|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
McCain tenta recuperar perdas por crise
Com novo plano, republicano contradiz seu histórico ao propor comprar e renegociar dívidas imobiliárias
ANDREA MURTA
DE NOVA YORK
O candidato republicano à
Casa Branca, John McCain, se
esforçou ontem para capitalizar apoio popular a seu plano
recém-anunciado de gastar
US$ 300 bilhões para comprar
dívidas imobiliárias problemáticas, enviando e-mails a eleitores e reforçando o tema em comícios. A recepção fria na mídia e cética entre analistas, porém, indica que a iniciativa dificilmente reverterá a atual tendência de queda de McCain,
confirmada em médias de pesquisas divulgadas ontem.
Em evento na Pensilvânia,
McCain defendeu a proposta
ontem dizendo que "o sonho de
ter uma casa não pode ser esmagado sob o peso de dívidas
imobiliárias ruins". Ele também afirmou, em e-mail enviado a eleitores, que seu plano
"manteria famílias em suas casas, evitaria a retomada por
bancos de imóveis em dívida,
salvaria bairros, estabilizaria o
mercado de imóveis e atacaria
as raízes da crise econômica".
O republicano anunciou a
idéia pela primeira vez no debate de anteontem com o rival
democrata, Barack Obama.
A proposta mostra o quanto
McCain recuou de suas posições iniciais: ainda na temporada de primárias, ele havia afirmado que não era papel do governo salvar indivíduos que haviam tomado decisões ruins.
No Congresso, McCain tem
histórico de desregulador e foi
forte aversão a intervenções.
McCain informou o custo do
plano -US$ 300 bilhões- em
seu site de campanha. Mas deixou em aberto sua origem, dizendo que o dinheiro "pode vir"
dos US$ 700 bilhões que o Congresso já autorizou o governo a
gastar com títulos "podres" (inclusive dívidas imobiliárias).
"Soou como desespero", disse à Folha Justin Phillips, especialista em economia política da Universidade Columbia.
Para ele, o plano de McCain
tem dois objetivos: reforçar a
imagem de "maverick" (ou independente), uma vez que a tática intervencionista contraria
posições do Partido Republicano, e mostrar ao eleitorado que
está apto a lidar com a crise.
"Não acho que a proposta, a
esta altura, vai convencer alguém de que McCain é melhor
na área econômica", afirma
Phillips, já que, em pesquisas,
eleitores afirmam crer que
Obama é mais hábil no tema.
Gary Burtless, analista sênior para economia do Instituto Brookings, disse que o plano
é vago e que aparentemente faria pouca diferença na crise
econômica. "Não vejo como ele
é diferente do plano que a Casa
Branca já aprovou", afirma.
"Mesmo que os US$ 300 bilhões sejam uma ajuda fora do
pacote do governo, alcançariam uma parcela pequena dos
proprietários com dificuldades." Além disso, diz Burtless,
McCain não explicou o que faria exatamente com o dinheiro.
"O montante é o preço total das
dívidas que ele vai comprar ou
é o prejuízo que o governo estaria disposto a assumir na hora
de renegociar as dívidas imobiliárias com os proprietários?"
Crítica democrata
A campanha de Barack Obama foi rápida na resposta ao
plano do adversário. Pouco
após o anúncio, democratas
afirmaram que a proposta já está abarcada no pacote do governo e que Obama sugeriu algo similar há duas semanas.
Ontem, porém, os democratas foram mais críticos. Jason
Furman, conselheiro econômico de Obama, disse que o plano
rival elevaria o risco de perdas
caso o valor das propriedades
não se recuperasse e acabaria
resgatando instituições financeiras em vez de proprietários.
Em campanha em Indiana, o
democrata voltou a relacionar
as propostas de McCain às do
presidente George W. Bush, a
quem associa os problemas no
país. No Estado, ele está 2,5
pontos percentuais atrás de
McCain nas pesquisas, em um
local que deu 21 pontos de vantagem a Bush em 2004.
Em outros Estados críticos,
nova média de pesquisas calculada pela CNN dá liderança a
Obama. Ele está à frente de
McCain em Nevada (49% a
46%), Ohio (50% a 45%), Flórida (49% a 45%) e Pensilvânia
(52% a 40%).
Nevada, Ohio e Flórida elegeram Bush em 2004, o que atesta os riscos que afligem a campanha de McCain neste ano.
Texto Anterior: Morales volta a pressionar petroleiras Próximo Texto: Família Maverick reclama de uso do nome por republicano Índice
|