|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Italiano Francesco Marchisano, encarregado da segunda missa dos novendiais, relatou experiências pessoais com João Paulo 2º
Cardeal reza por papa como Wojtyla
DO ENVIADO ESPECIAL A ROMA
Se os vaticanistas estão certos e
as pistas para definir o perfil do
novo papa surgem principalmente das homilias nas missas fúnebres até o conclave, o primeiro indício diz muito pouco, na medida
em que pede, muito previsivelmente, um pontífice igualzinho a
João Paulo 2º.
O arcipreste da Basílica de São
Pedro, Francesco Marchisano,
encarregado da segunda das nove
missas solenes que formam o
"novendiali" (nove dias, em latim), duração do luto, usou praticamente todo o tempo de seu sermão para relatar experiências
"pessoais, muito pessoais" com
João Paulo 2º.
Compreensível: Marchisano e
Karol Wojtyla tiveram um primeiro encontro em 1962, há 43
anos, portanto, e daí em diante,
voltaram a se reunir com notável
freqüência.
Por isso, o cardeal terminou a
homilia, orando para que seja escolhido "outro papa que siga esta
estrada [a do papa morto]". Completou: "Que assim seja".
A catedral, lotada de fiéis, mas
principalmente de turistas, mal
respondeu "amém", talvez porque boa parte não entendia italiano.
Que estrada trilhou João Paulo
2º, na visão de seu amigo Marchisano? "A de uma infinita humanidade" e a de uma "caminhada
conjunta".
Difícil extrair dessas características uma indicação de quem deve
ser o próximo papa. Supõe-se que
nenhum cardeal seja desumano e
que nenhum deles pretenda caminhar sozinho.
Mais difícil ainda é encontrar alguém que tenha o humor de João
Paulo 2º, capaz de ironizar a si
próprio de uma maneira que parece absolutamente contrária à
solenidade que cerca sempre um
papa.
Marchisano contou dois episódios muito ilustrativos:
1 - Uma vez, o papa reclamou
com ele que não ouvira uma determinada pregação. Marchisano
teve que concordar que, de fato,
não a ouvira. "Não perdeu nada",
devolveu João Paulo 2º.
2 - Marchisano, convidado pelo
papa para uma alta função na Cúria, recém-criada (a da Cultura),
disse que não estava preparado
para ela. João Paulo 2º respondeu:
"Eu também não me preparei para papa e eis-me aqui".
Dom Eugênio
O cardeal havia dado uma entrevista ao jornal "La Repubblica", na qual antecipara que falaria
da "profunda humanidade" do
papa, como de fato o fez, mas
acrescentou que enfatizaria também "o seu amor por Cristo e pelo
homem, especialmente por aqueles que mais necessidades têm e
sofrem mais privações".
Parecia uma menção, ainda que
ligeira, ao desejo de ter um novo
papa que ponha ênfase em uma
Igreja mais voltada para o social.
Não foi assim, a não ser ainda
mais tangencialmente: Marchisano de fato enfatizou a humanidade do papa para com os que sofrem, mas usando seu próprio caso. Karol Wojtyla visitou-o, depois de uma operação que deixara
Marchisano sem poder usar as
cordas vocais.
"Acariciou o local da operação e
me disse ao ouvido que o Senhor
me devolveria a voz", relatou na
homilia, para assinalar o carinho
do papa com os que sofrem.
Os "novendiali" estabelecem
uma missa por dia, até terminar o
luto, sempre as 17h (12h em Brasília), na Basílica de São Paulo. A
primeira foi a do enterro do papa,
na sexta-feira.
A de quarta-feira será rezada
por um cardeal brasileiro, dom
Eugênio Salles, ex-arcebispo do
Rio de Janeiro, hoje protopresbítero do Colégio cardinalício.
Dom Eugênio, sempre tido no
Brasil como o líder da ala dita
conservadora da Igreja, já passou
da idade (80 anos) para votar no
conclave que elegerá o novo papa,
mas participa, como todos os demais cardeais, dos encontros da
Congregação Geral.
(CLÓVIS ROSSI)
Texto Anterior: Entidade dos EUA levanta US$ 200 mi Próximo Texto: Vaticanas Índice
|