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São Paulo, quinta-feira, 09 de outubro de 2003

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"TOTAL RECALL"

Futuro governador da Califórnia não dá detalhes de como administrará o Estado, mas provoca políticos tradicionais

Eleito, Schwarzenegger se mantém vago

CÍNTIA CARDOSO
ENVIADA ESPECIAL A LOS ANGELES

O ator Arnold Schwarzenegger, eleito anteontem governador da Califórnia numa votação histórica, não mudou o principal traço de sua campanha ao dar sua primeira entrevista: foi vago sobre a maioria das questões.
Schwarzenegger, 56, não deu detalhes sobre como pretende sanear as finanças do Estado ao assumir, dentro de 40 dias. O déficit público, em torno de US$ 38 bilhões, foi o fator que desencadeou o processo cujo resultado foi o "recall" -a votação que abreviou o mandato do governador Gray Davis e elegeu o ator.
"Ainda não sabemos o tamanho exato do déficit. Vamos ter de fazer uma auditoria para ver o tamanho do estrago. Num futuro próximo, vou poder anunciar os detalhes, mas não vou aumentar impostos", declarou.
Ele reiterou promessas de campanha consideradas inexpressivas por seus críticos, como "revogar o aumento dos tributos para licenciamento de veículos".
O "recall" e a vitória do neófito Schwarzenegger, no Estado cujo PIB é o equivalente ao da França (quinto economia do mundo), foram encarados pela mídia americana como uma advertência para os políticos tradicionais.
O ator capitalizou: "Para que o povo vença, a política tradicional deve perder. Vou congregar republicanos, democratas e independentes -e aqueles que votaram a favor do "recall" e contra ele".
O discurso do republicano reflete o que deverá ser uma de suas principais dificuldades -o fato de que os democratas controlam o Legislativo na Califórnia e estão irritados com a derrubada de seu correligionário Davis, que havia sido reeleito 11 meses atrás.
Schwarzenegger contemporizou. "Recebi telefonemas do governador Gray Davis e do vice Cruz Bustamante. Eles se mostraram dispostos a cooperar com a transição." Bustamante, que permanecerá no cargo, provocou: "Ele pode ficar quanto tempo quiser, mas vou manter os olhos bem abertos. Vou vigiá-lo bem de perto", disse o vice, segundo mais votado na eleição.

Apoio feminino
A participação feminina foi decisiva para a vitória de Schwarzenegger. Mais de 40% das mulheres votaram no republicano. O segundo colocado, Bustamante, ficou com pouco mais de 35%.
O resultado surpreendeu, já que, na reta final da campanha, 16 mulheres acusaram o ator de assédio sexual. O escândalo, publicado em reportagens do jornal "Los Angeles Times", levou a mulher do ator, Maria Shriver, a sair em defesa do marido.
"Em quem vocês preferem confiar -em mim, que conheço Arnold há mais 20 anos, ou em pessoas que passaram no máximo cinco segundos com ele?".
O esforço de Shriver foi reconhecido pelo ator, que não negou ter assediado mulheres em estúdios de cinema. "Eu quero agradecer a Maria pelo amor e pela força que ela tem me dado. Eu sei que consegui muitos votos por causa dela".
Anteontem, 55% dos eleitores votaram "sim" pela saída do governador Davis, enquanto 45% votaram "não". Esse apoio popular a Schwarzenegger, dizem analistas, poderia ser o combustível para uma candidatura do ator à Presidência. Mas, por não ter nascido nos EUA -ele é austríaco naturalizado americano-, essa ambição terá de esperar por uma emenda constitucional que permita a candidatura de imigrantes.


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