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Papa mandou adiar saída de padre pedófilo
Em carta assinada, então cardeal Ratzinger evocou "o bem da igreja" para pedir cautela e estender processo nos anos 80
No documento, obtido pela Associated Press, Bento 16 admite "grave importância" das acusações, mas ordena "o trato paterno" do acusado
Vincenzo Pinto - 7.abr.2010/France Presse
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Papa Bento 16 saúda fiéis na última quarta em missa no Vaticano
DA ASSOCIATED PRESS
O então cardeal Joseph Ratzinger -hoje papa Bento 16-
resistiu a apelos para expulsar
do clero um padre americano
que tinha histórico de abusos
sexuais contra crianças, alegando preocupações que incluíam "o bem da igreja universal", de acordo com carta de
1985 que traz sua assinatura.
A carta, obtida pela agência
Associated Press, é a mais forte
contestação apresentada até
agora à insistência do Vaticano
em afirmar que o papa não desempenhou qualquer papel no
bloqueio à remoção de padres
pedófilos durante os anos em
que comandou a Congregação
para a Doutrina da Fé, antes de
assumir o papado em 2005.
O texto foi datilografado em
latim e é parte de anos de correspondência entre a Arquidiocese de Oakland e o Vaticano
sobre a proposta de expulsar do
clero o padre Stephen Kiesle.
O Vaticano se recusou a comentar a carta, mas um porta-voz confirmou que tinha a assinatura do cardeal Ratzinger.
"O serviço de imprensa não
considera necessário responder a todos os documentos tirados de contexto com relação a
situações legais específicas.
Não é estranho que existam documentos isolados que portem
a assinatura do cardeal Ratzinger", disse um porta-voz.
A diocese recomendou que
Kiesle fosse expulso em 1981, o
ano em que Ratzinger foi indicado para o comando do departamento do Vaticano que partilha a responsabilidade por disciplinar sacerdotes.
O caso ficou quatro anos no
Vaticano antes que Ratzinger
escrevesse ao bispo John Cummins, de Oakland. E foram necessários mais dois anos para
que Kiesle fosse removido.
Na carta de novembro de
1985, Ratzinger dizia que os argumentos para a sua expulsão
eram de "grave importância",
mas acrescentou que ações como aquela requeriam revisão
muito cuidadosa e mais tempo.
Ele também instou o bispo a
oferecer "tanto tratamento paterno quanto possível" a Kiesle.
Ratzinger também apontou
que qualquer decisão sobre expulsar Kiesle precisava levar
em conta "o bem da igreja universal" e o "detrimento que
conceder essa dispensa pode
provocar na comunidade dos
fiéis em Cristo, especialmente
considerando sua juventude".
Kiesle tinha 38 anos na época.
Ele fora sentenciado em 1978
a três anos de liberdade vigiada,
após se declarar culpado por
delito de conduta obscena, ao
amarrar e molestar dois meninos na sacristia de uma igreja.
Com o fim de sua sentença,
em 1981, Kiesle pediu para deixar de ser padre, e a diocese
submeteu a Roma a documentação necessária à sua exclusão.
Kiesle por fim foi expulso do
clero em 1987, quando Ratzinger se mantinha à frente da
Congregação para a Doutrina
da Fé, ainda que os documentos não indiquem como.
O ex-padre foi detido em
2002 e acusado por 13 casos de
molestamento de crianças nos
anos 70. Kiesle se declarou culpado de crime em 2004 por
molestar uma menina em sua
casa, em 1995, e foi sentenciado
a seis anos de prisão.
Seu caso é a evidência mais
contundente da atuação de
Ratzinger para acobertar episódios de pedofilia na igreja,
mas não é o único. O papa tem evitado falar
publicamente sobre os escândalos, mas pediu, no mês passado, em carta aos fiéis da Irlanda, onde investigações expuseram milhares de casos de abuso
ao longo de décadas, "perdão e
renovação interior".
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