São Paulo, domingo, 09 de setembro de 2007

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Após campanha sangrenta, Guatemala vai hoje às urnas


Mais de 50 candidatos e ativistas foram assassinados pouco antes das eleições

Pesquisas indicam segundo turno entre ex-general de direita e político de centro; segundo analistas, falta de segurança domina debate
ANDREA MURTA
DA REDAÇÃO

Assassinatos, intimidações e acusações de manipulação em pesquisas compõem o cenário sangrento da campanha eleitoral deste ano da Guatemala, que culmina hoje em meio a temores de mais violência. Mais de 5,9 milhões de eleitores poderão votar hoje para escolher presidente, 158 deputados e 332 cargos em prefeituras. As opções, porém, estarão ligeiramente reduzidas depois que ao menos 50 concorrentes e ativistas, sobretudo de partidos de centro e de esquerda, foram mortos nos últimos meses.
"A situação de violência é tão grave que a população está disposta a sacrificar a solução de seus problemas mais estratégicos, na área econômica e social, em favor da segurança", disse à Folha Francisco García, coordenador de análise política do Instituto Centro-Americano de Estudos Políticos, na Guatemala. É por isso, diz García, que um dos favoritos na corrida presidencial do país, a despeito do longo histórico de ditadura militar, é o general da reserva Otto Pérez Molina, do Partido Patriota (PP, de direita).
"A violência interessa ao PP. Ela cria um clima que lhes permite posicionar melhor o lema de "mão dura". Aliás, as relações que tem Pérez Molina com serviços de inteligência e grupos paralelos ao Estado dão a ele capacidade para realizar tudo o que está acontecendo no país", afirma García, aludindo aos assassinatos e intimidações.
Faz coro o analista político Peter Hakim, presidente da organização sediada nos EUA Diálogo Interamericano: "Pérez Molina é extremamente linha-dura e tem propostas que provavelmente não seriam bem vistas em outro lugar. Mas o povo da Guatemala está tão esgotado e frustrado, e o sentimento de impotência é tão grande, que muitos estão dispostos a se voltar para isso".
Entre as propostas do ex-general estão a convocação do Exército para ajudar na segurança interna do país e a implementação da pena de morte.
Hakim avalia, porém, que a violência não é um problema específico desta eleição. "A violência está menos relacionada a ideologias do que ao fato de haver várias organizações criminosas tentando implantar seus candidatos nas vagas abertas."
A ONG International Crisis Group divulgou um relatório no qual diz que a atual campanha foi a mais violenta do país desde 1996, quando acordos de paz puseram fim a 36 anos de guerra civil na Guatemala.

Disputa acirrada
O principal concorrente de Pérez Molina é o político de centro Álvaro Colom, líder nas pesquisas, que tem seu maior apoio nas áreas rurais. Suas propostas para redistribuir renda, incrementar salários, investir em educação e saúde e reformar os serviços de segurança civis atraíram o apoio também de setores de esquerda, que não têm partido forte nessas eleições. Contra ele, pesam acusações de corrupção e desvio de verba.
Na última pesquisa de intenção de voto do instituto Demoscopía, publicada sexta, Colom alcançou 34,7%, e Pérez Molina, 26,8%. O candidato da situação, Alejandro Giammattei (Gana, de centro), alcançou 13,3%. A margem de erro é de 1,8 ponto percentual, para mais ou para menos.
A pesquisa mostra que a população indígena, que compõe cerca de 40% dos guatemaltecos, apóia Colom. A maia Rigoberta Menchú, Nobel da Paz em 1992, amarga a sexta posição. "Ela não tem um partido forte, não há gerenciamento nem dinheiro para financiar a campanha. Não é estranho que não esteja bem colocada nas pesquisas", afirma Hakim.
Se as urnas confirmarem os índices, os dois candidatos se enfrentarão no segundo turno, em 4 de novembro. Nesse caso, segundo a pesquisa, Colom teria 49,3%, contra 50,7% de Pérez. Ou seja: não há previsão segura sobre quem será o próximo presidente dos mais de 12 milhões de guatemaltecos, quase 60% dos quais vivem hoje abaixo da linha da pobreza.


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