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Brasileiros no terremoto lembram pavor
Casal de imigrantes estava em Áquila, epicentro do tremor que deixou 287 mortos no centro da Itália
MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A ROMA
A terra voltou a tremer ontem em Áquila, na região central da Itália, mas Luiz Antonio
Oliveira e Aline Santana, já estavam longe do pesadelo. Únicos brasileiros a pedir ajuda ao
consulado em Roma, após estar
no epicentro do devastador terremoto de segunda-feira, eles
deixaram ontem a Itália, sem
data para voltar.
Enquanto o número de mortos chegava a 287 e a esperança
de ainda haver sobreviventes
definhava, Luiz e Aline permaneciam aterrorizados, e agradecidos por terem escapado.
"Foi como um filme de terror",
contou o fluminense Luiz, 22,
que vive há cinco anos na Itália
jogando futebol. "Nos salvamos
por milagre."
Na noite anterior ao terremoto, pouco antes de dormirem, Luiz ainda tentara tranquilizar Aline dizendo que o
tremor que haviam acabado de
sentir era rotina. Mas perto das
3h da manhã foram sacudidos
por um estrondo.
"A cama balançava tanto que
eu não conseguia descer dela",
relembrou Luiz no aeroporto
de Roma ao lado da mulher,
Aline, 28, com quem está casado não faz nem um mês. Sem
eletricidade, o elevador do edifício parou. Depois de testarem
a solidez das escadas a golpes
de marreta, o casal deixou o
prédio correndo.
"Por favor, escreva que foi
Deus", pede a evangélica Aline.
Desde que chegou à Itália, há
quatro meses, ela sentia os tremores ficarem cada vez mais
fortes, mas isso não a preparou
para o que viveu na segunda.
"Parecia que um buraco iria se
abrir e nos levar para dentro.
Quando passou, o prédio estava
cheio de rachaduras e todos os
vizinhos gritavam."
Sem um teto seguro, os recém-casados foram para uma
estrada fora de Áquila e dormiram no carro. As noites seguintes foram passadas junto com
outros dois mil refugiados no
ginásio em que Luiz joga com a
camisa 10 do clube Centi Collela, que virou um abrigo.
Investigação
Hoje será realizado um funeral coletivo em Áquila, e as buscas por sobreviventes devem
durar até domingo. A devastação provocada pelo terremoto
levou a Procuradoria de Áquila
a abrir uma investigação para
apurar se as normas de construção antissísmica foram ignoradas na cidade.
Nos últimos dias, especialistas têm sugerido que a fiscalização frouxa dos padrões de construção pode ter tido um papel
decisivo na tragédia. Além de
edifícios históricos, muitos
prédios modernos também vieram abaixo, como o dormitório
da Universidade de Áquila, onde vários estudantes morreram
soterrados.
Com a ajuda do consulado
brasileiro em Roma, Luiz e Aline embarcaram ontem de volta
ao Brasil, onde ficarão com a família, no município fluminense
de São Gonçalo.
Apesar de terem deixado um
carro e um apartamento cheio
de pertences para trás, Aline,
ainda abalada, conta que não
pensa em voltar à Europa. Já o
vascaíno Luiz nem cogita aproveitar a chance de tentar uma
vaga num time brasileiro. "Meu
negócio é a Europa", diz o jogador de futebol.
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