Encontro de cardeais será realizado no Vaticano no dia 19 para tratar das acusações de pedofilia contra padres

Igreja Católica é alvo de série de denúncias neste ano; grupo de vítimas mostra ceticismo com a iniciativa e cobra ações

DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS

O papa Bento 16 convocou ontem cardeais do mundo todo para realizar um encontro fechado em Roma, no dia 19, a fim de discutir a reação da Igreja Católica aos escândalos de abuso sexual e pedofilia por parte de sacerdotes.
O Vaticano, na nota de convocação, qualificou o encontro de "dia de reflexão e oração", que vai ocorrer um dia antes da nomeação pelo papa de 24 novos cardeais.
O encontro convocado pelo Vaticano será conduzido pelo cardeal americano William Levada, nome próximo ao papa, que preside órgão encarregado de promover políticas contra a pedofilia.
Segundo o Vaticano, o encontro de cardeais tratará da "resposta da Igreja Católica aos casos de abuso sexual".
Desde o início deste ano, nova onda de acusações de abuso sexual envolvendo sacerdotes veio à tona, e importantes membros da hierarquia católica foram alvos de críticas devido à suposta lentidão e, em alguns dos casos, omissão ante as denúncias.
Após manifestações contidas de repúdio às acusações, o Vaticano foi gradualmente aumentando o tom contra os casos de abuso sexual, culminando com um pedido de "perdão" por parte do papa.
Em julho, a igreja anunciou endurecimento das normas para prevenir a ocorrência de abusos e, em setembro, em uma visita ao Reino Unido, Bento 16 condenou a "perversão" de integrantes da hierarquia católica e lamentou a falta de vigilância.
Em outras ocasiões, o sumo pontífice afirmou sentir vergonha pela ocorrência de abusos -na Irlanda-, qualificou a igreja de "pecadora ferida", pregou penitência e defendeu a busca pela "verdade" dos casos revelados.
A convocação do encontro dos cardeais foi, no entanto, recebida com ceticismo por grupos de vítimas de abusos, que cobram mais ação do Vaticano em relação aos casos.
"É tentador receber isso como um sinal positivo. Mas seria irresponsável. Só saberemos se é bom quando virmos ação resultando do encontro", afirmou a presidente do Snap (Rede de Sobreviventes de Abusados por Padres, em inglês), Barbara Blaine, de Chicago (EUA).
"Falar sobre abusos é fácil, preveni-los é difícil. E este papa, como o seu antecessor [João Paulo 2º], tem mostrado pouco comprometimento com ações reais", afirmou.

ANGLICANOS
O encontro convocado vai tratar ainda de "ameaças" à liberdade religiosa, relações com outras religiões e a conversão de bispos da Igreja Anglicana ao catolicismo.
Ontem, cinco bispos da igreja britânica anunciaram a decisão de converterem-se ao catolicismo devido à insatisfação quanto ao que consideram extrema abertura da sua igreja na aceitação de homossexuais e na ordenação de mulheres como bispos.


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