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Com novo Parlamento, Mercosul busca avançar na integração
Bloco inaugura Assembléia conjunta em 2007 visando maior transparência, aproximação dos cidadãos e aprovação das regras nos Congressos nacionais
CLÁUDIA DIANNI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A partir do ano que vem, o
Mercosul vai ganhar um Parlamento que terá sede em Montevidéu, no Uruguai. Nesta
quinta-feira, Argentina, Brasil,
Paraguai, Uruguai e Venezuela
apresentam os nomes de seus
parlamentares em uma solenidade no Senado, dando início a
um processo que deve culminar em eleições diretas nos países membros, a cada quatro
anos, a partir de 2014.
O objetivo dos governos é
que o Parlamento do Mercosul
dê mais transparência ao processo de integração, aproxime o
bloco dos cidadãos e principalmente facilite a aprovação das
regras comuns nos Congressos
nacionais e vigie a aplicação e
cumprimento dessas normas.
A exemplo do Parlamento
Europeu, o Parlamento do
Mercosul não terá poder legislador, mas de proposição e fiscalização. "Na Europa, o Orçamento comunitário só é aprovado com o voto do Parlamento
Europeu. No Mercosul não será
assim. Por enquanto, os parlamentares do Mercosul não terão muitos poderes. Mas nós
acreditamos nos princípios da
integração regional. Um mundo multipolar é mais equilibrado", disse o embaixador João
Pacheco, representante no
Brasil da União Européia, dá
apoio técnico e financeiro à instalação do Parlamento.
O protocolo que institui o
Parlamento do Mercosul estabelece três fases para o pleno
funcionamento da instituição.
Na primeira, de 2007 a 2010,
cada país vai indicar 18 parlamentares (nove deputados e
nove senadores) que já integram seus Parlamentos nacionais. No Brasil, foram indicados os 18 membros da Comissão Parlamentar do Mercosul.
Durante esse período, além
de acompanhar a chamada "internalização" das normas comuns, o Parlamento redigirá
suas regras de funcionamento e
definirá o Orçamento para, a
partir de 2008, tentar um consenso sobre um tema polêmico:
como será o sistema de representação proporcional nas próximas legislaturas do bloco.
Ainda na primeira fase, cada
país vai eleger os parlamentares do Mercosul junto com seus
deputados e senadores. Esses
mandatos serão proporcionais
ao tempo que resta para o fim
da legislatura do bloco. Por
exemplo, em 2007 o Paraguai
terá eleições legislativas nacionais. Os eleitos para o Parlamento do Mercosul cumprirão
mandato até 2010.
O Orçamento do Parlamento
será definido ao longo de 2007.
A União Européia vai oferecer
ajuda financeira de 900 mil. A
partir de 2008, os países terão
que fazer contribuições proporcionais a seus PIBs.
Numa terceira fase, a cada
quatro anos os cinco países
realizarão em um mesmo dia
eleições exclusivas para o Parlamento regional. "O objetivo é
que os parlamentares se organizem por famílias políticas,
como ocorre no Parlamento
Europeu, e não por nacionalidade", diz Maria Claudia Drumond, consultora do Senado.
Só no papel
Uma das expectativas quanto
ao Parlamento é a de que ele
ponha fim a gargalos legislativos nos países. Desde que foi
criado, em 1991, o Mercosul já
aprovou 1.600 regras. Mais da
metade não funciona porque
aguarda aprovação nos Congressos nacionais ou está parada em algum ministério ou
agência reguladora por falta de
harmonização das legislações
ou de entendimentos prévios.
O bloco, por exemplo, aprovou a equivalência dos diplomas, mas não houve a harmonização dos conteúdos acadêmicos. O acordo não saiu do papel.
"Uma das funções do Parlamento será verificar a harmonização de regras, rastrear os
órgãos que precisam aprovar as
normas comuns e garantir sua
compatibilidade antes de dar
um projeto como aprovado",
disse o deputado federal Doutor Rosinha (PT-PR), indicado
para compor a primeira legislatura do Mercosul.
Ex-embaixador nos EUA e
no Reino Unido, Rubens Barbosa acredita que a criação do
Parlamento será um gesto simbólico: "Na prática o Parlamento do Mercosul não terá poderes". Na avaliação dele, é cedo
para criar um Parlamento no
bloco. "O Parlamento Europeu
foi criado em um estágio mais
avançado do processo de integração européia, quando já estava concluída a união aduaneira e o mercado comum estava
em marcha. No Mercosul ainda
nem concluímos a zona de livre
comércio, o primeiro estágio da
integração."
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