|
Próximo Texto | Índice
"TOTAL RECALL"
Futuro governador da Califórnia não dá detalhes de como administrará o Estado, mas provoca políticos tradicionais
Eleito, Schwarzenegger se mantém vago
CÍNTIA CARDOSO
ENVIADA ESPECIAL A LOS ANGELES
O ator Arnold Schwarzenegger,
eleito anteontem governador da
Califórnia numa votação histórica, não mudou o principal traço de
sua campanha ao dar sua primeira
entrevista: foi vago sobre a maioria das questões.
Schwarzenegger, 56, não deu detalhes sobre como pretende sanear
as finanças do Estado ao assumir,
dentro de 40 dias. O déficit público, em torno de US$ 38 bilhões, foi
o fator que desencadeou o processo cujo resultado foi o "recall" -a
votação que abreviou o mandato
do governador Gray Davis e elegeu o ator.
"Ainda não sabemos o tamanho
exato do déficit. Vamos ter de fazer uma auditoria para ver o tamanho do estrago. Num futuro próximo, vou poder anunciar os detalhes, mas não vou aumentar impostos", declarou.
Ele reiterou promessas de campanha consideradas inexpressivas
por seus críticos, como "revogar o
aumento dos tributos para licenciamento de veículos".
O "recall" e a vitória do neófito
Schwarzenegger, no Estado cujo
PIB é o equivalente ao da França
(quinto economia do mundo), foram encarados pela mídia americana como uma advertência para
os políticos tradicionais.
O ator capitalizou: "Para que o
povo vença, a política tradicional
deve perder. Vou congregar republicanos, democratas e independentes -e aqueles que votaram a
favor do "recall" e contra ele".
O discurso do republicano reflete o que deverá ser uma de suas
principais dificuldades -o fato de
que os democratas controlam o
Legislativo na Califórnia e estão irritados com a derrubada de seu
correligionário Davis, que havia
sido reeleito 11 meses atrás.
Schwarzenegger contemporizou. "Recebi telefonemas do governador Gray Davis e do vice
Cruz Bustamante. Eles se mostraram dispostos a cooperar com a
transição." Bustamante, que permanecerá no cargo, provocou:
"Ele pode ficar quanto tempo quiser, mas vou manter os olhos bem
abertos. Vou vigiá-lo bem de perto", disse o vice, segundo mais votado na eleição.
Apoio feminino
A participação feminina foi decisiva para a vitória de Schwarzenegger. Mais de 40% das mulheres
votaram no republicano. O segundo colocado, Bustamante, ficou
com pouco mais de 35%.
O resultado surpreendeu, já que,
na reta final da campanha, 16 mulheres acusaram o ator de assédio
sexual. O escândalo, publicado em
reportagens do jornal "Los Angeles Times", levou a mulher do ator,
Maria Shriver, a sair em defesa do
marido.
"Em quem vocês preferem confiar -em mim, que conheço Arnold há mais 20 anos, ou em pessoas que passaram no máximo
cinco segundos com ele?".
O esforço de Shriver foi reconhecido pelo ator, que não negou ter
assediado mulheres em estúdios
de cinema. "Eu quero agradecer a
Maria pelo amor e pela força que
ela tem me dado. Eu sei que consegui muitos votos por causa dela".
Anteontem, 55% dos eleitores
votaram "sim" pela saída do governador Davis, enquanto 45%
votaram "não". Esse apoio popular a Schwarzenegger, dizem analistas, poderia ser o combustível
para uma candidatura do ator à
Presidência. Mas, por não ter nascido nos EUA -ele é austríaco naturalizado americano-, essa ambição terá de esperar por uma
emenda constitucional que permita a candidatura de imigrantes.
Próximo Texto: Frase Índice
|