São Paulo, quarta, 10 de junho de 1998

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NOVO DIRIGENTE
Segundo auxiliar de Abubakar, militares deixam poder em outubro
Presidente nigeriano promete transição para governo civil

Associated Press - 21.mar.98
Abubakar, atrás de seu antecessor Abacha, em cerimônia em Abuja


das agências internacionais

O general Abdulsalam Abubakar, escolhido anteontem dirigente da Nigéria para suceder o ditador Sani Abacha, deve realizar a transição para um governo civil em outubro, conforme estabeleceu seu antecessor.
O vice-marechal Isaac Alfa afirmou em Abuja, capital do país, que a data para a transferência do poder seria mantida. "O governo resolveu manter-se fiel à data de 1º de outubro para a transição", disse Alfa após reunião de Abubakar com ministros e administradores militares dos Estados nigerianos.
O vice-marechal afirmou, porém, que a data das eleições presidenciais deve ser alterada. O general Abacha, morto anteontem provavelmente devido a ataque cardíaco, previa realizar, em 1º de agosto, eleições presidenciais nas quais era candidato único.
A União Européia, os EUA e organizações de defesa dos direitos humanos exortaram o novo governo da Nigéria, o Estado mais populoso da África (cerca de 110 milhões de habitantes), a respeitar os direitos humanos e a redemocratizar o país.
As arbitrariedades cometidas por Abacha durante seus anos de governo -o general assumiu o poder após um golpe em novembro de 1993- colocaram a Nigéria sob isolamento internacional. O Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial restringiram a concessão de créditos ao país. Diversas potências mundiais limitaram a emissão de vistos para autoridades nigerianas.
Ontem, em pronunciamento pela TV, o novo líder nigeriano pediu o fim do isolamento. "A Nigéria pede (à comunidade internacional) um envolvimento construtivo", disse ele.
Segundo os EUA, Abubakar parecia ser mais propenso a realizar a transição democrática no país que seu antecessor.
"Nós o vemos como alguém capaz de tomar essa decisão histórica e desejamos muito que ele aja assim", disse James Rubin, porta-voz do Departamento de Estado norte-americano.
O general, um oficial discreto aliado do ex-líder nigeriano Ibrahim Babangida, chegou a realizar treinamento militar nos EUA, na década de 70. "Ele é, no momento, a melhor chance de que se tente estabelecer um tipo de democracia, mas essa é a impressão que os dirigentes militares sempre dão quando assumem o poder", disse um ex-político do país.
O principal grupo de oposição nigeriano rejeitou a indicação do general, o nono dirigente militar do país desde sua independência, em 1960, e convocou protestos para a próxima sexta-feira.
"Não aceitaremos um vinho velho em uma garrafa nova, não importa quão sedentos por mudanças estejamos", disse a Ação Unida pela Democracia, em Lagos.
Opositores do governo pedem também que o empresário Moshood Abiola assuma o poder. O empresário vencia as eleições presidenciais de 1993 quando elas foram anuladas pelo então dirigente do país, Babangida.
Abiola, que é do sul nigeriano, majoritariamente cristão, foi detido em 1994. Os três últimos dirigentes do país são originários do norte, de maioria muçulmana.



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