São Paulo, Sábado, 10 de Julho de 1999
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CONFLITO EM TEERÃ
Pelo menos uma pessoa morreu em confronto durante protesto contra proibição de jornal reformista
Conservadores atacam estudantes no Irã

das agências internacionais

Militantes conservadores atacaram na noite de quinta estudantes da Universidade de Teerã que protestavam contra o fechamento de um jornal favorável ao presidente do Irã, o moderado Mohamad Khatami. Uma pessoa morreu, segundo os estudantes.
Os manifestantes foram agredidos com cassetetes. Bombas de gás lacrimogêneo foram lançadas dentro dos edifícios para impedi-los de se abrigar nas moradias estudantis. Dezenas foram feridos.
O episódio é mais um capítulo da disputa entre simpatizantes do clero conservador, encabeçado pelo líder supremo iraniano, aiatolá Ali Khamenei, e aliados do presidente reformista.
Pelo menos 500 estudantes protestavam contra decisão judicial que proibiu a circulação do diário "Salam". O jornal havia publicado carta escrita por um agente secreto do país defendendo a restrição à liberdade de imprensa no Irã.
O Ministério da Informação afirmou que a carta era um documento secreto e não poderia ter sido publicada. Os termos da proposta desse agente eram similares aos pontos da nova lei de imprensa, cujo preâmbulo foi aprovado pelo Parlamento na quinta-feira.
Temendo "tensões", o Ministério da Informação suspendeu a proibição de circulação do "Salam". Mas até ontem a liberação oficial não havia chegado ao jornal, que não sairá hoje.
A nova onda de violência poderia levar a uma "crise nacional", afirmou o ministro iraniano da Educação, segundo a agência oficial de notícias "Irna".
A polícia tomou parte ao lado dos conservadores no conflito. Os confrontos recomeçaram na tarde de ontem. Os estudantes atearam fogo em pneus em estrada na periferia de Teerã e enfrentaram a polícia com pedras.
O campus da Universidade de Teerã em Amirabad, local do incidente da noite de quinta, amanheceu destruído ontem. Dormitórios foram incendiados, vidros quebrados e portas derrubadas.
As universidades -cujos estudantes são em sua maioria favoráveis à política de abertura do presidente Khatami- tornaram-se os principais locais de conflitos.
Nos últimos meses, Teerã tem tido frequentes choques nas ruas entre representantes dos dois grupos. A tensão costuma aumentar às sextas, dia sagrado para os muçulmanos, quando milhares se reúnem para rezar nas mesquitas.
Mohamad Khatami foi eleito presidente pelo voto direto, em 1997, com 70% de apoio. Ele defende a modernização interna e uma reaproximação com o Ocidente.
Os conservadores, defensores da República Islâmica nos moldes criados pelo líder da Revolução Islâmica de 79, aiatolá Khomeini, tentam impedir as reformas.


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