São Paulo, terça-feira, 10 de maio de 2011

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O FIM DA CAÇADA

Caverna teria sido morada de Bin Laden

Serviços de inteligência do Paquistão suspeitam que terrorista tenha se escondido em moradias improvisadas

Cavernas adaptadas têm prateleiras, local para colchões e até abrigam uma espécie de cozinha rudimentar


Igor Gielow/Folhapress
Foto de cavernas que podem ter sido usadas por Bin Laden durante o período em que ficou escondido no Paquistão

DO ENVIADO A HARIPUR (PAQUISTÃO)

O Paquistão investiga se Osama bin Laden escondeu-se numa pequena rede de cavernas a dez minutos de carro de uma movimentada rodovia no noroeste do país antes de refugiar-se na cidade de Abbottabad -onde acabou sendo morto pelos EUA na semana passada.
A Folha apurou os dois pontos em que o serviço secreto paquistanês considera mais provável a presença de Bin Laden.
Com a ajuda de moradores da vila de Chak Shah Muhammad, distrito rural de Haripur, a reportagem encontrou uma casa construída numa parede de pedra porosa e mais sete cavernas trabalhadas na região.
Tudo começou no sábado, quando circulou a notícia de que uma das mulheres de Bin Laden presa na operação havia dito que o terrorista tinha morado no local por dois anos e meio. Abbottabad é lá perto, a 20 minutos.
Dezenas de jornalistas foram à vila de 200 casas e ouviram moradores atônitos dizer que não sabiam de nada.
Fotografaram algumas cavernas da região e a história morreu esquecida na imprensa paquistanesa.
Um detalhe escapou: há pelo menos sete famílias de refugiados afegãos que moram na área, trabalhando em onipresentes fábricas de tijolo rústico. Eles começaram a vir fugindo da invasão soviética (1979-89), mas o influxo aumentou há oito anos.
"Eles são muito fechados. Eu posso dizer que a tal família Bin Laden não morou em lugar conhecido aqui, porque minha mulher é responsável pela vacinação contra pólio na região toda. Mas há as cavernas", disse Abdul Sattar, 48, líder comunitário que vive de vender uniformes e produtos escolares.
De sábado para cá, agentes secretos estiveram na cidade conversando com moradores e levantaram os pontos suspeitos.
Um é a casa de um certo senhor Mohammad, que ontem não se encontrava. Ela fica numa trilha depois da vila, escavada numa parede com quatro cômodos organizados. "Ela existe há uns 15 anos, não sei quem morou aqui, mas muita gente vinda do Afeganistão", disse a neta de Mohammad, Nari.

ISOLAMENTO
Seguindo a trilha, há um pequeno rio seco, aguardando o derretimento das neves da cadeia do Hindu Kush para voltar a viver. Depois, entre campos de trigo, há uma elevação em curva, e o caminho passa por um cânion.
À esquerda, há uma série de três cavernas trabalhadas por dentro, com reentrâncias e prateleiras.
Já à direita, mais para dentro do cânion, há outras três cavernas, ainda mais elaboradas. Uma tinha sinais de queimado nas paredes, indicando que pode ter sido uma cozinha rudimentar.
A central, um estrado de pedra para dois colchões, e a última, o que parece ser uma área comum -que é repetida, em escala maior, do outro lado do pequeno cânion.
Todas as cavernas foram trabalhadas por dentro, e nenhuma ultrapassa o 1,75m -e Bin Laden tinha algo como 1,90m. Para entrar, é preciso agachar-se às vezes.
Vota contra a hipótese de que essas foram casas do terrorista o fato de que ninguém na vila diz ter visto os afegãos escondendo pessoas.
Pesa a favor que a luz elétrica só chegou no ano passado, reforçando o isolamento apesar de estar perto da rodovia do Karakoram, malcuidada e de pista simples, mas que une o Paquistão à China e é um inferno de caminhões, tratores e toda forma inusitada de transporte de massa.
Descontando a vontade paquistanesa de mostrar serviço, alguém passou por aquelas cavernas. Quem, este é o mistério. (IGOR GIELOW)


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