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GUERRA SEM LIMITES
Depoimentos recém-divulgados mostram que ordens não chegaram a todos; urgência era desconhecida
Bombeiros do 11/9 ignoravam risco que corriam
JIM DWYER
MICHELLE O'DONNELL
DO "NEW YORK TIMES"
Entre a queda da Torre Sul e a da
Torre Norte, os bombeiros de Nova York tinham 29 minutos para
sair do World Trade Center.
Quem não o fizesse, morreria.
Dentro da Torre Norte, no entanto, quase nenhum bombeiro
percebeu a urgência da situação.
Não faziam idéia de que a Torre
Sul acabara de ruir. Tampouco de
que seus comandantes, na rua, e
pilotos de helicópteros, no céu,
tentavam dizer-lhes que a queda
do prédio onde estavam era certa.
Até o mês passado, a dimensão
do isolamento em que se encontravam esses bombeiros era um
segredo. A situação veio à tona
quando a Justiça mandou divulgar os depoimentos daqueles que
atuaram no 11 de Setembro.
Os relatos trazem uma versão
muito mais sombria do que aquela apresentada pelo prefeito Michael Bloomberg e por seu antecessor, Rudolph Giuliani.
Os dois disseram que muitos
dos bombeiros na Torre Norte sabiam o risco que corriam, mas ficaram no prédio pelos civis. Eles
não citaram um detalhe repetido
à exaustão nos depoimentos: que
os bombeiros "não tinham noção" da realidade, não podiam ver
o que acontecia fora da torre.
Mesmo depois de a Torre Sul
cair, quando havia poucos civis
nos andares mais baixos da Torre
Norte, filas e filas de bombeiros
descansavam no lobby e no 19º
andar enquanto o tempo se esvaía. Embora não haja dado oficial sobre onde estavam os 343
bombeiros que morreram nos
trabalhos de resgate, o exame dos
depoimentos, dos relatórios federais e dos documentos de agências oficiais sugerem que cerca de
200 perderam a vida na Torre
Norte ou a seus pés.
Dos 58 que escaparam e relataram sua experiência, só quatro sabiam que a Torre Sul havia caído
antes de deixar o prédio. Só três
receberam alertas pelo rádio de
que a Torre Norte estava condenada. E parte dos que ouviram as
ordens para esvaziar o prédio ainda não sabe se elas eram para eles.
"Nem no meu sonho mais louco
imaginei essas torres caindo", disse o bombeiro David Sandvik.
Falhas
Na Torre Norte, a queda da Torre Sul foi ouvida, mas não foi vista; foi sentida, mas não compreendida. As escadarias não tinham janelas. O sinal dos rádios
ia e vinha. Poucos sabiam que um
avião atingira o outro prédio.
Embora o fato de os bombeiros
terem adiado sua saída para salvar os civis seja endossado pelos
relatos, ele perde a força como explicação para tantas mortes.
Os depoimentos não trazem, no
entanto, explicação clara para o
isolamento dos bombeiros no
prédio -se foi por problemas no
sistema de comunicação por rádio, falhas na estrutura do Corpo
de Bombeiros ou perda do controle por parte dos comandantes.
Alguns dizem ter recebido ordens
pelo rádio para deixar o prédio,
outros descrevem com palavrões
o equipamento. Ainda assim, os
relatos preenchem lacunas.
Da rua, o chefe do Corpo de
Bombeiros, Peter Ganci, disse
duas vezes para seus homens deixarem a Torre Norte, segundo Albert Turi, mas não se sabe se alguém lá dentro o ouviu. Nem
mesmo Turi, a metros de distância, pôde ouvir a ordem no rádio.
Ainda assim, em dado momento, a ordem chegou ao 27º andar,
onde vários bombeiros descansavam, incluindo Michael Wernick.
"Eu sabia que, naquele momento,
não havia urgência em deixar o
prédio", disse ele. O entrevistador
pergunta: "Você acha que alguém
a sua volta tinha noção de que o
outro prédio caíra?". Wernick
responde: "Não". Três pessoas
disseram ter visto cerca de cem
bombeiros descansando no 19º
minutos antes de o prédio cair.
Falando abruptamente, sem a
aura mística que tomou boa parte
do que foi relatado sobre o 11 de
Setembro, alguns bombeiros se
indagaram por que foram enviados para extinguir um fogo difícil
de domar a 300 metros do chão.
"Acho que, se o prédio tivesse
caída uma hora depois, teríamos
uns mil bombeiros aqui", disse
Timothy Marmion. "Se caísse três
horas depois, seríamos 10 mil
bombeiros nesses prédios."
Se os prédios não tivessem caído, os bombeiros, carregados de
equipamentos, levariam quatro
horas para chegar aos pisos mais
altos. "Somos tão vítimas quanto
todos naquele prédio", disse o
bombeiro Derek Brogan. "Não tivemos nem chance de apagar o
fogo, que era tudo que estávamos
tentando fazer."
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