São Paulo, domingo, 10 de janeiro de 2010

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Governo argentino pressiona Justiça e aumenta crise

Casa Rosada coloca polícia atrás de juíza e sinaliza mudança na lei para poder destituir o presidente do BC sem consulta ao Senado

SILVANA ARANTES
DE BUENOS AIRES

A juíza argentina María José Sarmiento afirmou ontem estar "sofrendo pressões" do governo, depois de haver restituído ao seu cargo, na última sexta-feira, o presidente do Banco Central, Martín Redrado.
A pedido de Redrado, Sarmiento anulou o decreto com que a presidente do país, Cristina Kirchner, o exonerara.
A juíza disse que uma patrulha policial estacionou em frente à sua casa. "Ter um carro da polícia à sua porta, sem ter pedido escolta, simula pressão", disse ao canal de TV Todo Noticias, do Grupo Clarín.
Avessa a contatos com a imprensa, Sarmiento disse que tomava pela primeira vez a iniciativa de dar entrevista porque, mesmo ante "uma grave crise institucional, esse é um procedimento incompreensível".
O chefe de gabinete de Cristina, Aníbal Fernández, admitiu que a Casa Rosada acionara a Polícia Federal para localizar Sarmiento, quando viu frustradas suas tentativas de recorrer da decisão dela, na sexta.
Fernández ironizou: "Essa novela deveria se chamar "Procura-se juíza em férias'". À noite, ele anunciou que o governo já havia entrado com recurso na Câmara de Apelações para reverter a decisão da juíza.
Sarmiento negou ter ficado incomunicável após deferir o pedido de Redrado e disse que o governo teria que esperar até segunda para apelar. É dela também a sentença que anulou decreto anterior de Cristina - origem da disputa com Redrado. A presidente determinou criar um fundo de US$ 6,5 bilhões com reservas do BC para pagar a dívida pública em 2010.
Redrado resistiu a cumprir a medida. Cristina pediu sua renúncia. Ele negou. Na Argentina, o Executivo deve ouvir comissão do Senado para mexer no BC. Cristina ignorou a exigência e baixou "decreto de necessidade e urgência" afastando Redrado por "má-conduta e descumprimento de deveres".
Depois de retomar o cargo, Redrado afirmou que, "pelo bem das instituições do país", pretende cumprir todo o seu mandato -até setembro. "Não me deram direito de defesa. Quero que a lei se cumpra."
A Casa Rosada sinalizou ontem que tentará mudar a lei que exige consulta ao Senado para a remoção da diretoria do BC.
Se o governo conseguir derrubar a decisão judicial favorável a Redrado, ele poderá levar a questão à Suprema Corte.

Conspiração
O deputado e ex-presidente Néstor Kirchner, marido de Cristina, atribuiu a crise a uma conspiração do vice, Julio Cobos, com o Grupo Clarín.
A Casa Rosada está em atrito com o Grupo Clarín desde meados de 2008, quando sua cobertura do conflito com o agronegócio incomodou Cristina. Cobos teve papel crucial ao abortar o projeto para elevar impostos agrários -razão da disputa.
"O responsável pela conspiração é [Héctor] Magnetto [CEO do Grupo Clarín]. O Grupo Clarín quer seguir governando a Argentina, como sempre fez. Os argentinos tomarão consciência de que Magnetto usa a estrutura midiática para se beneficiar e causar enorme dano ao país", disse Kirchner.


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