São Paulo, segunda-feira, 10 de novembro de 2008

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Homem da mala afirma que Kirchner prometeu proteção

Para isso, ele não poderia revelar origem de dinheiro

THIAGO GUIMARÃES
DE BUENOS AIRES

O empresário americano-venezuelano Guido Antonini Wilson, protagonista do "caso da mala" -suspeita de financiamento ilegal, pelo governo Hugo Chávez, da Venezuela, da campanha da presidente da Argentina, Cristina Kirchner- envolveu ontem o ex-presidente argentino Néstor Kirchner (2003-2007) no episódio.
Wilson foi detido com uma mala com US$ 800 mil no aeroporto de Buenos Aires em agosto do ano passado, em plena campanha eleitoral. Chegava de Caracas, em vôo fretado com funcionários dos governos argentino e venezuelano.
Em entrevista ao jornal "La Nación", a primeira para a imprensa argentina, Wilson afirmou ter ouvido do funcionário kirchnerista Cláudio Uberti, responsável pelo fretamento do vôo, que o então presidente Kirchner iria "bancá-lo até a morte" caso não revelasse a origem e o destino do dinheiro.
Segundo Wilson, a mala era de Uberti, e os recursos, da petroleira estatal venezuelana PDVSA. Após assumir a posse do dinheiro na Argentina, o empresário voltou aos EUA e passou a colaborar com o FBI em investigação aberta contra venezuelanos encarregados de pressioná-lo a abafar o caso.
A apuração se converteu em processo, e na semana passada a Justiça americana considerou o empresário venezuelano Franklin Durán culpado da acusação de atuar, sem autorização, como agente do governo Chávez nos EUA. Dos outros quatro acusados no processo, três se declararam culpados e um está foragido.
Ao "La Nación" Wilson afirmou que as declarações sobre "bancá-lo" foram feitas por Kirchner, e não pelo ministro de Planejamento (tanto no governo Kirchner quanto no governo Cristina), Julio de Vido, superior imediato de Uberti, como havia dito em gravações feitas pelo FBI. Disse ainda que Uberti lhe oferecera uma licença para exportar carne.
"Peça o que quiser. O presidente [Kirchner] me disse que pode ter uma licença de carne", afirmou o funcionário, segundo Wilson. Em declarações anteriores, o empresário já dissera ter estado na Casa Rosada dias após o episódio, em uma recepção de Kirchner a Chávez.
Uberti, demitido após o caso, nega a versão de Wilson. O governo da Argentina e o ex-presidente Kirchner não comentaram a entrevista ontem. Durante a semana, o ministro da Justiça argentino, Aníbal Fernández, classificou Wilson como "mequetrefe pago para dizer qualquer coisa".


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