|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Estudantes acabam greve e mudam discurso no Chile
Secundaristas aceitam participação menor em conselho criado por Bachelet
Cansaço e nevascas são apontados como motivos para abandonar os maiores protestos desde o fim da ditadura no país, em 1990
DE BUENOS AIRES
Após um mês de mobilizações e uma greve que já durava
15 dias nos principais colégios
secundários do país, os estudantes chilenos mudaram o
discurso de confronto com o
governo, decidindo ontem voltar às aulas e participar do conselho criado pela presidente
Michelle Bachelet para discutir
a reforma educacional.
Embora tenha atendido várias reivindicações dos secundaristas, Bachelet só destinou 6
das 75 vagas para os estudantes
no órgão assessor da presidência que estudará mudanças na
legislação do ensino -os líderes do movimento exigiam a
maioria para terminar a greve.
Desgastados por troca de
acusações entre dirigentes estudantis e pela decisão do governo de declarar encerradas as
negociações, ontem os porta-vozes da Assembléia Coordenadora de Estudantes Secundaristas anunciaram o fim da
ocupação dos colégios e da paralisação. "Sentimo-nos vitoriosos. Dobramos o governo.
Faltam temas estruturais e de
fundo, que serão tratados em
discussões no interior dos colégios", afirmou o porta-voz Juan
Carlos Herrera.
Um dia antes, porém, Herrera afirmara que os secundaristas não se sentiam representados no conselho. Venceu a ala
moderada do movimento, que
defendia a participação.
Solução temporária
"Nossa resolução é a de terminarmos momentaneamente
as ocupações e as greves. Não
estamos nos desmobilizando.
Vamos seguir com outras formas de mobilização", minimizou María Jesús Sanhueza, 16, a
mais polêmica líder do movimento. Simpatizante do partido comunista, ela foi acusada
por estudantes de endurecer o
discurso para enfraquecer o governo, e houve rumores que havia deixado o cargo de porta-voz dos estudantes. "Estamos
felizes pelas conquistas históricas que tivemos."
Antes mesmo da decisão da
assembléia, estudantes de colégios públicos tradicionais de
Santiago, como o Instituto Nacional, já haviam abandonado
as instalações ocupadas. As aulas serão retomadas na terça-feira. Anteontem, cerca de 500
colégios fora da capital também
declararam o fim da paralisação. O cansaço e as fortes chuvas e nevascas foram apontados como motivo da deserção.
Os protestos dos estudantes
chilenos -a maior mobilização
popular desde a volta de democracia, em 1990- foram responsáveis pela primeira crise
do governo Bachelet. Segundo
pesquisa de opinião do instituto Adimark, a aprovação da gestão caiu 7,5 pontos em maio,
comparado ao índice de abril.
Depois da maior passeata
convocada pelos estudantes
-estimados 600 mil secundaristas foram às ruas em 30 de
maio-, Bachelet anunciou um
pacote de medidas para a educação. Atendeu a pauta imediata: 80% dos alunos serão isentados da taxa de US$ 40 (cerca
de R$ 90) cobrada para fazer o
vestibular. Já a gratuidade no
transporte público não foi
atendida, mas foi aumentada a
vigência do passe escolar.
O anúncio solapou a unidade
dos estudantes, divididos entre
moderados, simpáticos ao governo e ligados a partidos de esquerda. Os alunos, porém,
mantiveram a convocação para
a paralisação nacional da última segunda-feira, que teve adesão de universitários. Bachelet
enviou, então, na terça, um projeto de reforma e debilitou ainda mais a mobilização.
(FLÁVIA MARREIRO)
Texto Anterior: Opinião: Manobras militares na questão nuclear Próximo Texto: Argentina: Filha de presos políticos é identificada contra a vontade Índice
|