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ANÁLISE
Todos ganham com o teatro de Chávez -menos as Farc
CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA
Colou o mais recente teatrinho encenado por Hugo
Chávez. O rompimento de relações com a Colômbia e o
decorrente empenho de todas as partes em restabelecê-las tirou totalmente o foco da
denúncia do anterior governo colombiano sobre a presença de um nutrido grupo
de narcoterroristas das Farc
(Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) em território venezuelano.
Se Chávez estiver sendo
sincero ao dizer, agora, que
não aprovou, não aprova
nem aprovará a presença do
que chama de "forças guerrilheiras" em território da Venezuela, a maneira de demonstrá-lo era simples: bastava pedir a governos amigos
(Brasil, Argentina, Equador,
Bolívia) que enviassem representantes às zonas em
que a Colômbia dizia haver
acampamentos.
Se eles não existissem, Uribe teria sido desmoralizado e
nunca mais o dossiê Farc poderia ser esgrimido pela Colômbia nas relações com a
Venezuela.
Chávez preferiu acusar o
acusador, velhíssima tática
que muitas vezes dá certo.
Deu desta vez porque o novo presidente colombiano,
Juan Manuel Santos, não tem
o menor interesse em manter
congeladas as relações com o
vizinho.
Uribe, prestes a deixar o
governo, podia, perfeitamente, aguentar alguns meses de
queda nas trocas comerciais
(caíram de US$ 6,514 bilhões
em 2008 para apenas US$ 2,6
bilhões em 2009; a previsão
para este ano era de apenas
US$ 1 bilhão).
Juan Manuel Santos não
pode passar todo o seu mandato nessa situação.
BASES ESQUECIDAS
Que o rompimento era puro teatro, prova-o o fato de
que Chávez, para "virar a página" das relações com a Colômbia, nem sequer mencionou o motivo das restrições
que impusera ao comércio
com a Colômbia, ainda antes
do rompimento: as bases colombianas cedidas para uso
de militares americanos.
Bases, de resto, negociadas durante a gestão de Santos como ministro da Defesa
de Uribe.
Com o teatro, Chávez livra-se do incômodo que seria
qualquer investigação séria
sobre as denúncias do governo Uribe. Se antes o presidente venezuelano dizia respeitar o "projeto político"
das Farc, agora pede que os
guerrilheiros libertem os sequestrados e deponham as
armas -exatamente o que
exige Santos como condição
indispensável para iniciar o
diálogo proposto pelo próprio grupo narcoterrorista.
O presidente colombiano
também ganha: livra-se de
um tambor para as Farc bem
ao lado e retoma um comércio importante para dar impulso à economia, o que será
vital para seu prestígio, até
aqui basicamente emprestado de Uribe.
Um bom negócio para todos, portanto. Perdem apenas as Farc, privadas agora
do único governante latino-americano que ainda dizia
ter "respeito" pelo projeto do
grupo.
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