São Paulo, quinta-feira, 10 de junho de 2004

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IRAQUE OCUPADO

Líderes temem anulação da Constituição interina, que lhes dá poder de impedir que xiitas reduzam sua autonomia

Curdos ameaçam deixar governo por rixa com xiitas

DA REDAÇÃO

O complexo trabalho de bastidores da ONU e dos EUA para alcançar o pluralismo no Iraque pós-Saddam Hussein, que se torna soberano no próximo dia 30, está ameaçado por uma dissensão entre líderes curdos e xiitas.
Massoud Barzani e Jalal Talabani, os principais líderes curdos do Iraque, enviaram nesta semana uma carta ao presidente dos EUA, George W. Bush, na qual prometem "retirar sua participação do governo central" caso o gabinete que assume no fim do mês tente anular a Constituição interina, que dá aos curdos poder de veto.
"Não se trata de um ou outro lado ser intransigente. É tudo legítimo e compreensível. Mas tenho certeza de que eles chegarão a um consenso e seguirão pelo difícil caminho da transição rumo à estabilidade", disse o enviado da ONU ao país para a transição, Lakhdar Brahimi.
A questão voltou à tona porque a Carta interina aprovada em março não foi mencionada na resolução aprovada anteontem pelo Conselho de Segurança da ONU, atendendo a um pedido do aiatolá Ali al Sistani, maior líder religioso xiita do país. Al Sistani já vem criticando a Constituição interina desde antes de sua ratificação, tachando-a de "não-democrática".
A Carta prevê um referendo em 2005, no qual a Constituição permanente pode ser derrubada por um veto de três das 18 Províncias iraquianas -o veto da Província equivale ao veto de dois terços de sua população. A cláusula surgiu porque os políticos curdos temem que uma maioria simples (os xiitas são cerca de 60% da população) promulgue uma Constituição que reduza ou anule sua autonomia e mine seus direitos, conquistados, por intervenção anglo-americana, ao longo dos últimos 13 anos do regime de Saddam. Como a região autônoma curda reúne três Províncias, isso lhes garantiria o direito de vetar o texto.
No texto a Bush, Talabani e Barzani se negam a participar da eleição direta para o Legislativo, esperada para janeiro, se a Constituição interina for anulada. Eles ainda ameaçam impedir que os legisladores eleitos atuem na região do Curdistão, norte do país.
"O povo curdo não vai mais aceitar cidadania de segunda classe no Iraque", diz o texto. Juntos, os partidos liderados pelos dois curdos dispõem de 75 mil combatentes, mas uma acordo fechado nesta semana com o governo interino prevê que eles sejam desmobilizados junto com sete outras forças não-oficiais até 2005.
Os curdos, aliados dos EUA durante os últimos anos do regime de Saddam, tendo inclusive apoiado as forças da coalizão durante a guerra, perfazem 17% da população iraquiana.

Violência
O premiê interino iraquiano, Iyad Allawi, referiu-se à aprovação da nova resolução da ONU como uma "vitória do povo iraquiano", mas reiterou que a permanência das tropas estrangeiras depois do dia 30 ainda será necessária. A resolução dá ao governo interino poder para pedir a saída da força liderada pelos EUA
Ontem, insurgentes mataram, em um ataque com morteiros, 12 integrantes de uma patrulha iraquiana responsável pela segurança em Fallujah (oeste) desde maio, quando os EUA entregaram-lhe o controle da segurança.
Em Beiji (norte), sabotadores explodiram um dos mais importantes oleodutos iraquianos, reduzindo a produção de energia elétrica do país em 10%.


Com agências internacionais

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