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AMÉRICA LATINA
Em projeto mal recebido pelo Congresso argentino, EUA fazem exercício em região que integra a Tríplice Fronteira
Americanos treinam militares na Argentina
MARCELO BILLI
DE BUENOS AIRES
O presidente da Argentina,
Eduardo Duhalde, enviou ao
Congresso um projeto de lei para
autorizar exercícios militares organizados por tropas norte-americanas nas regiões de Salta e de
Misiones, Província na fronteira
com o Brasil. O projeto foi assinado no dia 2, mas alguns exercícios
já haviam começado em outubro.
Em abril de 2003, deve aumentar
o número de militares envolvidos
nas operações.
A existência do projeto e a sua
assinatura depois do início das
operações foram reveladas anteontem pelo jornal argentino
"Página 12".
Em texto, que lembra que o projeto foi assinado entre os dois encontros que Duhalde teve com o
presidente eleito do Brasil, Luiz
Inácio Lula da Silva, o diário afirma que "os boinas-verdes tomarão posições na fronteira argentina quando Lula se mudar para o
Palácio do Planalto".
Ainda segundo o jornal, o projeto foi mal recebido no Congresso,
onde teria sido interpretado como um aval para "converter Misiones em um ponto de onde os
EUA possam vigiar o Brasil".
O ministro da Defesa argentino,
Horacio Jaunarena, confirmou os
exercícios, mas afirmou que são
atividades de treinamento corriqueiras. O porta-voz do Comando Sul das Forças Armadas dos
EUA, Steve Lucas, disse que existem atividades de cooperação entre os EUA e a Argentina, mas que
não estava prevista nenhuma atividade de treinamento militar ou
de combate ao terrorismo.
"Poderia existir algum acordo
que não fosse público. Mas seria
de cooperação entre serviços de
inteligência. Não está prevista nenhuma atividade que envolva soldados dos EUA na região", disse
Lucas.
A Província de Misiones está
numa das regiões que os próprios
EUA consideram como problemáticas: a Tríplice Fronteira entre
Brasil, Argentina e Paraguai. Para
o serviço de inteligência argentino, pelo menos um dos dois graves atentados terroristas que
ocorreram no país na década de
90 foi planejado por células de organizações terroristas instaladas
na região.
Esse ataque teria sido o que
ocorreu em 1994, quando um carro-bomba explodiu na Amia (Associação Mutual Israelita Argentina), causando a morte de 85 pessoas. Em outro atentado, em 1991,
morreram 29 pessoas na Embaixada de Israel.
Em outubro do ano passado,
após alerta do governo norte-americano sobre os riscos de
atentados terroristas em várias regiões, o governo argentino adotou estado de alerta e aumentou
as medidas de segurança na região da Tríplice Fronteira.
Cooperação
O ministro da Defesa brasileiro,
Geraldo Quintão, esteve ontem na
Argentina, onde se reuniu com o
colega argentino. O ministro não
fez comentários sobre a realização
das operações em Misiones. A
existência de organizações terroristas na fronteira é uma fonte de
divergência entre os dois países.
Os brasileiros afirmam que não
há provas da existência de células
terroristas no Brasil e na Tríplice
Fronteira.
O ministro brasileiro esteve na
Argentina para assinar acordo de
cooperação com o Ministério da
Defesa argentino. O acordo prevê
cooperação e troca de informações sobre aeronaves irregulares
que cruzam a fronteira entre os
dois países.
Quintão aproveitou o encontro
para condecorar o colega argentino com a "Ordem do Mérito da
Defesa". Segundo Quintão, os esforços de Jaunarena para aumentar a integração entre os dois países fizeram com que o ministro
argentino fosse o primeiro estrangeiro a receber a condecoração.
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