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ARGENTINA
Candidato da oposição à Presidência defende mudar política de apoio automático a Washington praticada por Menem
De la Rúa rejeita alinhamento com EUA
AUGUSTO GAZIR
da Sucursal de Brasília
O prefeito de Buenos Aires, Fernando de la Rúa, 60, lidera há quase um ano as pesquisas para as eleições presidenciais na Argentina,
marcadas para outubro próximo.
Em visita de dois dias ao Brasil,
De la Rúa veio não só fazer diplomacia, mas frisar reivindicações
sobre o Mercosul e a crise econômica no Brasil, que está afetando a
Argentina.
De la Rúa esteve ontem com o
presidente Fernando Henrique
Cardoso, no Palácio do Planalto.
Antes, no Congresso, se reuniu
com Antonio Carlos Magalhães
(PFL-BA), presidente do Senado.
Ele evitou falar sobre política argentina, mas não deixou de atacar
a iniciativa do presidente Carlos
Menem de ressuscitar a idéia de
concorrer a um terceiro mandato,
o que é proibido pela Constituição.
"Isso discutimos em Buenos Aires. No Brasil, só posso dizer que
somos contra", afirmou.
Em novembro último, o prefeito,
integrante da UCR (União Cívica
Radical), venceu na prévia eleitoral da Aliança (bloco opositor ao
peronismo de Menem, de centro-esquerda) a deputada Graciela
Fernández Meijide, da Frepaso
(Frente País Solidário).
Em entrevista à Folha, De la Rúa
criticou o alinhamento automático
do governo Menem com os EUA,
falou sobre as propostas da chamada Terceira Via e detalhou suas
idéias sobre o Mercosul. A seguir
os principais trechos da entrevista:
Folha - O governo Menem vem
mantendo um alinhamento chamado até de automático com os
EUA. Essa política é correta?
De la Rúa - Não deve haver políticas de alinhamentos automáticos,
do mesmo jeito que não concordo
com desalinhamentos automáticos. Queremos uma relação madura, construtiva e séria com os EUA,
com diferenças ao que tem sido
adotado pelo atual governo.
Folha - O que pensa das propostas da chamada Terceira Via, defendidas pelo primeiro-ministro
Tony Blair (Reino Unido), que têm
o apoio também do presidente
brasileiro?
De la Rúa - Antes de conhecer a
definição de Terceira Via, já falávamos na Argentina do novo caminho, que defende compatibilizar o desenvolvimento econômico
com o social. Há semelhanças com
a Terceira Via, mas cada país dá o
seu próprio conteúdo.
Folha - Hoje, no Brasil, há críticas
sobre uma eventual submissão do
país ao FMI. A Argentina tem acordo mais antigo com o órgão. Qual
a sua opinião?
De la Rúa - O FMI, atualmente, é
um qualificador de risco dos países, ao mesmo tempo que provê
fundos em caso de necessidade.
Não há situação de dependência.
Pretendo manter o acordo. Mercados internos sólidos são a melhor
defesa contra a volatilidade dos capitais.
Folha - A Aliança lançou um programa de governo em que defende a convertibilidade e outras iniciativas do governo Menem. Quais
as diferenças entre as propostas
peronista e da oposição?
Fernando de la Rúa - Nós defendemos a estabilidade e, para isso,
vamos manter a convertibilidade
(paridade do peso em relação ao
dólar). A partir daí, temos de mudar quase tudo em nosso país. Respeitaremos a legalidade jurídica e
vamos dar ênfase não aos grandes
grupos econômicos, mas às pequenas e médias empresas. O objetivo
principal é a criação de empregos,
o desenvolvimento das economias
regionais e das políticas sociais.
Folha - O programa da Aliança
defende a criação de organismos
supranacionais para o Mercosul.
Como seria isso?
De la Rúa - O objetivo principal
de nossa política exterior é o fortalecimento do Mercosul. Queremos
avançar em um maior processo de
institucionalização. O bloco necessita disso.
Folha- Poderia dar exemplos?
De la Rúa - Conversei com o presidente do Supremo Tribunal Federal (Celso de Mello) sobre a importância da criação, por exemplo,
de um tribunal permanente de solução de controvérsias, que caminhe gradualmente para um Judiciário do Mercosul. Isso daria mais
segurança aos países e aos protagonistas do intercâmbio comercial.
Folha - A moeda única estaria
dentro desse espírito?
De la Rúa - Sim, mas, para alcançá-la, precisamos ainda caminhar
muito, avançar mais na institucionalização. Não concordamos com
a dolarização proposta pelo presidente Menem.
Folha - O sr. concorda que a Argentina sofre da chamada "Brasil-dependência"?
De la Rúa - A crise atual no Brasil
não causou essa instabilidade...
Folha - Mas já há estimativas de
um crescimento negativo também
na Argentina.
De la Rúa - Não é só a crise no
Brasil que influi nisso, os prognósticos vêm de antes. Essa crise afeta,
sim, vários setores produtivos.
Queremos proteger o trabalho. Por
intermédio da compreensão e de
políticas conjuntas com o Brasil,
queremos atenuar os efeitos negativos. Mesmo depois do acerto dos
presidentes Menem e Cardoso, podemos conseguir mais com reuniões dos setores envolvidos. É necessário um acompanhamento
permanente (da crise) para que
não haja efeitos injustos.
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