São Paulo, sábado, 10 de abril de 2004

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ELEIÇÃO NOS EUA

Após evitarem críticas, em especial após o 11 de Setembro, artistas e produtores de Hollywood atacam presidente

Séries de TV cada vez mais criticam Bush

JIM RUTENBERG
DO "NEW YORK TIMES", EM HOLLYWOOD

Nas últimas semanas, personagens de programas de TV exibidos em horário nobre nos EUA foram além das piadas mais comuns sobre políticos de Washington para criticar abertamente o presidente George W. Bush.
No show "Whoopi", da NBC, a dona de hotel personificada pela comediante Whoopi Goldberg reagiu ao ver Bush, interpretado por um sósia, surgir em seu estabelecimento pedindo para usar o banheiro. "Não acredito que ele fará no meu banheiro o que fez com a economia", disse.
Um dos detetives de "Law & Order" (lei e ordem), também da NBC, se referiu ao presidente como "o cara que mentiu para nós".
Já no último programa da série "Curb Your Enthusiasm" (modere seu entusiasmo), da HBO, o personagem principal, interpretado por Larry David, desistiu, na última hora, de uma excitante aventura extraconjugal ao descobrir que sua nova conquista exibia, em local de destaque em seu quarto, uma foto de Bush.
Executivos e produtores de TV dizem que esses são casos isolados, que refletem o debate político no país, mas que não há uma "agenda liberal" (no sentido de mais à esquerda) deliberada na indústria de entretenimento.
Nem todos pensam assim. "Acho importante dizer às pessoas: "Esperem um minuto, esse homem está liderando nosso país como um americano ou como um cristão?'", afirma Goldberg, também produtora e roteirista de "Whoopi".
Ao ser questionada se ficaria feliz caso o seu programa contribuísse para o fracasso da candidatura à reeleição de Bush em novembro, sua resposta é: "Gostaria que isso acontecesse". Completa, no entanto, dizendo que toma cuidado para também apresentar outras visões sobre o presidente.
Essa onda de críticas na TV chama a atenção porque, após os atentados do 11 de Setembro, muitos nomes famosos reconhecidamente anti-republicanos de Hollywood apoiaram Bush. Mas esse tempo ficou para trás.
"Por que seria antipatriótico fazer algo que é nosso direito inerente, justamente o de debater questões importantes?", diz Tom Fontana, criador de "Oz" e "Homicídio". Ele acaba de produzir um programa, ainda não exibido, que relata duas experiências paralelas: uma mulher americana detida para interrogatório na China e um homem muçulmano preso sob suspeita de envolvimento com o terrorismo nos EUA.
A Guerra do Iraque -principalmente o fato de os EUA não terem encontrado armas de destruição em massa no país-, as dificuldades econômicas e as políticas social e de ambiente de Bush parecem ter estimulado setores mais liberais da indústria de entretenimento a agir.
"Nunca vi a comunidade tão unida", diz Laurie David, mulher do comediante Larry David, que lidera uma campanha contra a reeleição de Bush. "Não passa um dia sem que eu receba uns 12 telefonemas de pessoas perguntando: "O que posso fazer [para tirá-lo da Casa Branca]?'".
E isso, muitas vezes, se traduz em dinheiro. Artistas ou executivos de Hollywood estão entre os financiadores de comerciais de TV exibidos recentemente com críticas contundentes ao presidente e a seu governo.
O virtual candidato democrata John Kerry arrecadou US$ 2,5 milhões num evento para coleta de fundos em Beverly Hills recentemente.
Mathew Dowd, estrategista da campanha de Bush, disse que não tem planos para tentar combater esse tipo de críticas. "Temos consciência de que qualquer pequena informação transmitida pelos meios de comunicação tem algum efeito. Mas acho que não seja algo contra o qual temos de nos contrapor", afirmou.


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