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ELEIÇÃO NOS EUA
Após evitarem críticas, em especial após o 11 de Setembro, artistas e produtores de Hollywood atacam presidente
Séries de TV cada vez mais criticam Bush
JIM RUTENBERG
DO "NEW YORK TIMES", EM HOLLYWOOD
Nas últimas semanas, personagens de programas de TV exibidos em horário nobre nos EUA
foram além das piadas mais comuns sobre políticos de Washington para criticar abertamente
o presidente George W. Bush.
No show "Whoopi", da NBC, a
dona de hotel personificada pela
comediante Whoopi Goldberg
reagiu ao ver Bush, interpretado
por um sósia, surgir em seu estabelecimento pedindo para usar o
banheiro. "Não acredito que ele
fará no meu banheiro o que fez
com a economia", disse.
Um dos detetives de "Law &
Order" (lei e ordem), também da
NBC, se referiu ao presidente como "o cara que mentiu para nós".
Já no último programa da série
"Curb Your Enthusiasm" (modere seu entusiasmo), da HBO, o
personagem principal, interpretado por Larry David, desistiu, na
última hora, de uma excitante
aventura extraconjugal ao descobrir que sua nova conquista exibia, em local de destaque em seu
quarto, uma foto de Bush.
Executivos e produtores de TV
dizem que esses são casos isolados, que refletem o debate político no país, mas que não há uma
"agenda liberal" (no sentido de
mais à esquerda) deliberada na
indústria de entretenimento.
Nem todos pensam assim.
"Acho importante dizer às pessoas: "Esperem um minuto, esse
homem está liderando nosso país
como um americano ou como um
cristão?'", afirma Goldberg, também produtora e roteirista de
"Whoopi".
Ao ser questionada se ficaria feliz caso o seu programa contribuísse para o fracasso da candidatura à reeleição de Bush em novembro, sua resposta é: "Gostaria
que isso acontecesse". Completa,
no entanto, dizendo que toma
cuidado para também apresentar
outras visões sobre o presidente.
Essa onda de críticas na TV chama a atenção porque, após os
atentados do 11 de Setembro,
muitos nomes famosos reconhecidamente anti-republicanos de
Hollywood apoiaram Bush. Mas
esse tempo ficou para trás.
"Por que seria antipatriótico fazer algo que é nosso direito inerente, justamente o de debater
questões importantes?", diz Tom
Fontana, criador de "Oz" e "Homicídio". Ele acaba de produzir
um programa, ainda não exibido,
que relata duas experiências paralelas: uma mulher americana detida para interrogatório na China e
um homem muçulmano preso
sob suspeita de envolvimento
com o terrorismo nos EUA.
A Guerra do Iraque -principalmente o fato de os EUA não terem encontrado armas de destruição em massa no país-, as
dificuldades econômicas e as políticas social e de ambiente de Bush
parecem ter estimulado setores
mais liberais da indústria de entretenimento a agir.
"Nunca vi a comunidade tão
unida", diz Laurie David, mulher
do comediante Larry David, que
lidera uma campanha contra a
reeleição de Bush. "Não passa um
dia sem que eu receba uns 12 telefonemas de pessoas perguntando:
"O que posso fazer [para tirá-lo da
Casa Branca]?'".
E isso, muitas vezes, se traduz
em dinheiro. Artistas ou executivos de Hollywood estão entre os
financiadores de comerciais de
TV exibidos recentemente com
críticas contundentes ao presidente e a seu governo.
O virtual candidato democrata
John Kerry arrecadou US$ 2,5 milhões num evento para coleta de
fundos em Beverly Hills recentemente.
Mathew Dowd, estrategista da
campanha de Bush, disse que não
tem planos para tentar combater
esse tipo de críticas. "Temos consciência de que qualquer pequena
informação transmitida pelos
meios de comunicação tem algum efeito. Mas acho que não seja
algo contra o qual temos de nos
contrapor", afirmou.
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