São Paulo, Sexta-feira, 10 de Setembro de 1999
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TIMOR LESTE
EUA cortam ajuda militar à Indonésia e a pressionam a encerrar o conflito; ONU diz que violência diminui
Clinton pede que Jacarta aceite tropas

RENATO FRANZINI
de Nova York

O presidente dos EUA, Bill Clinton, pediu ontem à Indonésia que aceite o envio de tropas internacionais de manutenção de paz a Timor Leste. Ele fez ameaças de praticar retaliações econômicas contra Jacarta.
"Seria uma pena se a recuperação indonésia fosse destruída por isso", declarou Clinton. "Mas ela será destruída de um jeito ou de outro se o país não consertar essa situação, pois haverá um grande sentimento público para que seja cancelada a cooperação econômica internacional."
Os EUA anunciaram ontem a suspensão de sua cooperação militar com a Indonésia. Washington pressiona Jacarta a pôr fim à violência na ex-colônia portuguesa e aceitar o resultado do plebiscito a favor da independência de Timor Leste sem, porém, enviar tropas.
O vice-diretor-gerente do FMI (Fundo Monetário Internacional), Stanley Fischer, disse que o "desastre humano e político" em Timor Leste pode afetar as relações do órgão com a Indonésia.
A ONU afirmou ontem que a situação em Timor estava mais calma do que nos dias anteriores. O secretário-geral da organização, Kofi Annan, concedeu mais tempo a Jacarta para que seu Exército controle a ação dos grupos paramilitares antiindependência.
Hermínio da Silva Costa, um dos líderes paramilitares, disse a uma rádio portuguesa que os grupos antiindependência adotaram um cessar-fogo. "Deixamos todas as questões de segurança com as Forças Armadas indonésias."
Apesar do anúncio, jornalistas em Dili disseram que ainda ouviam tiros na cidade ontem.
Uma delegação de cinco representantes do Conselho de Segurança da ONU, que já esteve em Jacarta (capital indonésia), deve visitar a capital timorense hoje.
Annan vai esperar o retorno da delegação a Nova York (na segunda ou terça-feira) para tomar decisão sobre o envio ou não de tropas internacionais à região.
A ONU decidiu que vai manter uma "presença simbólica" de pelo menos 50 funcionários em Dili.
A sede da Unamet (Missão das Nações Unidas em Timor Leste) esteve sitiada durante a semana. Seus funcionários não tinham condições de segurança, alimentos, água e eletricidade. Cerca de 2.000 se refugiaram no edifício.
A situação no local começou a melhorar ontem. Com garantias do Exército indonésio, os refugiados deixaram a sede da Unamet e foram levados a um campo controlado por militantes pró-independência no vilarejo de Dare.
Um avião australiano pousou em Dili levando suprimentos.

Brasil
O chefe da Missão do Brasil junto às Nações Unidas, embaixador Gelson Fonseca, pediu ontem ao Conselho de Segurança (CS) uma reunião de urgência para discutir a questão de Timor Leste.
Ao contrário de reuniões anteriores, essa seria aberta a todos os países-membros, o que permitiria a participação de Indonésia e Portugal (que não integram o CS).
Como o Brasil é 1 dos 15 membros do CS, seu pedido tem de ser aceito. A reunião deve acontecer quando a delegação do CS voltar da Indonésia. O governo brasileiro estuda consulta da Austrália sobre a possível participação numa força de segurança em Timor.


Com agências internacionais


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