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Governo argentino pressiona Justiça e aumenta crise
Casa Rosada coloca polícia atrás de juíza e sinaliza mudança na lei para poder destituir o presidente do BC sem consulta ao Senado
SILVANA ARANTES
DE BUENOS AIRES
A juíza argentina María José
Sarmiento afirmou ontem estar "sofrendo pressões" do governo, depois de haver restituído ao seu cargo, na última sexta-feira, o presidente do Banco
Central, Martín Redrado.
A pedido de Redrado, Sarmiento anulou o decreto com
que a presidente do país, Cristina Kirchner, o exonerara.
A juíza disse que uma patrulha policial estacionou em frente à sua casa. "Ter um carro da
polícia à sua porta, sem ter pedido escolta, simula pressão",
disse ao canal de TV Todo Noticias, do Grupo Clarín.
Avessa a contatos com a imprensa, Sarmiento disse que tomava pela primeira vez a iniciativa de dar entrevista porque,
mesmo ante "uma grave crise
institucional, esse é um procedimento incompreensível".
O chefe de gabinete de Cristina, Aníbal Fernández, admitiu
que a Casa Rosada acionara a
Polícia Federal para localizar
Sarmiento, quando viu frustradas suas tentativas de recorrer
da decisão dela, na sexta.
Fernández ironizou: "Essa
novela deveria se chamar "Procura-se juíza em férias'". À noite, ele anunciou que o governo
já havia entrado com recurso
na Câmara de Apelações para
reverter a decisão da juíza.
Sarmiento negou ter ficado
incomunicável após deferir o
pedido de Redrado e disse que o
governo teria que esperar até
segunda para apelar. É dela
também a sentença que anulou
decreto anterior de Cristina -
origem da disputa com Redrado. A presidente determinou
criar um fundo de US$ 6,5 bilhões com reservas do BC para
pagar a dívida pública em 2010.
Redrado resistiu a cumprir a
medida. Cristina pediu sua renúncia. Ele negou. Na Argentina, o Executivo deve ouvir comissão do Senado para mexer
no BC. Cristina ignorou a exigência e baixou "decreto de necessidade e urgência" afastando Redrado por "má-conduta e
descumprimento de deveres".
Depois de retomar o cargo,
Redrado afirmou que, "pelo
bem das instituições do país",
pretende cumprir todo o seu
mandato -até setembro. "Não
me deram direito de defesa.
Quero que a lei se cumpra."
A Casa Rosada sinalizou ontem que tentará mudar a lei que
exige consulta ao Senado para a
remoção da diretoria do BC.
Se o governo conseguir derrubar a decisão judicial favorável a Redrado, ele poderá levar
a questão à Suprema Corte.
Conspiração
O deputado e ex-presidente
Néstor Kirchner, marido de
Cristina, atribuiu a crise a uma
conspiração do vice, Julio Cobos, com o Grupo Clarín.
A Casa Rosada está em atrito
com o Grupo Clarín desde meados de 2008, quando sua cobertura do conflito com o agronegócio incomodou Cristina. Cobos teve papel crucial ao abortar o projeto para elevar impostos agrários -razão da disputa.
"O responsável pela conspiração é [Héctor] Magnetto
[CEO do Grupo Clarín]. O Grupo Clarín quer seguir governando a Argentina, como sempre fez. Os argentinos tomarão
consciência de que Magnetto
usa a estrutura midiática para
se beneficiar e causar enorme
dano ao país", disse Kirchner.
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