São Paulo, domingo, 10 de outubro de 2010

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Por precaução, calmante é descartado

Trabalhadores precisam estar alertas para operação de içamento, enquanto suas famílias aguardam ansiosas

Os 33 homens terão de fazer jejum de 8 horas antes da subida, para suportar o estresse no resgate dessa semana

DA ENVIADA A COPIAPÓ

"Jimmy está uma pilha. Ele está muito ansioso. E nós, mais ainda", disse Norma Lagues, mãe de Jimmy Sánchez, 19, o mais jovem entre os 33 operários presos na mina San José, no deserto de Atacama, norte do Chile.
Mas já está descartada a hipótese de ministrar aos homens prestes a reconquistar suas vidas algum miligrama de ansiolítico.
De acordo com o ministro da Saúde, Jaime Mañalich, "eles precisam estar absolutamente alertas na hora do resgate", para que possam ajudar na subida da cápsula, inclusive desenganchando-a de eventuais arestas que surjam no caminho.
Os mineiros também serão obrigados a fazer um jejum de oito horas antes de entrar na cápsula -mesma providência usada em situações pré-cirúrgicas- por causa do imenso estresse pelo qual passarão no período de transporte até a superfície.
A finalização do túnel para o resgate, ontem, só fez aumentar a ansiedade no acampamento Esperanza, na entrada da San José.
Em visita à mina, a mulher do presidente Sebastián Piñera, Cecilia Morel, disse que estava lá para ajudar os familiares a se acalmar.
"Técnicas muito simples de respiração podem retirar as energias negativas, as raivas, as emoções", teorizou a primeira-dama chilena.
Não faltam motivos para tanta ansiedade: enterrados vivos no desabamento da San José, a 700 metros de profundidade, os mineiros passaram 18 dias desaparecidos no meio da montanha, repartindo restos de restos de pêssego e atum entre todos.
Em média, cada um emagreceu 10 kg. Chegaram a ser dados por mortos.
Quando foram encontrados, tiveram de se sujeitar a uma rotina férrea, imposta por psicólogos e técnicos das Nasa (a agência espacial norte-americana) especializados em sobrevivência em condições extremas.
Tinham horários de vigília e de sono determinados, divisão de tarefas, obrigação de um máximo de vivências em grupo, exercícios físicos compulsórios etc.
Agora, quando se preparam para sair, o governo já permitiu que enviem para a superfície algumas pequenas lembranças do período sob a terra.
Mas não cabe nada além do próprio corpo do mineiro dentro da cápsula de resgate (uma gaiola a ser baixada e içada por guindaste).

"RECUERDOS"
Assim, os canos que têm levado até os mineiros água, alimentos e gêneros de primeira necessidade agora trazem para cima as cartas que os parentes lhes enviaram, os diários que eles escreveram no cativeiro, pequenas porções do solo do fundo da mina, cada um monta seu kit de "recuerdo".
Vaidosos, muitos dos homens têm pedido que seus familiares lhes enviem roupas novas, para que saiam da terra bonitos.
Obrigatório para todos serão os óculos escuros, que eles terão de usar depois de meses passados em um ambiente de penumbra.
Segundo o ministro Mañalich, o governo colocará à disposição dos 33 mineiros apoio psicológico por pelo menos seis meses. (LAURA CAPRIGLIONE)


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