São Paulo, domingo, 10 de abril de 2011

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Desigual, Peru vota para presidente

Acesso da população de baixa renda à riqueza do país, que cresce 7% ao ano, domina a campanha eleitoral

Esquerdista Humala lidera pesquisa, seguido por filha de Fujimori e ex-presidente Toledo; 2º turno será em junho

PATRÍCIA CAMPOS MELLO
ENVIADA ESPECIAL A LIMA

O candidato de esquerda Ollanta Humala é o favorito nas eleições presidenciais de hoje no Peru.
A principal dúvida é quem deve ir com ele para um segundo turno, em junho: Keiko Fujimori, uma populista de direita que é filha do ex-presidente Alberto Fujimori (1990-2000); o ex-presidente Alejandro Toledo (2001-06) ou o ex-ministro das Finanças Pedro Pablo Kuczynski (conhecido como PPK).
Apesar de o Peru ter crescido a uma taxa chinesa de 7% nos últimos anos, a desigualdade de renda gerou insatisfação entre as camadas mais pobres, que apostam no candidato esquerdista.
E a oposição a Keiko e Humala, considerados populistas, está rachada.
O ex-presidente Toledo convocou os outros candidatos de centro-direita (PPK e o ex-prefeito de Lima Luis Castañeda) a unir-se contra ambos. Mas foi rechaçado.
A população de baixa renda se sente excluída do crescimento do país e reivindica maior participação na riqueza gerada pela exportação de recursos minerais.
"Nós pagamos 35 soles (cerca de R$ 20) por galão de gás, enquanto os bolivianos pagam só 12 soles (R$ 7)", reclama o vendedor Ramón Cirbas. "A Petrobras vem aqui tirar nosso gás e nos trata como se fôssemos estrangeiros", diz Cirbas, que vai votar em Humala.

INTERESSES DO BRASIL
Disputas de comunidades locais com multinacionais de minérios vêm gerando vários conflitos com mortos nos últimos meses.
Humala é visto como frágil em um segundo turno, porque ajudaria a unir o segmento mais conservador do eleitorado para derrotá-lo, como ocorreu em 2006, quando perdeu para o atual presidente, Alan García. García, hoje impopular, não lançou candidato.
Por isso, Humala adotou estratégia "paz e amor", de migração para o centro, assessorado pelos petistas Luis Favre e Valdemir Garreta.
Mas a população e especialmente os investidores ainda não estão totalmente convencidos dessa mudança. A Bolsa de Lima e a moeda peruana vêm caindo desde que Humala assumiu a liderança nas pesquisas.
O Brasil tem mais de US$ 10 bilhões em investimentos no Peru, a maioria em construção, mineração e energia.
Além disso, a Eletrobras tem acordo para construir cinco hidroelétricas na Amazônia peruana, um investimento de US$ 16 bilhões.
Grandes empreiteiras brasileiras estiveram entre as maiores doadoras da campanha eleitoral peruana. E o candidato Humala gera insegurança porque defendia rompimento e renegociação de contratos, embora hoje garanta que irá cumpri-los.
Já Keiko Fujimori seria uma candidata palatável para os mercados porque é firme defensora de políticas econômicas neoliberais.
Mas ela desperta críticas por defender o governo de seu pai, que está preso por corrupção e violação de direitos humanos, cumprindo pena de 25 anos.
Opositores afirmam que ela seria apenas uma marionete de Fujimori, que seria o presidente de fato.


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