São Paulo, domingo, 10 de outubro de 2004

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MEMÓRIA

Vítima de câncer no pâncreas, pensador francês que criou a "desconstrução" estava internado em um hospital de Paris

Morre, aos 74, o filósofo Jacques Derrida

François Guillot - 27.fev.2003/France Presse
O filósofo francês Jacques Derrida (1930-2004), um dos mais influentes em sua geração, posa para foto em sua casa em Paris


DO "LE MONDE" E DA REDAÇÃO

Morreu na madrugada de sexta-feira para ontem em um hospital de Paris, aos 74 anos, o filósofo francês Jacques Derrida, vítima de complicações de um câncer no pâncreas. Ele era o filósofo francês mais conhecido e mais influente em todo o mundo, sobretudo nos Estados Unidos, onde seu conceito de "desconstrução" fez escola.
Nascido em 15 de julho de 1930 em El Biar, na Argélia, Derrida lecionou na prestigiosa Escola Normal Superior (Paris), onde ocupou, ao mesmo tempo que Louis Althüsser, o cargo de diretor de estudos. Por muito tempo, Derrida transitou entre entre Paris, onde também lecionaria na Sorbonne e na Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais, e os EUA, onde daria aulas nas universidades da Califórnia, Yale, Johns Hopkins e outras.
Ele desenvolveu uma vasta reflexão crítica sobre a instituição filosófica e seu ensino, criando em 1983 o Colégio Internacional de Filosofia, que presidiria até 1985. Derrida escreveu vários livros seminais, como "A Escrita e Diferença", "Espectros de Marx" (ed. Relume-Dumará), "A Farmácia de Platão" (ed. Iluminuras).
A partir de textos filosóficos clássicos, ele cunhou o termo "desconstrução", uma crítica aos pressupostos da linguagem que se popularizaria na mídia, chegando às telas, por exemplo, no filme "Desconstruindo Harry", de Woody Allen. O sentido de bandeira du movimento "desconstrucionista" ganhou força nos EUA, em princípio sob a liderança de Paul de Man, amigo de Derrida, mas sempre com grandes reservas por parte deste quanto ao rótulo.

Arquitetura
Para Derrida, o termo tem uma relação com a metáfora arquitetônica de "estrutura", que se impunha nos anos 60. Para combater esse conceito, freqüentemente pensado de maneira centrada, Derrida propõe então liberar o que chama de o jogo ou a "estruturalidade da estrutura" que questiona figuras centrais no Ocidente -como Deus, homem e razão. Se tais representações são múltiplas, isso significa que o centro não é fixo nem uno, mas tende a ser substituído ao longo da história da metafísica.
Nos últimos anos, seu pensamento tomou uma evidente dimensão política, e Derrida passou a intervir nos principais debates contemporâneos, como a questão palestino-isralense, a polarização Norte-Sul e a globalização.
Em entrevista ao Mais!, publicada em meados de agosto, pouco antes de sua vinda ao Rio de Janeiro para participar de um congresso e lançar a coletânea de artigos "Papel-Máquina" (ed. Estação Liberdade), Derrida afirmou que os ataques terroristas ganharam novo alento com o fim da Guerra Fria, pois, desde então, deixou de haver "o equilíbrio de terror entre os EUA e a União Soviética, que, de algum modo prevenia os movimentos de violência selvagem, de utilização da destruição em massa etc.".
Casado com uma psicanalista, ele tinha um filho com Sylviane Agacinski, mulher do ex-premiê socialista Lionel Jospin.

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