São Paulo, segunda-feira, 10 de agosto de 2009

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Para evitar polêmica, Lula antecipa volta da Unasul

Bases militares e condenação à mídia ditam pauta de cúpula hoje em Quito

Resolução contra postos militares e crítica à imprensa não deve sair da retórica; agenda de reunião de 11 presidentes é protocolar


Dolores Ochoa/Associated Press
Rafael Correa (dir.), ao lado de Morales, em rito indígena para festejar sua 2ª gestão no Equador

ELIANE CANTANHÊDE
ENVIADA ESPECIAL A QUITO

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu passar ao largo das disputas e pressões em Quito, onde acontece hoje a cúpula da Unasul (União das Nações Sul Americanas).
Como o Brasil se arvora líder da região e faz questão de manter canais abertos com todos os lados, ele decidiu antecipar o retorno a Brasília. O cerimonial do Planalto tinha duas opções para a volta: à noite, após o coquetel, ou no meio da tarde, após almoçar com os presidentes. Ele descartou ambas e embarcará às 14h (16h de Brasília), antes do almoço.
A agenda de hoje em Quito é 100% protocolar: a reunião dos 11 presidentes presentes (o único ausente será o colombiano, Álvaro Uribe) se limitará a poucos discursos e à assinatura de atos e de resoluções.
Depois, haverá a posse de Rafael Correa para mais um mandato como presidente do Equador-solenidade que terá presença do presidente de Honduras deposto, Manuel Zelaya.
Lula sairá dali direto para a base aérea, sem nenhuma conversa política bilateral -tática que, acreditam os brasileiros, o preservará de compactuar com as prováveis condenações a Uribe em decorrência da negociação entre Colômbia e EUA, para expandir o uso de bases no país por militares americanos.
O primeiro presidente a desembarcar em Quito, Evo Morales, da Bolívia, já chegou como porta-voz de uma proposta que atinge diretamente a Colômbia: a inclusão de uma resolução vetando bases estrangeiras em qualquer país da região -proposta que é uma provocação direta a Uribe.
Foi um sinal de que a terceira cúpula da Unasul poderá ser usada como oportunidade para atacar a Colômbia, além de um outro alvo: a imprensa na região, que vem sendo perseguida por Hugo Chávez na Venezuela e criticada também por Correa.
Entretanto, tanto a resolução contra as base quanto a inclusão de uma condenação à imprensa estão longe do consenso entre os 12 países da Unasul e têm poucas chances de sair da retórica para o papel.
O próprio Chávez manteve sua política de morde-e-assopra e anteontem baixou o nível de tensão. Ele retirara o embaixador venezuelano de Bogotá em 28 de julho, como forma de protesto contra Uribe, mas mandou-o de volta dois dias antes da reunião da Unasul.
Além disso, se aprovada, a resolução proposta por Morales só teria efeito político e diplomático, porque, oficialmente, Uribe garante que as bases não serão transferidas aos EUA.
Para atingir objetivamente e inviabilizar o acordo EUA-Colômbia, a resolução, se aprovada, deveria não só vetar "bases estrangeiras", mas sim "o uso de bases militares da região por estrangeiros". Não há consenso quanto a nenhuma das formas.
O Brasil, por exemplo, não se opõe a um acordo entre os dois prevendo a presença de forças americanas e operações exclusivamente dentro da Colômbia. O que o Brasil questiona é se efetivamente as bases continuarão tendo controle colombiano e com uso exclusivo para ações internas no país. Também cobra maior "transparência" na abrangência do acordo Washington-Bogotá.
A estratégia de Lula foi adotada também por dois ministros brasileiros. O chanceler Celso Amorim, personagem habitualmente de destaque nesse tipo de encontro, enviou o segundo escalão para a reunião de chanceleres ontem.


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