São Paulo, quinta-feira, 09 de outubro de 2008

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McCain tenta recuperar perdas por crise

Com novo plano, republicano contradiz seu histórico ao propor comprar e renegociar dívidas imobiliárias

ANDREA MURTA
DE NOVA YORK

O candidato republicano à Casa Branca, John McCain, se esforçou ontem para capitalizar apoio popular a seu plano recém-anunciado de gastar US$ 300 bilhões para comprar dívidas imobiliárias problemáticas, enviando e-mails a eleitores e reforçando o tema em comícios. A recepção fria na mídia e cética entre analistas, porém, indica que a iniciativa dificilmente reverterá a atual tendência de queda de McCain, confirmada em médias de pesquisas divulgadas ontem.
Em evento na Pensilvânia, McCain defendeu a proposta ontem dizendo que "o sonho de ter uma casa não pode ser esmagado sob o peso de dívidas imobiliárias ruins". Ele também afirmou, em e-mail enviado a eleitores, que seu plano "manteria famílias em suas casas, evitaria a retomada por bancos de imóveis em dívida, salvaria bairros, estabilizaria o mercado de imóveis e atacaria as raízes da crise econômica".
O republicano anunciou a idéia pela primeira vez no debate de anteontem com o rival democrata, Barack Obama.
A proposta mostra o quanto McCain recuou de suas posições iniciais: ainda na temporada de primárias, ele havia afirmado que não era papel do governo salvar indivíduos que haviam tomado decisões ruins. No Congresso, McCain tem histórico de desregulador e foi forte aversão a intervenções.
McCain informou o custo do plano -US$ 300 bilhões- em seu site de campanha. Mas deixou em aberto sua origem, dizendo que o dinheiro "pode vir" dos US$ 700 bilhões que o Congresso já autorizou o governo a gastar com títulos "podres" (inclusive dívidas imobiliárias).
"Soou como desespero", disse à Folha Justin Phillips, especialista em economia política da Universidade Columbia. Para ele, o plano de McCain tem dois objetivos: reforçar a imagem de "maverick" (ou independente), uma vez que a tática intervencionista contraria posições do Partido Republicano, e mostrar ao eleitorado que está apto a lidar com a crise.
"Não acho que a proposta, a esta altura, vai convencer alguém de que McCain é melhor na área econômica", afirma Phillips, já que, em pesquisas, eleitores afirmam crer que Obama é mais hábil no tema.
Gary Burtless, analista sênior para economia do Instituto Brookings, disse que o plano é vago e que aparentemente faria pouca diferença na crise econômica. "Não vejo como ele é diferente do plano que a Casa Branca já aprovou", afirma. "Mesmo que os US$ 300 bilhões sejam uma ajuda fora do pacote do governo, alcançariam uma parcela pequena dos proprietários com dificuldades." Além disso, diz Burtless, McCain não explicou o que faria exatamente com o dinheiro. "O montante é o preço total das dívidas que ele vai comprar ou é o prejuízo que o governo estaria disposto a assumir na hora de renegociar as dívidas imobiliárias com os proprietários?"

Crítica democrata
A campanha de Barack Obama foi rápida na resposta ao plano do adversário. Pouco após o anúncio, democratas afirmaram que a proposta já está abarcada no pacote do governo e que Obama sugeriu algo similar há duas semanas.
Ontem, porém, os democratas foram mais críticos. Jason Furman, conselheiro econômico de Obama, disse que o plano rival elevaria o risco de perdas caso o valor das propriedades não se recuperasse e acabaria resgatando instituições financeiras em vez de proprietários.
Em campanha em Indiana, o democrata voltou a relacionar as propostas de McCain às do presidente George W. Bush, a quem associa os problemas no país. No Estado, ele está 2,5 pontos percentuais atrás de McCain nas pesquisas, em um local que deu 21 pontos de vantagem a Bush em 2004.
Em outros Estados críticos, nova média de pesquisas calculada pela CNN dá liderança a Obama. Ele está à frente de McCain em Nevada (49% a 46%), Ohio (50% a 45%), Flórida (49% a 45%) e Pensilvânia (52% a 40%).
Nevada, Ohio e Flórida elegeram Bush em 2004, o que atesta os riscos que afligem a campanha de McCain neste ano.


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