São Paulo, segunda-feira, 10 de novembro de 2008

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Crise não vai travar corte de impostos, diz assessor

Chefe-de-gabinete de Obama afirma que reduzir tributos da classe média é prioridade

Equipe democrata, porém, avalia que projetos terão de continuar no papel por causa do agravamento da situação econômica do país

ANDREA MURTA
DE NOVA YORK

Com uma crise econômica que continua a se aprofundar, analistas e políticos estão sendo forçados a avaliar quais propostas do presidente eleito dos EUA, Barack Obama, terão de ir para a geladeira quando ele tomar posse, em 20 de janeiro.
Mas o corte de impostos para a classe média, pilar fundamental da campanha do democrata, aparentemente não terá esse destino.
Quem garante é Rahm Emanuel, apontado como chefe-de-gabinete do governo Obama. Em sua primeira entrevista após ser indicado ao posto, Emanuel afirmou à rede ABC ontem que o plano econômico do democrata, mesmo "na conjuntura atual, está baseado em dar a 95% dos trabalhadores um corte de impostos".
"Para termos uma recuperação forte e sustentável, a classe média deve ser o foco da estratégia econômica", disse.
Emanuel também tentou dispersar as crescentes dúvidas sobre a viabilidade das propostas de investimentos do governo Obama frente à expectativa de déficit orçamentário. Segundo ele, Obama vê a situação financeira como "oportunidade histórica para apresentar os investimentos de larga escala que os democratas vêm prometendo há anos".
Para o próximo chefe-de-gabinete, abordar a crise não implica em adiamentos nos planos de reforma para os setores de energia, saúde e educação, que estariam vivendo suas próprias crises.

Dúvidas
Apesar das garantias, há dúvidas sobre a possibilidade de implantar a proposta inicial de Obama de cortes de impostos. A idéia era dar a cada trabalhador um corte de US$ 500, ou US$ 1.000 por casal de trabalhadores nos EUA, o que afetaria cerca de 150 milhões de pessoas. Mas, desde a elaboração do plano, o déficit governamental americano aumentou exponencialmente.
O déficit já alcançou US$ 455 bilhões para o ano fiscal encerrado em 30 de setembro e deverá dobrar para o próximo ano devido aos gastos com o resgate financeiro de Wall Street (de US$ 700 bilhões até agora) e à diminuição do crescimento econômico com a recessão que se avizinha.
As propostas para o sistema de saúde, a educação, o aquecimento global e a independência energética também estão em xeque.
Desde antes da eleição, conselheiros de Obama se dividiam entre uma abordagem pragmática (e lenta) ou mais agressiva, agindo em diversas frentes ao mesmo tempo. Agora, muitos democratas pendem para uma solução híbrida, que permita um plano econômico ambicioso, envolvendo outras partes da plataforma governamental, mas adiando alguns objetivos maiores.
A idéia é usar áreas menos custosas para demostrar atitude rápida, enquanto objetivos de larga escala seriam desacelerados. Um exemplo seria a proposta para a saúde. Em vez de apresentar um plano mais universal para atender os 50 milhões de americanos que não possuem seguro-saúde, o presidente eleito pode começar expandindo seguros governamentais para crianças, algo aprovado pelo Congresso, mas vetado por Bush.
As propostas para a educação devem enfrentar problemas ainda maiores. O plano de campanha destacava US$ 8 bilhões para melhorar o plano de Bush conhecido como "Nenhuma Criança Deixada para Trás" ("No Child Left Behind"), além de créditos individuais de US$ 4.000 para taxas universitárias e US$ 10 bilhões para expandir programas infantis. Para analistas, porém, não há como financiar tais propostas em meio a uma crise como a atual.


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