fácil do que promover a literatura, esperando que ela
reduza conflitos, seja adotar o
conselho do israelense Amos Oz:
"A melhor forma de evitar conflitos é não nos levarmos a sério, rirmos de nós mesmos. Fanáticos
não têm senso de humor".
(SM)
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