São Paulo, sexta-feira, 10 de julho de 2009

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Autoridades não dão detalhes sobre mortos

DO ENVIADO A URUMQI

O Departamento de Segurança de Urumqi vive um dilema, segundo uma fonte do governo provincial de Xinjiang. Se divulga a identidade dos mortos e quantas vítimas são han e quantas são uigur, o ódio racial só pode aumentar.
Os chineses han veriam que são a maioria das vítimas e tentariam buscar justiça pelos próprios porretes.
O governo também teme que as cenas de ataques a han provoquem ódio racial no resto do país. Do 1,4 bilhão de chineses, 1,25 bilhão são da etnia han, e 10 milhões são uigures.
Imagens dos protestos desapareceram da cobertura da CCTV, a rede estatal chinesa. As reportagens agora priorizam histórias de solidariedade, como de estudantes que doam sangue para os feridos, ou de convivência pacífica, como do uigur que abrigou migrantes rurais han em sua casa durante o quebra-quebra.
Já os uigures alegam que o governo não revela a identidade nem a etnia dos mortos porque os uigures seriam a maioria das vítimas, e o número de cadáveres mortos a bala, ou seja, pela polícia, superaria o dos atacados por facões e punhais.
Na vizinhança onde aconteceu a onda de violência, em várias favelas de população uigur visitadas nos últimos dias pela Folha, os vizinhos se reúnem para dizer que dezenas de homens foram levados de suas casas nas últimas noites, sem qualquer explicação legal.
Mulheres que trabalham em pequenos restaurantes que servem kebab, como Fatimi, dizem que foram revistadas pela polícia chinesa.
"Tive que tirar a roupa diante de um policial, o que é insulto enorme a mim e à minha religião [muçulmana]", disse a jovem, mãe de três filhos, com o lenço colorido na cabeça, que caracteriza as uigures, e um vestido longo, rosa e vermelho.
A falta de transparência da Justiça e da polícia chinesas só acrescenta mais dúvidas sobre o que de fato aconteceu no domingo. A internet está bloqueada em toda a Província desde domingo à noite -só é possível o acesso em um hotel-, e é impossível fazer ou receber ligações internacionais.
Sites populares como Twitter e Facebook foram bloqueados em toda a China.
Mas, por trás da calma do primeiro dia pós-toque de recolher, os dois lados não param de jurar ódio um ao outro. (RJL)


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