São Paulo, sábado, 10 de junho de 2006

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Estudantes acabam greve e mudam discurso no Chile

Secundaristas aceitam participação menor em conselho criado por Bachelet

Cansaço e nevascas são apontados como motivos para abandonar os maiores protestos desde o fim da ditadura no país, em 1990


DE BUENOS AIRES

Após um mês de mobilizações e uma greve que já durava 15 dias nos principais colégios secundários do país, os estudantes chilenos mudaram o discurso de confronto com o governo, decidindo ontem voltar às aulas e participar do conselho criado pela presidente Michelle Bachelet para discutir a reforma educacional.
Embora tenha atendido várias reivindicações dos secundaristas, Bachelet só destinou 6 das 75 vagas para os estudantes no órgão assessor da presidência que estudará mudanças na legislação do ensino -os líderes do movimento exigiam a maioria para terminar a greve.
Desgastados por troca de acusações entre dirigentes estudantis e pela decisão do governo de declarar encerradas as negociações, ontem os porta-vozes da Assembléia Coordenadora de Estudantes Secundaristas anunciaram o fim da ocupação dos colégios e da paralisação. "Sentimo-nos vitoriosos. Dobramos o governo. Faltam temas estruturais e de fundo, que serão tratados em discussões no interior dos colégios", afirmou o porta-voz Juan Carlos Herrera.
Um dia antes, porém, Herrera afirmara que os secundaristas não se sentiam representados no conselho. Venceu a ala moderada do movimento, que defendia a participação.

Solução temporária
"Nossa resolução é a de terminarmos momentaneamente as ocupações e as greves. Não estamos nos desmobilizando. Vamos seguir com outras formas de mobilização", minimizou María Jesús Sanhueza, 16, a mais polêmica líder do movimento. Simpatizante do partido comunista, ela foi acusada por estudantes de endurecer o discurso para enfraquecer o governo, e houve rumores que havia deixado o cargo de porta-voz dos estudantes. "Estamos felizes pelas conquistas históricas que tivemos."
Antes mesmo da decisão da assembléia, estudantes de colégios públicos tradicionais de Santiago, como o Instituto Nacional, já haviam abandonado as instalações ocupadas. As aulas serão retomadas na terça-feira. Anteontem, cerca de 500 colégios fora da capital também declararam o fim da paralisação. O cansaço e as fortes chuvas e nevascas foram apontados como motivo da deserção.
Os protestos dos estudantes chilenos -a maior mobilização popular desde a volta de democracia, em 1990- foram responsáveis pela primeira crise do governo Bachelet. Segundo pesquisa de opinião do instituto Adimark, a aprovação da gestão caiu 7,5 pontos em maio, comparado ao índice de abril.
Depois da maior passeata convocada pelos estudantes -estimados 600 mil secundaristas foram às ruas em 30 de maio-, Bachelet anunciou um pacote de medidas para a educação. Atendeu a pauta imediata: 80% dos alunos serão isentados da taxa de US$ 40 (cerca de R$ 90) cobrada para fazer o vestibular. Já a gratuidade no transporte público não foi atendida, mas foi aumentada a vigência do passe escolar.
O anúncio solapou a unidade dos estudantes, divididos entre moderados, simpáticos ao governo e ligados a partidos de esquerda. Os alunos, porém, mantiveram a convocação para a paralisação nacional da última segunda-feira, que teve adesão de universitários. Bachelet enviou, então, na terça, um projeto de reforma e debilitou ainda mais a mobilização. (FLÁVIA MARREIRO)

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