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IRAQUE OCUPADO
Líderes temem anulação da Constituição interina, que lhes dá poder de impedir que xiitas reduzam sua autonomia
Curdos ameaçam deixar governo por rixa com xiitas
DA REDAÇÃO
O complexo trabalho de bastidores da ONU e dos EUA para alcançar o pluralismo no Iraque
pós-Saddam Hussein, que se torna soberano no próximo dia 30,
está ameaçado por uma dissensão
entre líderes curdos e xiitas.
Massoud Barzani e Jalal Talabani, os principais líderes curdos do
Iraque, enviaram nesta semana
uma carta ao presidente dos EUA,
George W. Bush, na qual prometem "retirar sua participação do
governo central" caso o gabinete
que assume no fim do mês tente
anular a Constituição interina,
que dá aos curdos poder de veto.
"Não se trata de um ou outro lado ser intransigente. É tudo legítimo e compreensível. Mas tenho
certeza de que eles chegarão a um
consenso e seguirão pelo difícil
caminho da transição rumo à estabilidade", disse o enviado da
ONU ao país para a transição,
Lakhdar Brahimi.
A questão voltou à tona porque
a Carta interina aprovada em
março não foi mencionada na resolução aprovada anteontem pelo
Conselho de Segurança da ONU,
atendendo a um pedido do aiatolá
Ali al Sistani, maior líder religioso
xiita do país. Al Sistani já vem criticando a Constituição interina
desde antes de sua ratificação, tachando-a de "não-democrática".
A Carta prevê um referendo em
2005, no qual a Constituição permanente pode ser derrubada por
um veto de três das 18 Províncias
iraquianas -o veto da Província
equivale ao veto de dois terços de
sua população. A cláusula surgiu
porque os políticos curdos temem
que uma maioria simples (os xiitas são cerca de 60% da população) promulgue uma Constituição que reduza ou anule sua autonomia e mine seus direitos, conquistados, por intervenção anglo-americana, ao longo dos últimos
13 anos do regime de Saddam.
Como a região autônoma curda
reúne três Províncias, isso lhes garantiria o direito de vetar o texto.
No texto a Bush, Talabani e Barzani se negam a participar da eleição direta para o Legislativo, esperada para janeiro, se a Constituição interina for anulada. Eles
ainda ameaçam impedir que os
legisladores eleitos atuem na região do Curdistão, norte do país.
"O povo curdo não vai mais
aceitar cidadania de segunda classe no Iraque", diz o texto. Juntos,
os partidos liderados pelos dois
curdos dispõem de 75 mil combatentes, mas uma acordo fechado
nesta semana com o governo interino prevê que eles sejam desmobilizados junto com sete outras
forças não-oficiais até 2005.
Os curdos, aliados dos EUA durante os últimos anos do regime
de Saddam, tendo inclusive
apoiado as forças da coalizão durante a guerra, perfazem 17% da
população iraquiana.
Violência
O premiê interino iraquiano,
Iyad Allawi, referiu-se à aprovação da nova resolução da ONU
como uma "vitória do povo iraquiano", mas reiterou que a permanência das tropas estrangeiras
depois do dia 30 ainda será necessária. A resolução dá ao governo
interino poder para pedir a saída
da força liderada pelos EUA
Ontem, insurgentes mataram,
em um ataque com morteiros, 12
integrantes de uma patrulha iraquiana responsável pela segurança em Fallujah (oeste) desde
maio, quando os EUA entregaram-lhe o controle da segurança.
Em Beiji (norte), sabotadores
explodiram um dos mais importantes oleodutos iraquianos, reduzindo a produção de energia
elétrica do país em 10%.
Com agências internacionais
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