São Paulo, domingo, 10 de outubro de 2010

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Chile conclui túnel para salvar mineiros

Próximo passo dos engenheiros é avaliar se paredes do buraco resistirão ao atrito gerado por cápsula de resgate

"Eles acompanhavam lá cada centímetro do avanço da perfuração", diz especialista, sobre ajuda dos soterrados

Ivan Alvarado/Reuters
Mulher de mineiro soterrado abraça soldado ontem, após a sonda T-130 atingir a marca de 628 metros e alcançar refúgio

LAURA CAPRIGLIONE
ENVIADA ESPECIAL A COPIAPÓ (CHILE)

Às 8h05 de ontem, sob o sol forte do deserto de Atacama (norte do Chile), céu azulíssimo sem nenhuma nuvem, o sino do acampamento Esperanza começou a tocar forte, desesperado.
Do portão de entrada da mina San José, era possível ver soldados, geólogos, homens da equipe de resgate abraçando-se. Pulando.
Instantaneamente, porque já tinham combinado que seria assim, os familiares dos 33 mineiros enterrados vivos desde 5 de agosto correram para escalar o morro defronte. E foram seguidos por centenas de jornalistas, cinegrafistas, pessoal técnico...
Lá em cima, onde se encontram 32 bandeiras do Chile e uma da Bolívia, representando os homens presos sob centenas de toneladas de terra, rochas e minérios, os familiares choraram de alegria.
Jornalistas também.
A celebração emocionada devia-se ao fato de que, naquele instante, 65 dias depois do desabamento da mina San José, a sonda T-130 havia conseguido completar a perfuração de um duto de 70 centímetros de diâmetro, que funcionará como o poço do elevador que levará os operários para a superfície.
Perfurar esse poço era o maior desafio. Na história da mineração, nunca houve salvamento a partir de tamanha profundidade -no total, a T-130 perfurou 628 metros.
O temor, desde sempre, era que a ação das brocas e marteletes pudesse causar um novo desabamento.
Já está posicionado o guindaste que baixará e içará o elevador, na verdade, uma gaiola de aço apelidada de Fênix, a figura mítica que renasce das cinzas.
O texano Gregory Hall, proprietário da empresa Drillers Supply, especialista em equipamentos de perfuração e contratado pelo governo chileno, relatou os instantes finais do feito de ontem.
"Os mineiros acompanhavam lá embaixo cada centímetro do avanço da perfuração. Com o conhecimento prático de quem lida há anos com os humores da montanha, eles iam batendo no teto do refúgio com um pedaço de madeira, para aferir o risco de desabamento. Essas informações eram repassadas por um circuito de fibra óptica ao comando da operação."
Segundo Hall, a notícia de que haviam conseguido alcançar os mineiros chegou em um grito de alegria: "Já podemos ver o nariz!"
Eram os mineiros que comemoravam a entrada na ponta da broca no refúgio em que se encontram. Mal deu para ouvir: a máquina gerava ruído equivalente ao de 20 helicópteros decolando.
As imagens captadas pela fibra óptica mostram os mineiros dançando, berrando.
Agora, o próximo passo dos engenheiros e geólogos será avaliar as condições das paredes do poço. O objetivo é checar se elas terão condições de aguentar o atrito decorrente do vaivém da cápsula Fênix subindo e descendo.
A aposta ontem era que fosse necessário encapar com aço uma parte do poço, para reforçar algo entre 30 e 100 metros de parede.
O ministro da Mineração, Laurence Golborne, disse ontem que os mineiros começarão a ser içados na quarta, e não na terça, como havia sido anunciado. "Já esperamos tanto, aguentamos um pouco mais", disse a mulher do mineiro Claudio Yáñez.


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