São Paulo, terça-feira, 09 de outubro de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

MEDO

Bactéria encontrada em duas pessoas na Flórida pode ser usada como arma biológica

FBI investiga ligação entre casos de antraz e terrorismo

SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK

Uma das principais paranóias dos americanos atualmente, o medo de um atentado químico ou biológico, acaba de ganhar um reforço. O FBI está investigando a possibilidade de o antraz detectado em dois moradores da Flórida ser resultado de ação terrorista.
A bactéria, que matou um fotógrafo semana passada, foi encontrada no nariz de um colega e num teclado de computador na redação em que ambos trabalhavam, em Boca Raton. A empresa, American Media Inc., edita as revistas "The Sun" e "Globe".
"Não temos informação suficiente para dizer se isso está ligado ao terrorismo ou não", disse ontem o ministro da Justiça dos EUA, John Ashcroft. "Mas a investigação pode se tornar uma investigação criminal." As autoridades da Flórida fecharam o edifício onde funcionava a redação das revistas e está entrevistando os 300 funcionários da empresa.
O último caso de antraz registrado na Flórida é de 1974. A bactéria provoca uma doença infecciosa grave e está entre as listadas pelos serviços de inteligência como potencial arma biológica sob controle de grupos terroristas.
O infectado é Ernesto Blanco, 73, que está internado em condições estáveis. O FBI espera os relatórios do Centro de Controle de Doenças para determinar se se trata de uma ocorrência normal de infecção ou se foi mesmo resultado de um ato criminoso.
Na última sexta, o fotógrafo Robert Stevens, 63, morreu contaminado pela bactéria. Segundo o FBI, ele morava a um quilômetro e meio de distância da escola de aviação onde Mohammed Atta, um dos suspeitos do ataque terrorista, teve aulas de pilotagem.
O estado de segurança dos EUA voltou ao nível "alerta máximo", algo que não ocorria desde o dia 11 de setembro e, antes disso, desde a Segunda Guerra Mundial. O FBI colocou em "prontidão" todos os centros de emergência das grandes cidades.
Além disso, deputados e senadores foram exortados a não usar identificação oficial fora do Congresso e a Guarda Costeira mobilizou seu maior efetivo dos últimos 50 anos. O temor é uma possível retaliação pelos bombardeios no Afeganistão.
Segundo funcionários do ministério da Justiça, no entanto, não houve ameaça de qualquer tipo até agora. Trata-se apenas de medida de prevenção. Pontes, ruas, monumentos e o espaço aéreo continuam abertos.
"Todos os americanos devem estar alertas e nos ajudar nesta guerra", disse ontem o ministro da Justiça, John Ashcroft. "Mas não podemos deixar que esses riscos afetem nossa liberdade."
Em Nova York, todas as pontes, túneis, portos, prédios públicos, pontos turísticos e locais de grande aglomeração humana receberam vigilância extra.
São efetivos da polícia (41 mil homens), do FBI, do serviço secreto e mesmo soldados em fardas camufladas da Guarda Nacional, o que dá um clima bélico à cidade. Calcula-se que pelo menos 4.500 destes soldados estejam em ação neste momento.
Na cidade, os militares se concentram nos dois aeroportos, JFK e La Guardia, onde atuam mais no embarque e nas áreas de checagem dos passageiros. No interior, estão nos reservatórios estaduais de água, nos outros 17 aeroportos do Estado, nos diques e nas usinas de eletricidade.
Ainda ontem, complementando as medidas antiterror do governo federal, o ex-governador da Pensilvânia Tom Ridge foi empossado como o primeiro secretário de Segurança Interna da história dos EUA. O político deveria receber o cargo das mãos de Dick Cheney mas, ironicamente, o serviço secreto desaconselhou a cerimônia e manteve o vice-presidente em lugar não-revelado.
Ridge, 56, fez então seu juramento para o juiz Clarence Thomas, da Suprema Corte, na presença de George W. Bush. Estavam na cerimônia o ministro brasileiro da casa civil, Pedro Parente, e o representante especial para o Mercosul, José Botafogo.


Texto Anterior: The Moscow Times: Sofrimento de civis é inevitável
Próximo Texto: Deficiente mental tenta invadir cabine
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.