São Paulo, sábado, 10 de abril de 2004

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Seqüestros põem países aliados em situação difícil

DA REDAÇÃO

O seqüestro anteontem de três japoneses no Iraque jogou o primeiro-ministro Junichiro Koizumi na pior crise dos três anos de seu governo. Parentes dos civis aprisionados e milhares de manifestantes pediram ontem que Koizumi ceda às exigências dos seqüestradores. No Iraque foi anunciado o seqüestro de mais quatro italianos e dois americanos.
"Nós não podemos nos curvar diante das ameaças covardes de terroristas. Não conhecemos esse grupo [as Brigadas Mujahideen, que reivindicaram o seqüestro]. O que precisamos fazer agora é conseguir informações precisas e trazê-los para casa em segurança", disse Koizumi, que prometeu não retirar as tropas japonesas.
Um assessor de Moqtada al Sadr negou que o seqüestro tenha sido realizado por milicianos ligados ao clérigo radical líder do levante xiita: "Condenamos tais atos e rezamos pela libertação".
Para soltar os três cativos (um cinegrafista free-lancer e uma mulher e um homem que trabalham em agências humanitárias), os seqüestradores exigem que o Japão retire suas tropas do Iraque. Caso contrário, os reféns serão queimados vivos. O prazo dado pelos iraquianos termina na manhã de amanhã.
O governo de Koizumi concordou em enviar ao Iraque 1.100 militares para trabalhar em tarefas relacionadas à reconstrução do país -até o momento, apenas a metade desse contingente entrou em operação. Críticos da decisão afirmam que ela, por mandar soldados a uma zona de guerra, infringe a Constituição japonesa adotada após a derrota do país na Segunda Guerra Mundial.
Líderes da oposição disseram apoiar a decisão de não ceder aos seqüestradores, mas atacaram Koizumi. "Nós antevimos problemas como esse quando o governo decidiu mandar as tropas. O premiê tem uma séria responsabilidade pela criação dessa situação", disse Katsuya Okada, secretário-geral do Partido Democrático.
O envolvimento no Iraque poderá custar ao PLD (Partido Liberal Democrático) o governo do Japão. O envio das tropas não conta com grande aprovação da população e em julho acontecem eleições parlamentares.
O presidente dos EUA, George W. Bush, teve uma reunião por videoconferência com seus principais assessores de segurança para discutir o Iraque. Também conversou por telefone com o premiê italiano, Silvio Berlusconi, e os presidentes Aleksander Kwasniewski (Polônia) e Francisco Flores (El Salvador). Segundo um porta-voz, "todos reafirmaram o compromisso comum de ajudar o povo iraquiano a concretizar um futuro livre e democrático".
O vice-presidente americano, Dick Cheney, chega hoje ao Japão. Ele se encontrará com Koizumi na segunda-feira e também irá à Coréia do Sul. Segundo assessores, Cheney procurará convencer os aliados a manter seu apoio.
A Coréia do Sul já disse que não recuará, mas proibiu viagens de civis ao Iraque -anteontem, oito sul-coreanos foram seqüestrados e soltos no mesmo dia.
Austrália, Bulgária, Filipinas, Azerbaijão, Geórgia e Holanda descartaram abandonar a coalizão. A Tailândia deixou aberta a possibilidade de retirar seus soldados. A Rússia pediu o "fim das atividades militares".

Novos reféns
Insurgentes iraquianos anunciaram o seqüestro de quatro italianos e dois americanos a oeste de Bagdá. O governo italiano, depois de consultar organizações da imprensa e de ajuda humanitária, informou desconhecer o desaparecimento de compatriotas. A imprensa italiana especula que possam ser ex-militares que estejam trabalhando incógnitos para empresas privadas de segurança.
Além dos japoneses e sul-coreanos, também foram seqüestrados anteontem dois palestinos e um canadense. O presidente da Autoridade Nacional Palestina, Iasser Arafat, instruiu sua embaixada em Bagdá a "estabelecer contato com diversas facções iraquianas para resolver o problema".


Com agências internacionais


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