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Brasil cancela missão técnica ao Equador
Adiamento de viagem de grupo liderado por ministro que discutiria projetos de infra-estrutura é resposta à expulsão da Odebrecht
Decisão de proibir empresa de operar no país contrariou Lula, a quem Rafael Correa prometera em Manaus que voltaria atrás em ameaça
ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva irritou-se com a decisão anunciada anteontem pelo
governo do Equador de expulsar a construtora Norberto
Odebrecht do país e mandou
cancelar a ida de uma missão
técnica no próximo dia 15 para
discutir o apoio a obras de infra-estrutura no país.
O principal tema da reunião
seria um projeto de profundo
interesse do Equador: o Manta-Manaus, para ligar a cidade
portuária equatoriana à capital
do Amazonas com estradas,
pontes, portos e vias fluviais.
"Em face dos últimos desdobramentos envolvendo empresas brasileiras naquele país (...),
o governo brasileiro decidiu
postergar sine die [sem data] a
ida ao Equador de uma missão
chefiada pelo ministro dos
Transportes [Alfredo Nascimento]", diz nota do Itamaraty.
No texto, o governo reclama
ainda que esses "desdobramentos" -ou seja, a expulsão da
construtora- "contrastam
com as expectativas de uma solução favorável quando do recente encontro entre os dois
presidentes [Lula e Rafael Correa] em Manaus".
Foi o primeiro ato de retaliação do governo brasileiro a
Correa, que no dia 23 de setembro editou decreto embargando os bens da Odebrecht, acusada de falhas na construção de
uma hidrelétrica. Depois, ele
ameaçou expulsar a empresa
do país e não pagar dívida com
o BNDES (Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e
Social) de US$ 243 milhões relativa ao financiamento da
construção da usina.
A gota d'água, conforme a
Folha apurou, foi que Correa
tinha acertado com Lula no dia
30 de setembro, em Manaus,
que recuaria da ameaça de expulsão da Odebrecht para reabrir as negociações com a empresa e facilitar o diálogo governo a governo. Lula foi surpreendido com o anúncio equatoriano ratificando a expulsão.
Conversa em Manaus
Na conversa em Manaus, Lula tinha pedido a retirada do decreto para "desanuviar o ambiente" e disse que, em contrapartida, mandaria a missão técnica a Quito. Correa aceitou,
apesar de fazer sérias críticas às
empresas brasileiras, insinuando que não respeitavam as regras locais e ofereciam propinas a funcionários públicos.
Ele deixou implícito que não
poderia recuar naquele momento, porque o referendo para ratificar a nova Constituição
do Equador tinha ocorrido dois
dias antes e ficaria parecendo
que ele só tinha comprado a
briga com a Odebrecht para angariar votos. Mas assumiu o
compromisso de abrandar o
tom e retomar as negociações.
Lula saiu do encontro imaginando que a revogação do decreto seria anunciada uma semana depois, inclusive liberando os dois brasileiros que estão
refugiados na residência do
embaixador para sair do país.
Apesar da gravidade das medidas tomadas por Correa em
setembro, Lula se dizia tranqüilo, porque fora informado
pelo Itamaraty e por sua assessoria internacional de que o
presidente agia assim por
"questões políticas internas".
Referiam-se ao referendo
equatoriano do dia 28 para ratificar a Constituição do país, feita ao gosto do novo governo.
"Falar grosso" com o Brasil seria parte da campanha. Com o
anúncio da expulsão, Lula, o
Itamaraty e a assessoria da Presidência finalmente descobriram que Correa não blefava.
A usina de San Francisco, pivô da crise, é responsável por
12% da produção energética do
Equador. Ela parou de funcionar em 6 de junho deste ano,
com o desabamento de parte do
túnel de distribuição de água e
desgaste das turbinas. O governo culpou a Odebrecht, que
atribui os problemas à erupção
de um vulcão.
Correa também quer rever o
contrato com a Petrobras de
exploração do bloco 18, para
que toda a extração fique com o
país. Sem acordo, o presidente
ameaça expulsar a empresa. O
Brasil disse que exigirá indenização pelos investimentos.
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