São Paulo, domingo, 10 de junho de 2007

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Grupo levou 40 dias para voltar para o Brasil

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA,
DE NOVA YORK

O episódio descrito acima ficou conhecido como o dos "Seis do Buraco". Fernando Vargas e outros cinco militares brasileiros foram alvejados pelos israelenses, que os confundiram com guerrilheiros palestinos.
Após vários minutos sob tiros vindos de todos os lados, os brasileiros, escondidos em um buraco, conseguiram se explicar para os israelenses. Ainda assim, o Exército de Israel os fez prisioneiros, saqueando parte dos equipamentos.
Em outro incidente, o militar brasileiro Paulo Marchiori foi pego como refém pelos egípcios quando dirigia um veículo da ONU. Horas depois, os israelenses capturaram os soldados do Egito. Marchiori, equivocadamente, foi considerado egípcio por Israel. Sem falar inglês ou hebraico, o soldado foi salvo por um brasileiro que havia imigrado para Israel e servia no Exército judeu. Libertado, foi levado para o acampamento brasileiro em Rafah.
Já o cabo Carlos Adalberto Ilha de Macedo, que trabalhava como enfermeiro no Exército, teve menos sorte. Quando os israelenses entraram metralhando o campo do Brasil em Rafah, ele foi alvejado por um tiro no pescoço e morreu. Foi a única baixa brasileira. Os indianos perderam 32 homens em conseqüência do conflito no qual Israel, em apenas seis dias, derrotaria três Exércitos árabes -o egípcio, o sírio e o jordaniano- e praticamente triplicaria o tamanho de seu território.

Sem retirada
De acordo com Vargas, Israel não tinha conhecimento de que forças da ONU ainda estavam em Gaza, uma vez que elas haviam recebido ordem para se retirar. Como conseqüência, os israelenses confundiam os brasileiros com palestinos.
Apenas no dia 12 de junho, após o fim da guerra, os brasileiros conseguiram sair de Gaza e seguir para Israel.
Gaza, em relatos dos militares brasileiros postados no site www.batalhaodesuez.com.br, era uma cidade limpa, com largas avenidas. Já nos campos de refugiados a situação era precária. Os palestinos se dividiam entre dois tipos para os brasileiros: os amigos, chamados por eles de "habibs", e os guerrilheiros, "fedahim".
Os brasileiros da Unef não podiam ir a Israel entre 1956 e 1967, a não ser em visitas ilegais a kibutz. Quando viajaram para Ashdod, depois da guerra, ficaram surpresos. "A diferença era gritante. Em Israel, tudo era verdejante, com as pessoas trabalhando", disse Vargas em entrevista à Folha, por telefone, do Rio de Janeiro.
Ao chegarem à cidade portuária israelense, os brasileiros puderam enfim embarcar para o Brasil no Soares Dutra -um navio que levava carregamento de café para a Itália. Ainda assim, após escalas na Itália, no Chipre, na França e na Espanha, os membros da Unef desembarcaram no Recife apenas no final de julho, mais de 40 dias após a retirada de Gaza.
De lembrança, os brasileiros possuem, além das fotos, o Nobel da Paz recebido coletivamente em 1988 por todos os membros de forças de paz da ONU até aquele ano. E, curiosamente, a homenagem no nome de um campo de refugiados em Rafah, o campo Brasil, localizado onde antes estava o contingente brasileiro. (GC)


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