São Paulo, domingo, 10 de novembro de 2002

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ANÁLISE

Resolução deixa pouco espaço para Saddam agir

PATRICK E. TYLER
DO "THE NEW YORK TIMES"

Ao obter apoio unânime do Conselho de Segurança da ONU anteontem para sua resolução sobre o Iraque, a administração Bush estabeleceu os passos finais para desarmar Saddam Hussein, deixando aberta por apenas algumas semanas a questão de se isso será feito por meio de uma guerra ou pacificamente.
Para evitar a guerra, o ditador iraquiano tem sete dias a partir de anteontem para aceitar a resolução. Em 30 dias, até 8 de dezembro, ele deve fornecer uma lista completa e precisa de seus programas de armas nucleares, biológicas e químicas e de desenvolvimento de mísseis de longo alcance para mostrar que está pronto para tornar-se o agente principal de seu próprio desarmamento.
Os inspetores da ONU farão muito pouca inspeção e basearão sua avaliação sobre a cooperação iraquiana no grau de precisão da "confissão" que Saddam terá de fazer sobre os programas de armas cuja existência ele vinha negando e que, para Washington, estão sendo desenvolvidos em bunkers secretos, cavernas subterrâneas e laboratórios móveis.
Para vários analistas, Saddam enfrentará um grande dilema para se autodeclarar um mentiroso. Ele é um ditador absoluto, e sua imagem e postura estão baseadas em nunca se curvar diante de um rival ou de uma outra força.
Mas Bush foi implacável anteontem ao insistir que Saddam deve acatar a resolução de forma total e transparente, embora o presidente dos EUA e funcionários da ONU ainda não tenham descrito detalhadamente o processo pelo qual o cumprimento das exigências será checado.
Vários membros de governos árabes, que conhecem a índole difícil de Saddam, crêem que seu forte instinto de sobrevivência acabará sobrepujando a humilhação que o processo de inspeção imporá a ele. "Ele cooperará, não tem outra alternativa nem lugar para se esconder", disse um embaixador árabe em Washington.
Mas, se Saddam não atender às detalhadas exigências da equipe de inspeção da ONU ou suas informações não corresponderem a dados fornecidos aos inspetores pelos serviços de inteligência ocidentais, Bush deixou claro que os EUA considerarão que ele está violando a resolução do Conselho de Segurança. "Qualquer não cumprimento [da resolução" por parte do Iraque será grave", disse Bush.
Enquanto pareceu a alguns que os EUA construíram uma clara "ratoeira" para provocar Saddam a cometer um ato desafiador autodestrutivo, Bush e seus assessores afirmam que obtiveram uma posição coletiva que dá ao ditador uma opção pacífica de desarmamento.
Os EUA deixaram claro anteontem que qualquer membro da ONU, não apenas os inspetores, pode levar uma queixa ao Conselho de Segurança de que Bagdá não passou no teste. Assim, o governo Bush guardou um papel substancial para si mesmo no desenvolvimento da questão nas próximas semanas.
O problema para Saddam seguir enganando os inspetores é que ele não sabe o quanto de informação os EUA, o Reino Unido e outros países possuem sobre suas armas secretas.
Saddam, que nos anos 80 foi apoiado pelos EUA para conter a Revolução Islâmica iraniana, nunca pareceu tão encurralado e sem apoio no mundo árabe.
Nabil Fahmy, embaixador do Egito nos EUA, disse que o mundo árabe apoiará o desarmamento do Iraque sob a égide da ONU, mas afirmou que a maioria dos países da região estará observando se há um esforço sincero para realizá-lo "pacificamente".
"É sempre muito difícil determinar um desarmamento completo, ainda mais em meio a retórica elevada e fortes suspeitas", disse Fahmy.
O embaixador do Kuait em Washington, Salem Abdullah al Jaber al Sabah, disse na semana passada que seu país fechou um terço de seu território para disponibilizar a área às tropas dos EUA sendo enviadas à região.
Salem disse que há consenso entre os líderes árabes do golfo Pérsico de que a guerra está vindo, mas que sua maior preocupação era a falta de consulta dos EUA a seus aliados sobre como ajudar os 23 milhões de iraquianos e garantir a estabilidade política do país após uma guerra.


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