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OPINIÃO
Imagens abjetas da morte de Bigley simbolizam aventura irresponsável
O jornal "Independent", do Reino Unido, publica na sua edição
de hoje o seguinte editorial sobre
o assassinato do refém britânico
Kenneth Bigley, no Iraque.
Será que as conseqüências do
desafortunado envolvimento britânico no Iraque podem se tornar
mais desastrosas, perturbadoras e
embaraçosas? O brutal assassinato do refém britânico Kenneth Bigley por seus captores oferece novas e repulsivas imagens para descrever os perigos aos quais todos
os ocidentais -e qualquer um
que auxilie a causa dos ocupantes
americanos e britânicos- estão
expostos no Iraque.
Tendo surgido logo após o relatório do Grupo de Pesquisa do
Iraque, que demonstrou que Saddam não dispunha do arsenal de
armas proibidas que forneceu ao
primeiro-ministro [Tony Blair]
uma justificativa para a guerra, o
caso demonstra uma vez mais até
que ponto a empreitada é irresponsável e mal planejada.
Também assegura que o dano
sofrido por Blair, o dano para seu
governo e o dano para a situação
política do país estejam longe de
encerrados. Surgirão perguntas
incômodas sobre Bigley, sobre a
segurança no Iraque e sobre o relatório do grupo de estudos quando o Parlamento abrir sua nova
sessão, na segunda-feira. Nossos
representantes não deveriam se
policiar. O país não recebeu as
respostas, muito menos o pedido
de desculpas, que merece.
A extensão dos danos causados
a Blair e seus ministros ficou clara
pela reação da audiência no programa "Question Time", da BBC,
na quinta-feira. Repetidas vezes,
Patricia Hewitt, porta-voz do governo, foi convocada a justificar a
decisão do governo de ir à guerra.
Perguntas inteligentes e persistentes deixaram claro que o público considera as desculpas parciais
oferecidas por Blair na conferência do Partido Trabalhista, atribuindo a decisão a informações
inadequadas, tão insultuosas
quanto insuficientes.
Cada vez mais frustrada, Hewitt, impotente, disse: "Peço desculpas em nome de todos os envolvidos na tomada de uma decisão incrivelmente difícil". Mas
suas palavras eram uma última
defesa, e foram pronunciadas
com pouca convicção e sem a autorização do primeiro-ministro.
Não só a credibilidade do governo foi solapada severamente pelo
Iraque. O tema dominante das
conferências partidárias recentes
foi a falta de confiança dos eleitores nos políticos após a guerra e as
maneiras pelas quais os políticos
poderiam reconquistá-la. Os líderes dos dois maiores partidos britânicos -Blair e o conservador
Michael Howard-, ambos favoráveis à guerra, procuraram solução na forma de ambições modestas e de promessas de boa-fé.
Howard assumiu o compromisso, caso venha a se tornar primeiro-ministro, de não fazer promessas que seria incapaz de cumprir.
A pesquisa de opinião pública encomendada pelo "Independent" e
publicada na edição de hoje indica que a maior parte dos eleitores,
e até mesmo a maioria dos membros do seu partido, duvida dele.
Tamanha desconfiança quanto
aos políticos indica um distanciamento que não favorece a democracia. Do entusiasmo das multidões que saudaram a aurora do
"New Labour" [novo trabalhismo], em 1997, ao desespero de
Kenneth Bigley implorando por
sua vida, a distância emocional é
imensa. Isso prova que este país
não foi liderado pelo caminho
certo nos últimos sete anos.
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