|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
"Por insegurança, Raúl Castro não vem a público"
Ex-analista da CIA diz que irmão do ditador cubano tem problemas com bebida
Na agência de espionagem, Brian Latell seguiu Cuba por três décadas; ele diz que política da ilhanão muda enquanto Fidel "respirar"
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
Fidel Castro está vivo? Onde
está Raúl Castro? Principalmente, quem é Raúl Castro?
Brian Latell sabe responder
às duas últimas perguntas que
todos se fazem hoje -inclusive
o presidente George W. Bush-
e tem palpites sobre a primeira.
Analista do regime cubano desde 1964, quando entrou para a
CIA, a agência de inteligência
norte-americana, e onde ficou
por três décadas, é o autor da
considerada mais completa
biografia não-autorizada de
Raúl Castro, "After Fidel" (depois de Fidel, 2005). Membro
do Center for Strategic and International Studies (CSIS), em
Washington, Latell deu entrevista exclusiva à Folha ontem.
FOLHA - Onde está Raúl Castro?
BRIAN LATELL - Está esperando
para ver o que acontecerá com
seu irmão. Está relutante em
vir a público e dizer qualquer
coisa porque não está seguro,
não sabe realmente o que vai
acontecer. Talvez Fidel esteja
em uma situação tão ruim que
venha a morrer muito em breve. Talvez Fidel, por outro lado,
se recupere e fique são o suficiente para fazer aparições públicas. Se isso acontecer, será
ele, e não Raúl, que fará a primeira. Raúl nunca foi de fazer
aparições.
FOLHA - Bush se disse "surpreso"
pela internação de Fidel. Por que os
serviços de inteligência não o informaram? Onde estão os espiões?
LATELL - (Risos) A saúde de Fidel sempre foi um segredo de
Estado. Em mais de 48 anos, ele
nunca admitiu nem que tivesse
uma gripe. Eu sei de outras ocasiões em que ele correu risco de
morte, mas isso nunca foi assumido publicamente. Essa é a
política de Fidel e do governo
cubano.
E, na verdade, ele é tão protegido e anda com um círculo tão
pequeno e controlado de pessoas que esse tipo de segredo é
fácil de guardar. Mas nós sabíamos que a saúde dele estava se
deteriorando rapidamente. Sabemos desde o ano passado que
ele tem Parkinson. Sabemos
que ele caiu e quebrou um osso
por conta da doença e nós o vimos em público desmaiando e
perdendo o equilíbrio.
FOLHA - Os serviços de inteligência
negligenciaram Cuba depois do 11
de Setembro?
LATELL - É verdade que o Oriente Médio e as organizações terroristas passaram a ter prioridade na comunidade americana de inteligência, mas não
acho que negligenciar seja a palavra adequada. Cuba ainda é
importante para o governo
americano.
FOLHA - O sr. descreve Raúl Castro
em seu livro como um alcoólatra
não-recuperado.
LATELL - Ele deveria cuidar de si
mesmo e parar de beber. Se
continuar bebendo pesadamente, não sei o que acontecerá quando tiver de encarar uma
crise, quando tiver de tomar
decisões. Se isso acontecer, não
creio que conseguirá ficar no
poder por muito tempo, terá de
renunciar.
FOLHA - Renunciar?
LATELL - Sim, vai dividir o poder
com outros cubanos. Creio que
Carlos Lage [integrante do
Conselho de Ministros] pode
virar o presidente de Cuba, e
Raúl continuaria no comando
do Partido Comunista e dos
serviços de inteligência e segurança. Ele pode querer ainda
ter outras pessoas em posições
mais visíveis que a dele.
FOLHA - Caso ele seja confirmado no
comando de Cuba, mudam as relações
com os EUA?
LATELL - Nada vai mudar até
que Fidel morra. Se ele sobreviver a tudo isso e continuar no
comando, como um líder emérito, ainda assim vai ser muito
difícil para os novos líderes
abandonar suas políticas, e isso
inclui melhores relações com
os EUA. Enquanto estiver respirando, Fidel não quererá isso.
Não é o que pensam todos os
outros, incluindo Raúl e Lage.
FOLHA - O jornal espanhol "El País"
disse que Cuba está sendo governada por uma "junta". Quem está nela?
LATELL - Quando Fidel escreveu
aquela carta concedendo o poder antes da cirurgia, indicou
vários outros integrantes a
quem deu responsabilidades
além de Raúl. Essa é a maneira
que Raúl gosta de operar, com
uma liderança coletiva.
FOLHA - Como o sr. vê hoje as tentativas da CIA de assassinar Fidel Castro
nos anos 60?
LATELL - Isso não é algo de que
eu queira falar. Deixei a CIA e
não estive envolvido em nenhuma dessas operações. Em
toda a minha carreira lá fui um
acadêmico, um analista, não estava envolvido em atividades
do dia-a-dia.
FOLHA - Ainda assim, o sr. tem uma
opinião sobre o episódio?
LATELL - Essas coisas nunca deveriam ter sido feitas, são erros.
Aconteceram durante o governo Kennedy, que nunca deveria
ter feito isso.
Texto Anterior: Frase Próximo Texto: Regime tenta barrar notícias por satélite Índice
|