São Paulo, sexta-feira, 10 de maio de 2002

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TERROR

Pastrana visita cidade onde 119 civis foram mortos na semana passada em confrontos entre guerrilheiros e paramilitares

ONU investigará matança na Colômbia

DA REDAÇÃO

Uma missão da ONU (Organização das Nações Unidas) investigará até o próximo domingo a matança de 119 civis na cidade de Bojayá, no Departamento (Estado) de Chocó (noroeste da Colômbia), na semana passada, durante confronto entre paramilitares e guerrilheiros de esquerda.
A investigação havia sido pedida pelo presidente da Colômbia, Andrés Pastrana. O chefe da missão, o sueco Anders Kompass, viajou ontem para a região, acompanhado de dois funcionários do escritório do Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos em Bogotá, o qual Kompass dirige. O secretário-geral da ONU, Kofi Annan, e a Alta Comissária da ONU para Direitos Humanos, Mary Robinson, declararam seu total respaldo à missão.
O presidente Pastrana também visitou ontem a região, acompanhado dos ministros da Defesa, Gustavo Bell, do Interior, Armando Estrada, e do Desenvolvimento, Eduardo Pizano, em meio a críticas contra o governo por ter ignorado ao menos seis advertências sobre um ataque iminente de grupos armados na cidade.
Pastrana percorreu as ruas ainda cheias de escombros da cidade, quase abandonada depois que mais de 4.000 moradores fugiram por medo de novos combates.
A quase totalidade das mortes da semana passada ocorreu quando um cilindro-bomba explodiu dentro de uma igreja, na qual centenas de pessoas buscavam refúgio do fogo cruzado. A bomba teria sido lançada por membros das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), que tentavam desalojar os paramilitares que controlavam o povoado.
Segundo o prefeito de Bojayá, Ariel Palacio, os dois grupos travam uma disputa pelo controle das plantações de coca na região.
Pastrana afirmou que a matança "confirma uma vez mais a condição de terroristas" das Farc, o principal grupo guerrilheiro do país. Segundo ele, um retorno à mesa de negociações com o grupo será impossível "enquanto a ala militar se impuser sobre a ala política" da guerrilha.
Em fevereiro, Pastrana rompeu o processo de paz com a guerrilha marxista, iniciado em 1998. A gota d'água foi o desvio de um avião comercial e o sequestro de um senador que estava no vôo.
"Estou seguro de que a ala política das Farc nunca teria aprovado um massacre como o que se viveu aqui", afirmou o presidente.
Antes de chegar à cidade, Pastrana havia dito que o objetivo de sua viagem era "expressar a solidariedade do governo com a população" e anunciar uma ajuda para a reconstrução.
Mas o governo foi acusado pelo defensor do povo (ouvidor), Eduardo Cifuentes, de ter sido omisso em relação a alertas sobre riscos que corriam diversas cidades da região. Segundo ele, entre junho de 2001 e sete dias antes da matança, a defensoria enviou pelo menos seis mensagens de alerta à Presidência, às Forças Armadas e às autoridades locais.
O comandante do Exército na região, general Mario Montoya, disse que somente neste ano as forças de segurança já receberam 125 alertas desse tipo. "Quase todos os dias recebemos alertas. Estamos vivendo uma guerra", disse. O Exército e a polícia haviam deixado Bojayá havia alguns anos, após a tomada do controle por grupos armados. Somente anteontem, após quase uma semana da matança, os militares chegaram novamente à cidade.
Cifuentes disse que pedirá uma indenização do Estado para as famílias das vítimas, mas indicou que a responsabilidade penal recairia sobre as Farc.


Com agências internacionais

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