São Paulo, terça-feira, 10 de dezembro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

AMÉRICA LATINA

Em projeto mal recebido pelo Congresso argentino, EUA fazem exercício em região que integra a Tríplice Fronteira

Americanos treinam militares na Argentina

MARCELO BILLI
DE BUENOS AIRES

O presidente da Argentina, Eduardo Duhalde, enviou ao Congresso um projeto de lei para autorizar exercícios militares organizados por tropas norte-americanas nas regiões de Salta e de Misiones, Província na fronteira com o Brasil. O projeto foi assinado no dia 2, mas alguns exercícios já haviam começado em outubro. Em abril de 2003, deve aumentar o número de militares envolvidos nas operações.
A existência do projeto e a sua assinatura depois do início das operações foram reveladas anteontem pelo jornal argentino "Página 12".
Em texto, que lembra que o projeto foi assinado entre os dois encontros que Duhalde teve com o presidente eleito do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, o diário afirma que "os boinas-verdes tomarão posições na fronteira argentina quando Lula se mudar para o Palácio do Planalto".
Ainda segundo o jornal, o projeto foi mal recebido no Congresso, onde teria sido interpretado como um aval para "converter Misiones em um ponto de onde os EUA possam vigiar o Brasil".
O ministro da Defesa argentino, Horacio Jaunarena, confirmou os exercícios, mas afirmou que são atividades de treinamento corriqueiras. O porta-voz do Comando Sul das Forças Armadas dos EUA, Steve Lucas, disse que existem atividades de cooperação entre os EUA e a Argentina, mas que não estava prevista nenhuma atividade de treinamento militar ou de combate ao terrorismo.
"Poderia existir algum acordo que não fosse público. Mas seria de cooperação entre serviços de inteligência. Não está prevista nenhuma atividade que envolva soldados dos EUA na região", disse Lucas.
A Província de Misiones está numa das regiões que os próprios EUA consideram como problemáticas: a Tríplice Fronteira entre Brasil, Argentina e Paraguai. Para o serviço de inteligência argentino, pelo menos um dos dois graves atentados terroristas que ocorreram no país na década de 90 foi planejado por células de organizações terroristas instaladas na região.
Esse ataque teria sido o que ocorreu em 1994, quando um carro-bomba explodiu na Amia (Associação Mutual Israelita Argentina), causando a morte de 85 pessoas. Em outro atentado, em 1991, morreram 29 pessoas na Embaixada de Israel.
Em outubro do ano passado, após alerta do governo norte-americano sobre os riscos de atentados terroristas em várias regiões, o governo argentino adotou estado de alerta e aumentou as medidas de segurança na região da Tríplice Fronteira.

Cooperação
O ministro da Defesa brasileiro, Geraldo Quintão, esteve ontem na Argentina, onde se reuniu com o colega argentino. O ministro não fez comentários sobre a realização das operações em Misiones. A existência de organizações terroristas na fronteira é uma fonte de divergência entre os dois países. Os brasileiros afirmam que não há provas da existência de células terroristas no Brasil e na Tríplice Fronteira.
O ministro brasileiro esteve na Argentina para assinar acordo de cooperação com o Ministério da Defesa argentino. O acordo prevê cooperação e troca de informações sobre aeronaves irregulares que cruzam a fronteira entre os dois países.
Quintão aproveitou o encontro para condecorar o colega argentino com a "Ordem do Mérito da Defesa". Segundo Quintão, os esforços de Jaunarena para aumentar a integração entre os dois países fizeram com que o ministro argentino fosse o primeiro estrangeiro a receber a condecoração.


Texto Anterior: Holanda: Al Qaeda recruta jovens muçulmanos
Próximo Texto: Drama: Ministro argentino liga fome à ignorância
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.