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Militares impõem tensa calma em Província muçulmana na China
Governo acusa "separatistas treinados pela Al Qaeda" de causarem distúrbios
RAUL JUSTE LORES
ENVIADO ESPECIAL A URUMQI (CHINA)
O governo chinês acusou ontem os manifestantes responsáveis pelos violentos distúrbios na Província muçulmana
de Xinjiang de serem "separatistas treinados pela Al Qaeda".
O Politburo, órgão executivo
do Partido Comunista, fez reunião de emergência para discutir a crise. "Manter a estabilidade é a tarefa mais urgente", disse comunicado do organismo.
O toque de recolher terminou ontem na capital da Província, Urumqi. Táxis e ônibus
voltaram a circular, lojas e mercados reabriram. Mas o Grande
Bazar, no principal bairro da
minoria islâmica uigur, permaneceu fechado. O governo proiboi as mesquitas da região de
abrirem hoje -sexta é dia sagrado para muçulmanos.
Não são vistos mais chineses
da maioria han circulando com
porretes e facões, mas os bairros uigures e han permanecem
divididos, separados por colunas com milhares de soldados.
O governo insiste em que a
situação está "sob controle" e
distribuiu milhares de panfletos pedindo união às etnias.
Segundo dados oficiais, 156
pessoas foram assassinadas e
mil ficaram feridas após ataques de muçulmanos uigures
contra chineses da etnia han, a
majoritária no país. Já uigures
no exílio dizem que 600 pessoas foram mortas pela polícia.
No primeiro dia de calma à
força em Urumqi, a Folha ouviu diversas versões de pessoas
que estavam no domingo na região do Grande Bazar.
A narrativa que sai dos incidentes demonstra que o ódio e
a violência estão impregnados
nos dois lados, e que a polícia e
o governo chineses acabam reforçando a divisão étnica.
No domingo, por volta das
18h, 200 estudantes uigures
começaram a marchar pedindo
justiça pela morte de uigures,
assassinados por colegas da
maioria han em junho em uma
fábrica no sul da China.
Um funcionário han demitido espalhou um boato que uigures tinham estuprado "garotas chinesas". Uma multidão se
reuniu para linchar os uigures.
Segundo o governo, dois morreram, mas os uigures dizem
que 28 foram assassinados.
A polícia chegou pouco depois do início da manifestação
de domingo, e se ouviram diversos disparos. Segundo uigures, cinco estudantes foram
mortos pela polícia; os han dizem que os tiros foram ao alto.
Depois dos choques com a
polícia, centenas de uigures
que trabalham nos mercadinhos ao redor do bazar juntaram-se e passaram a agredir a
polícia chinesa e qualquer chinês que vissem nas calçadas.
Enquanto fugia da polícia, a
multidão passou a arrancar
han de seus carros e agredi-los
com pedaços de pau e facões.
Ônibus e carros foram vandalizados, e lojas que pertencem a
chineses han destruídas.
O que aconteceu depois é
menos claro. O governo da Província declarou lei marcial,
prendeu 1.500 pessoas e divulgou que 156 pessoas morreram
e mil ficaram feridas.
Nos dias seguintes, milhares
de chineses armados passaram
a vandalizar lojas e residências
de uigures e a atacar e até linchar uigures nas ruas. Mas, pela mídia estatal chinesa, só os
han foram vítimas; agressões a
uigures não aparecem na TV.
"A TV chinesa sempre nos
coloca como os violentos, mas a
polícia é a mais violenta de todos", diz o uigur Yusuf, com o
rosto todo inchado, depois de
ser surrado por chineses han.
"Quando os jornalistas deixarem a cidade, voltaremos a
ser presos e agredidos cotidianamente, sem explicação".
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