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Possíveis sanções são obstáculo à visita de Lula a Teerã em maio
CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA
A evolução da crise entre o
Irã e as grandes potências ocidentais complica enormemente a visita que o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva já agendou
para maio a Teerã. Complicará
mais ainda se forem adotadas
novas sanções contra o Irã, como cobram 4 dos 6 países que
negociam a questão nuclear
com o Irã (EUA, França, Reino
Unido e Alemanha; as dúvidas
são a Rússia, que já acenou com
a aceitação de novas punições,
e a China que, como o Brasil,
não acredita que sanções sejam
o melhor caminho).
Nesse caso, o Brasil, conforme a Folha apurou, acatará as
punições, por terem sido adotadas no âmbito adequado, o
Conselho de Segurança das Nações Unidas, de que o Brasil é
hoje membro, embora não permanente e, por isso mesmo,
sem direito a veto.
O chanceler iraniano Manoucher Mottaki já foi avisado
pelo governo brasileiro de que
o país será obrigado a acatar a
decisão do CS da ONU, mesmo
entendendo que sanções não
são o melhor caminho para resolver a crise. O Brasil defende
o diálogo, e seus diplomatas
têm conversado com todas as
partes envolvidas, aproveitando ser "de confiança" dos dois
lados, pelo menos na visão do
chanceler Celso Amorim.
Confiança, aliás, é a palavra-chave, na visão da diplomacia
brasileira, para encaminhar a
questão nuclear. É tamanha a
desconfiança hoje que os iranianos argumentavam que
uma das razões para não aceitar enviar seu urânio pobremente enriquecido para a Rússia e a França, que o devolveriam enriquecido ao nível necessário para usos medicinais,
era o temor de não recebê-lo de
volta.
Temem, portanto, o roubo
puro e simples de seu material
nuclear, o que seria insólito.
Mas é possível que a confiança do Brasil na palavra das autoridades iranianas também
tenha sido afetada pelo anúncio de que o Irã decidiu enriquecer ele próprio o seu urânio
até os 20%. Acontece que, faz
apenas 15 dias, o chanceler
Mottaki havia apresentado a
Celso Amorim "novas ideias" a
propósito do envio de urânio.
Nem Amorim nem Mottaki
entraram em detalhes naquele
momento mas, posteriormente, a Folha apurou que as "novas ideias" giravam em torno
de "tempos e quantidades".
Tempos significa o prazo que o
Irã consideraria aceitável para
receber de volta o urânio já
enriquecido. Quantidade é, obviamente, o volume a ser enviado para o exterior.
Uma primeira proposta iraniana, depois retirada, falava
em dois terços da produção iraniana de urânio pobremente
enriquecido, durante um ano.
Depois, falou-se em envios fracionados, à base de 400 quilos
cada remessa.
A Folha não conseguiu saber
que tempos e que quantidades
Mottaki mencionou a Amorim,
se é que desceu a tais detalhes.
Mas é evidente que a decisão
de enriquecer o urânio no próprio país joga no lixo as "novas
ideias" apresentadas pelo
chanceler iraniano a seu colega
brasileiro, o que, em tese, é
uma demonstração de que o
Brasil tampouco é muito confiável aos olhos do Irã.
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