São Paulo, domingo, 10 de abril de 2005

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REINO UNIDO

Menos de 20 mil pessoas saudaram os noivos, que formalizaram sua união após longo e controvertido romance

Após 30 anos, Charles e Camilla se casam

Darren Staples/Reuters
Príncipe Charles e a duquesa da Cornuália cumprimentam súditos do lado de fora da capela St George, após cerimônia religiosa


ÉRICA FRAGA
ENVIADA ESPECIAL A WINDSOR

Saudados por uma pequena multidão de 20 mil pessoas e sem muita pompa -para os padrões reais-, o príncipe Charles, 56, e Camilla Parker-Bowles, 57, foram declarados marido e mulher ontem em cerimônia civil em Windsor, seguida por uma benção na capela St. George, depois de manterem um intenso e intermitente romance por mais de 30 anos.
Acenando discretamente para o público, o casal chegou e partiu do cartório Guildhall a bordo de um Rolls-Royce, ao som da música "Congratulations", de Cliff Richard, executada pela Windsor Boyschooll Jazz Band. Ao deixar o cartório, Camilla já portava o título de duquesa da Cornuália e passava a ser a segunda mulher mais velha da família real depois da rainha Elizabeth 2º, mãe de Charles, príncipe herdeiro.
Os trajes de Camilla foram considerados elegantes e discretos. Para a cerimônia civil, ela usou vestido de chiffon e casaco discretamente bordado e em cor marfim, desenhados pelo estilista Robinson Valentine. Na benção religiosa, ela optou por um vestido de seda longo azulado e bordado.
O clima em Windsor era alegre. Algumas lojas estavam especialmente decoradas. O McDonalds dava presentes para as crianças e funcionários de um salão de beleza bebiam champanhe.
Mas as comparações com o casamento do príncipe com Diana, em 1981, surgiram aos presentes em diversos momentos. Ontem, o número de pessoas que foram saudar os noivos, segundo estimativas da polícia, era de 20 mil pessoas. Em 1981, uma enorme multidão de cerca de 600 mil pessoas invadiu as ruas de Londres para celebrar os noivos. E, se o casamento anterior foi realizado na famosa catedral St. Paul, os noivos desta vez receberam a benção na capela de St. George, dentro do castelo de Windsor. As diferenças, porém, eram previsíveis, uma vez que Charles e Camilla optaram por um evento discreto. Desde 1972, Charles mantinha um relacionamento intermitente com Camilla, que também era casada.
Mas nem é necessária uma comparação com Diana para medir a relativamente baixa popularidade do casal. Em 1999, quando o príncipe Edward, filho mais jovem da rainha, se casou com a princesa Sophie, também em Windsor, 20 mil pessoas foram olhar e saudar os noivos. Embora o número seja o mesmo, Charles é a segunda figura mais importante da realeza, depois da rainha, além de ser uma personalidade muito mais midiática.
Os turistas que foram a Windsor para ver o casamento esperavam que a cidade, de 133 mil habitantes, estivesse mais lotada. "Chegamos aqui hoje às 7h. Acho que fomos os primeiros", disse em tom de brincadeira o estudante americano Patrick Malloy, 22, que carregava grandes orelhas de mentira, em alusão caricatural às de Charles. "Vim aqui hoje para ser parte da história. Achei que seria mais difícil me locomover na cidade", disse Catherin Samuel, funcionária pública de Cardiff.
Apesar do entusiasmo moderado da população britânica em relação ao casamento e de todos os reveses enfrentados pelo casal nas últimas semanas (como o adiamento do casamento por causa do funeral do papa), os cenários mais pessimistas previstos para ontem, não se concretizaram.
Não houve nenhuma grande manifestação contra a união nas proximidades do cartório, e apenas um cartaz de protesto se destacava no meio do público, classificando a união de vergonhosa.
Outra manifestação, discreta, não era contra a união, mas usava o exemplo como desculpa engraçada para reclamar mais direitos aos homossexuais. Os cartazes diziam: "Se Charles pode se casar duas vezes, por que os gays não podem se casar uma vez?".
Outro temor era a ocorrência de alguma atentado terrorista. Mas o forte esquema de segurança que mobilizou centenas de policiais -alguns armados, franco-atiradores e oficiais à paisana- foi capaz de evitar incidentes.
De forma geral, os jornalistas britânicos especializados em monarquia elogiaram o casamento, os trajes dos noivos e convidados e o clima. Os fãs incondicionais da monarquia diziam ontem ter certeza de que, com o tempo, o público aprenderá a gostar de Camilla.
Esse era o veredicto, por exemplo da aposentada britânica Sheila Boreham, 67. Sheila foi uma das 2.000 pessoas que conseguiram entrar no castelo de Windsor e ficar do lado de fora da capela de St. George. "Enviei uma carta para a família real contando a minha admiração por eles e pedindo para poder entrar no castelo. Consegui. Tenho certeza de que com o tempo os britânicos vão aprender a gostar de Camilla", disse Sheila.

Bênção religiosa
A bênção religiosa foi celebrada pelo arcebispo da Cantuária, Rowan Williams. Na cerimônia estavam presentes 800 convidados, entre eles a rainha Elizabeth e o príncipe Philip, o premiê Tony Blair e o ex-marido da noiva, Andrew Parker-Bowles.
Durante a cerimônia, o casal fez orações e promessas de fidelidade. Também recitaram um severo ato de penitência reconhecendo "pecados" e "maldades". "Nós reconhecemos e lamentamos nossos múltiplos pecados e maldades, que nós, de tempos em tempos, pesarosamente cometemos, por pensamento, palavra e ação, contra a Divina Majestade, provocando muito justamente a ira e a indignação contra nós."
Do lado de fora da igreja centenas de pessoas esperavam a chegada dos noivos. Entre elas, estava Vivienne Reay, 53. "É genial. Acho muito bom que eles se casem. Eles esperaram tanto tempo e estou contente por eles", disse à BBC. Os súditos puderam acompanhar a cerimônia por um telão e, ao término, os recém-casados foram cumprimentar os presentes com abraços e apertos de mão. A princesa da Cornuália, feliz, ainda que nervosa, já começou a se adaptar à vida da realeza.
Após a recepção, em que foram servidos bolos e canapés, Charles e Camilla rumaram para Aberdeen, na Escócia, onde passarão a lua-de-mel.
Com agências internacionais

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