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Autoridades não dão detalhes sobre mortos
DO ENVIADO A URUMQI
O Departamento de Segurança de Urumqi vive um dilema, segundo uma fonte do governo provincial de Xinjiang.
Se divulga a identidade dos
mortos e quantas vítimas são
han e quantas são uigur, o ódio
racial só pode aumentar.
Os chineses han veriam que
são a maioria das vítimas e tentariam buscar justiça pelos próprios porretes.
O governo também teme que
as cenas de ataques a han provoquem ódio racial no resto do
país. Do 1,4 bilhão de chineses,
1,25 bilhão são da etnia han, e
10 milhões são uigures.
Imagens dos protestos desapareceram da cobertura da
CCTV, a rede estatal chinesa.
As reportagens agora priorizam histórias de solidariedade,
como de estudantes que doam
sangue para os feridos, ou de
convivência pacífica, como do
uigur que abrigou migrantes
rurais han em sua casa durante
o quebra-quebra.
Já os uigures alegam que o
governo não revela a identidade nem a etnia dos mortos porque os uigures seriam a maioria
das vítimas, e o número de cadáveres mortos a bala, ou seja,
pela polícia, superaria o dos
atacados por facões e punhais.
Na vizinhança onde aconteceu a onda de violência, em várias favelas de população uigur
visitadas nos últimos dias pela
Folha, os vizinhos se reúnem
para dizer que dezenas de homens foram levados de suas casas nas últimas noites, sem
qualquer explicação legal.
Mulheres que trabalham em
pequenos restaurantes que servem kebab, como Fatimi, dizem que foram revistadas pela
polícia chinesa.
"Tive que tirar a roupa diante
de um policial, o que é insulto
enorme a mim e à minha religião [muçulmana]", disse a jovem, mãe de três filhos, com o
lenço colorido na cabeça, que
caracteriza as uigures, e um
vestido longo, rosa e vermelho.
A falta de transparência da
Justiça e da polícia chinesas só
acrescenta mais dúvidas sobre
o que de fato aconteceu no domingo. A internet está bloqueada em toda a Província desde
domingo à noite -só é possível
o acesso em um hotel-, e é impossível fazer ou receber ligações internacionais.
Sites populares como Twitter e Facebook foram bloqueados em toda a China.
Mas, por trás da calma do primeiro dia pós-toque de recolher, os dois lados não param de
jurar ódio um ao outro.
(RJL)
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