São Paulo, sábado, 10 de abril de 2010

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Cantor e exilado debatem regime de Cuba

Após trocar correspondência com Carlos Montaner, Silvio Rodríguez estrela show em defesa de Havana

FLÁVIA MARREIRO
DE CARACAS

Após cobrar "evolução" no regime cubano e travar uma inusual troca de correspondências com o escritor e jornalista exilado Carlos Alberto Montaner, o cantor Silvio Rodríguez estrelará hoje, em Havana, um show "em repúdio à campanha" contra a ilha, anunciaram os jornais oficiais.
O intercâmbio de mensagens entre os antípodas do mundo político e cultural cubano e os shows pró-regime de hoje -haverá também um em Santiago de Cuba- são termômetros da repercussão, inclusive interna, provocada pela morte do dissidente Orlando Zapata Tamayo, em fevereiro, após 85 dias de greve de fome. O episódio desatou onda de pressão internacional pelo fim da repressão.
Com o concerto, Rodríguez, um dos ícones da música cubana, demonstrará "sua confiança no processo transformador" da revolução, escrevem os meios estatais, que sustentam que suas declarações recentes "foram manipuladas".
Há duas semanas, no lançamento de seu disco "Segunda Cita", em Havana, Silvio Rodríguez, citando uma canção, sugeriu suprimir o "R" de revolução. Queixou-se de a imprensa oficial não reportar debates sobre os rumos do país.
Dias depois, no site esquerdista www.rebelion.org, Rodríguez criticou as reportagens na imprensa internacional que condenam o regime sem atacar a embargo americano à ilha e perguntou se Carlos Alberto Montaner -um dos ícones do anticastrismo, exilado desde 1961- repudiaria ataques perpetrados por exilados e a CIA.
Montaner respondeu: assinaria, sim, texto em repúdio contra as vítimas provocadas pelo exílio. Questionou se Rodríguez faria o mesmo com relação às vítimas do castrismo, entre as quais os mortos no naufrágio provocado de um barco com exilados em 1994 e cubanos mortos na guerra de Angola (1976-2002).

Resposta a Raúl?
Rodríguez devolveu dizendo que sempre condenou a morte dos "balseiros" e defendendo as guerras das quais Cuba participou na África. Ontem, Montaner provocou Rodríguez, citando o ostracismo imposto a artistas antirregime e defendeu uma Cuba "sem exclusões".
Apesar das alegações de que suas declarações estão sendo "manipuladas", Rodríguez, em entrevista ao jornal argentino "Página 12", nesta semana, sinalizou uma resposta, desta vez ao próprio Raúl Castro, dirigente máximo de Cuba.
Disse que, se dependesse dele, libertaria todos os cem presos "ditos" políticos. "Não me importaria que dissessem que os liberei por pressão. Saberia que o fiz porque há que mudar a velha lógica." No domingo passado, Raúl disse que a ilha não cederia "a chantagens".


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