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Após campanha sangrenta, Guatemala vai hoje às urnas
Mais de 50 candidatos e ativistas foram assassinados pouco antes das eleições
Pesquisas indicam segundo turno entre ex-general de direita e político de centro;
segundo analistas, falta de segurança domina debate
ANDREA MURTA
DA REDAÇÃO
Assassinatos, intimidações e
acusações de manipulação em
pesquisas compõem o cenário
sangrento da campanha eleitoral deste ano da Guatemala, que
culmina hoje em meio a temores de mais violência. Mais de
5,9 milhões de eleitores poderão votar hoje para escolher
presidente, 158 deputados e
332 cargos em prefeituras. As
opções, porém, estarão ligeiramente reduzidas depois que ao
menos 50 concorrentes e ativistas, sobretudo de partidos de
centro e de esquerda, foram
mortos nos últimos meses.
"A situação de violência é tão
grave que a população está disposta a sacrificar a solução de
seus problemas mais estratégicos, na área econômica e social,
em favor da segurança", disse à
Folha Francisco García, coordenador de análise política do
Instituto Centro-Americano
de Estudos Políticos, na Guatemala. É por isso, diz García, que
um dos favoritos na corrida
presidencial do país, a despeito
do longo histórico de ditadura
militar, é o general da reserva
Otto Pérez Molina, do Partido
Patriota (PP, de direita).
"A violência interessa ao PP.
Ela cria um clima que lhes permite posicionar melhor o lema
de "mão dura". Aliás, as relações
que tem Pérez Molina com serviços de inteligência e grupos
paralelos ao Estado dão a ele
capacidade para realizar tudo o
que está acontecendo no país",
afirma García, aludindo aos assassinatos e intimidações.
Faz coro o analista político
Peter Hakim, presidente da organização sediada nos EUA
Diálogo Interamericano: "Pérez Molina é extremamente linha-dura e tem propostas que
provavelmente não seriam
bem vistas em outro lugar. Mas
o povo da Guatemala está tão
esgotado e frustrado, e o sentimento de impotência é tão
grande, que muitos estão dispostos a se voltar para isso".
Entre as propostas do ex-general estão a convocação do
Exército para ajudar na segurança interna do país e a implementação da pena de morte.
Hakim avalia, porém, que a
violência não é um problema
específico desta eleição. "A violência está menos relacionada a
ideologias do que ao fato de haver várias organizações criminosas tentando implantar seus
candidatos nas vagas abertas."
A ONG International Crisis
Group divulgou um relatório
no qual diz que a atual campanha foi a mais violenta do país
desde 1996, quando acordos de
paz puseram fim a 36 anos de
guerra civil na Guatemala.
Disputa acirrada
O principal concorrente de
Pérez Molina é o político de
centro Álvaro Colom, líder nas
pesquisas, que tem seu maior
apoio nas áreas rurais. Suas
propostas para redistribuir
renda, incrementar salários, investir em educação e saúde e
reformar os serviços de segurança civis atraíram o apoio
também de setores de esquerda, que não têm partido forte
nessas eleições. Contra ele, pesam acusações de corrupção e
desvio de verba.
Na última pesquisa de intenção de voto do instituto Demoscopía, publicada sexta, Colom alcançou 34,7%, e Pérez
Molina, 26,8%. O candidato da
situação, Alejandro Giammattei (Gana, de centro), alcançou
13,3%. A margem de erro é de
1,8 ponto percentual, para mais
ou para menos.
A pesquisa mostra que a população indígena, que compõe
cerca de 40% dos guatemaltecos, apóia Colom. A maia Rigoberta Menchú, Nobel da Paz
em 1992, amarga a sexta posição. "Ela não tem um partido
forte, não há gerenciamento
nem dinheiro para financiar a
campanha. Não é estranho que
não esteja bem colocada nas
pesquisas", afirma Hakim.
Se as urnas confirmarem os
índices, os dois candidatos se
enfrentarão no segundo turno,
em 4 de novembro. Nesse caso,
segundo a pesquisa, Colom teria 49,3%, contra 50,7% de Pérez. Ou seja: não há previsão segura sobre quem será o próximo presidente dos mais de 12
milhões de guatemaltecos, quase 60% dos quais vivem hoje
abaixo da linha da pobreza.
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