São Paulo, terça-feira, 09 de novembro de 2010

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ANÁLISE EUA-ÍNDIA

EUA miram a China, mas riscos são vários


Índia surge como aliada econômica e militar para servir como contrapeso à ameaça imposta pelos chineses

IGOR GIELOW
SECRETÁRIO DE REDAÇÃO DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O apoio cauteloso de Obama ao pleito indiano por um assento no Conselho de Segurança da ONU tem destinatário certo: a China, que emerge como grande rival de Washington neste século.
Asfixiados pela crise econômica, os EUA veem à frente uma Pequim com crescente poder de fogo comercial.
Como não parece estar em questão ir às vias de fato, território no qual os americanos seguirão incontestáveis por muito tempo, Obama olhou para a Índia.
Isso porque o país asiático atende tanto aos interesses econômicos mais imediatos quanto a objetivos estratégicos. No curto prazo, a ideia é colocar o pé americano no gigantesco mercado indiano, alimentando um pouco sua combalida economia -que valeu a Obama a derrota fragorosa no pleito parlamentar da semana passada.
No médio e no longo prazos, a Índia forte é aliada importante tanto economicamente como militarmente para servir de contrapeso aos chineses. É uma potência nuclear, ainda que nanica por enquanto, e com Forças Armadas em ampliação.
Há, contudo, complicações no movimento americano que vão além da reação dos chineses. A mais evidente chama-se Paquistão. O arquirrival da Índia, que já se sentia escanteado desde que os indianos foram elevados ao status de "parceiro nuclear estratégico" pelos EUA, terá problemas para digerir o anúncio de Obama.
O problema, além do fato nada trivial de que os paquistaneses também têm a bomba, é que o país é vital para as pretensões americanas de evitar que o terrorismo da Al Qaeda se espalhe e que o Taleban afinal vença a guerra afegã.
É na fronteira Paquistão-Afeganistão que a verdadeira guerra ao terror (seja qual for seu nome de ocasião) ocorre, e sem a ajuda paquistanesa o Ocidente pode esperar mais 11 de Setembros.
Sabendo disso, Obama indicou como pretende acalmar Islamabad ao falar sobre "ajudar" a solucionar o nó central da disputa com Nova Déli, a Caxemira. Se vai dar certo, é outra história.
Por fim, há o efeito que o apoio causará nos outros proponentes de um novo Conselho de Segurança -Brasil à frente, mas também com Alemanha, Japão, México e tantos outros países que enxergam na atual estrutura um anacronismo da Guerra Fria.
O balé entre Washington e as pressões que surgirão desta tomada de posição poderão ter seu primeiro ato na reunião do G20, em Seul, nesta semana.


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