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Proximidade do eleitor será trunfo no governo
DO ENVIADO ESPECIAL A CHICAGO
De que forma o envolvimento popular na candidatura de
Barack Obama poderá seguir
com ele para a Casa Branca?
Depois de uma campanha
construída "de baixo para cima", como definem os especialistas em marketing político, o
próximo presidente está cercado de esperança por um governo que represente seus anseios.
"Essa força popular, potencializada pelas novas tecnologias de
comunicação, será um trunfo
no governo de Obama", diz Barbara Kellerman, cientista política da Universidade Harvard.
Autora de livros sobre liderança, ela diz que Obama poderá contar com um exército de
cidadãos dispostos a advogar
por suas causas em outras instâncias de poder, como o Legislativo ou o empresariado. Por
outro lado, encontrará nessa
maré o desafio de atender a expectativas. Abaixo, trechos de
sua entrevista à Folha.
(DB)
FOLHA - A mobilização popular
que Obama orquestrou na campanha influenciará seu governo?
BARBARA KELLERMAN - Certamente. O poder de liderar está sendo substituído pelo poder de
ter seguidores que motivem
outros seguidores a trabalhar
pelo líder. É claro que isso não é
totalmente novo, mas ganha
um novo sentido com as novas
tecnologias de comunicação,
sobretudo pelas redes sociais
da internet, fundamentais para
que Obama construísse a campanha de baixo para cima. Pela
internet, seus simpatizantes
foram contagiando outros rapidamente com a mensagem de
Obama, conseguindo para ele
votos e dinheiro.
FOLHA - Mas como isso terá paralelo no governo?
KELLERMAN - Ninguém sabe,
mas vou citar um exemplo hipotético: ele pode arregimentar
pessoas para se mobilizarem
sobre uma mudança de legislação e trazerem outros cidadãos
para escreverem em massa a
deputados e senadores e convencê-los a votar de acordo. Assim, pode conseguir apoio para
suas propostas para a saúde pública, por exemplo, ou para a
economia. E também pode ouvir o que as pessoas acham de
cada questão, sentir a temperatura das opiniões populares.
FOLHA - Isso não é arriscado?
KELLERMAN - Veja na campanha!
Ele conseguiu sintonia com a
vontade popular e ergueu sua
candidatura. Se esses cidadãos
trabalharam tanto na eleição,
por que não trabalharão para o
governo? Seria uma influência
muito efetiva.
FOLHA - Mas a questão é: não é perigoso se comprometer a ouvir? Essa
expectativa de acesso dos desejos
populares no governo não oferece
risco de frustração?
KELLERMAN - Sem dúvida.
Quando começar a governar, as
pessoas que o apóiam esperarão espaço. É uma alegria que
pode se reverter em frustração,
em igual medida. Mas acho que
até lá existe um período de lua-de-mel com o governante, que,
no caso de Obama, poderá ser
bem longo. Depois disso, não
sabemos como vai acontecer. O
importante é que as pessoas se
sintam representadas.
FOLHA - A atuação de Obama na
campanha é suficiente para considerá-lo um grande líder?
KELLERMAN - É cedo para saber.
A verdade é que ele tem pouca
experiência de liderança executiva. Terá de lidar com o Congresso, que, mesmo tendo
maioria democrata, oferecerá
resistência em algum ponto.
FOLHA - O novo perfil de liderança
que a sra. cita vale só para políticos?
KELLERMAN - Não. O poder já
mudou em todos os segmentos.
Professores e médicos, por
exemplo, hoje são submetidos a
a essa nova realidade. Entram
na internet e há mil opiniões
sobre eles, eles são questionados a todo momento. O desafio
para qualquer líder é como tirar
proveito dessa exposição potencializada pela tecnologia,
como tirou Obama.
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