São Paulo, domingo, 09 de novembro de 2008

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Proximidade do eleitor será trunfo no governo

DO ENVIADO ESPECIAL A CHICAGO

De que forma o envolvimento popular na candidatura de Barack Obama poderá seguir com ele para a Casa Branca?
Depois de uma campanha construída "de baixo para cima", como definem os especialistas em marketing político, o próximo presidente está cercado de esperança por um governo que represente seus anseios.
"Essa força popular, potencializada pelas novas tecnologias de comunicação, será um trunfo no governo de Obama", diz Barbara Kellerman, cientista política da Universidade Harvard.
Autora de livros sobre liderança, ela diz que Obama poderá contar com um exército de cidadãos dispostos a advogar por suas causas em outras instâncias de poder, como o Legislativo ou o empresariado. Por outro lado, encontrará nessa maré o desafio de atender a expectativas. Abaixo, trechos de sua entrevista à Folha. (DB)

 

FOLHA - A mobilização popular que Obama orquestrou na campanha influenciará seu governo?
BARBARA KELLERMAN -
Certamente. O poder de liderar está sendo substituído pelo poder de ter seguidores que motivem outros seguidores a trabalhar pelo líder. É claro que isso não é totalmente novo, mas ganha um novo sentido com as novas tecnologias de comunicação, sobretudo pelas redes sociais da internet, fundamentais para que Obama construísse a campanha de baixo para cima. Pela internet, seus simpatizantes foram contagiando outros rapidamente com a mensagem de Obama, conseguindo para ele votos e dinheiro.

FOLHA - Mas como isso terá paralelo no governo?
KELLERMAN -
Ninguém sabe, mas vou citar um exemplo hipotético: ele pode arregimentar pessoas para se mobilizarem sobre uma mudança de legislação e trazerem outros cidadãos para escreverem em massa a deputados e senadores e convencê-los a votar de acordo. Assim, pode conseguir apoio para suas propostas para a saúde pública, por exemplo, ou para a economia. E também pode ouvir o que as pessoas acham de cada questão, sentir a temperatura das opiniões populares.

FOLHA - Isso não é arriscado?
KELLERMAN -
Veja na campanha! Ele conseguiu sintonia com a vontade popular e ergueu sua candidatura. Se esses cidadãos trabalharam tanto na eleição, por que não trabalharão para o governo? Seria uma influência muito efetiva.

FOLHA - Mas a questão é: não é perigoso se comprometer a ouvir? Essa expectativa de acesso dos desejos populares no governo não oferece risco de frustração?
KELLERMAN -
Sem dúvida. Quando começar a governar, as pessoas que o apóiam esperarão espaço. É uma alegria que pode se reverter em frustração, em igual medida. Mas acho que até lá existe um período de lua-de-mel com o governante, que, no caso de Obama, poderá ser bem longo. Depois disso, não sabemos como vai acontecer. O importante é que as pessoas se sintam representadas.

FOLHA - A atuação de Obama na campanha é suficiente para considerá-lo um grande líder?
KELLERMAN -
É cedo para saber. A verdade é que ele tem pouca experiência de liderança executiva. Terá de lidar com o Congresso, que, mesmo tendo maioria democrata, oferecerá resistência em algum ponto.

FOLHA - O novo perfil de liderança que a sra. cita vale só para políticos?
KELLERMAN -
Não. O poder já mudou em todos os segmentos. Professores e médicos, por exemplo, hoje são submetidos a a essa nova realidade. Entram na internet e há mil opiniões sobre eles, eles são questionados a todo momento. O desafio para qualquer líder é como tirar proveito dessa exposição potencializada pela tecnologia, como tirou Obama.


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