São Paulo, Quarta-feira, 10 de Março de 1999
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ESPIONAGEM NUCLEAR
Cientista de origem chinesa, que trabalhava em projetos militares secretos, é demitido; China nega acusação
EUA já têm suspeito de espionar para China

MARCELO DIEGO
de Nova York

O governo dos EUA demitiu o cientista Wen Ho Lee (chinês, naturalizado norte-americano) sob a suspeita de ter passado informações secretas sobre armamento nuclear à China.
Lee trabalhava como cientista da computação no Laboratório Federal de Los Alamos, no Novo México (sul do país). O local é responsável por desenvolver projetos de armamentos militares.
Ele é a primeira vítima do chamado "escândalo nuclear". Desde o ano passado, um comitê especial da Câmara dos Representantes (deputados) vinha fazendo uma análise sobre as relações entre EUA e China.
O relatório apontou evidências de que os chineses estariam roubando segredos militares norte-americanos desde os anos 80. Na década passada, segundo o governo de Washington, a China desenvolveu sua primeira bomba nuclear, com tecnologia de fabricação semelhante à norte-americana. Agora, estaria trabalhando num projeto idêntico ao do W-88, a mais avançada bomba em miniatura já desenvolvida pelo país.
Segundo o relatório, a quantidade e a qualidade de informação disponível na China são incompatíveis com o progresso do país na área nuclear.
Ao ler o documento, o presidente Bill Clinton pediu abertura de investigações. Paralelamente, a CIA (serviço de inteligência dos EUA) e o FBI já investigavam a possibilidade de espionagem.
Eles tinham o nome de Lee porque ele mandava mensalmente correspondências para Pequim.
Os agentes, dizendo ser um procedimento de rotina, fizeram um requerimento para que ele prestasse depoimento em 1997. Ele foi rejeitado no teste de detector de mentira, quando negou ser espião (o teste não tem valor judicial).
Foi decidido que, dali em diante, Lee seria vigiado pelo FBI.
A denúncia da Câmara precipitou os fatos e o FBI voltou a procurar Lee na sexta-feira, que se negou a cooperar. Ele foi demitido anteontem, mas não foi acusado de nenhum crime, pois as autoridades não tinham provas contra ele. Mas o FBI continuará trabalhando no caso.
Lee desligou o aparelho telefônico e desapareceu de sua casa. Vizinhos não sabem para onde ele foi.
O cientista não saiu do país, segundo as autoridades. Ele é casado com uma norte-americana, Sylvia. A mulher de Lee foi convidada, em 98, para dar uma palestra na China, a convite do governo chinês. O marido a acompanhou.
Segundo o secretário de Energia, Bill Richardson, os EUA têm certeza de que informações militares secretas foram roubadas e passadas para a China.
O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Zhu Bangzao, voltou a negar, como fizera duas vezes antes, que o país espionou ou esteja espionando os EUA e roubando informações. "Tudo não passa de rumores fabricados pela mídia", afirmou.

Dissidente preso
No último dia 2, o escritor chinês Wang Lixiong foi preso pela polícia de Pequim acusado de divulgar "segredos de Estado". A informação foi revelada ontem.


Com agências internacionais

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