São Paulo, quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

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Desacordo Brasil-EUA não deve ser exagerado, afirma americano

Vice do Council on Foreign Relations se diz otimista quanto às relações de longo prazo

CLAUDIA ANTUNES
DA SUCURSAL DO RIO

O desacordo entre Brasil e EUA no caso do Irã e em outras questões internacionais não deve ser exagerado, afirma James M. Lindsay, vice-presidente e diretor de estudos do Council on Foreign Relations, influente centro de pesquisas de política externa dos EUA.
Lindsay integra delegação de seis especialistas do Council que veio ao Rio para o seminário "O Brasil em ascensão", realizado com a Fundação Getulio Vargas. O encontro, em que os americanos mais ouvem do que falam, é parte de projeto, diz ele, "para entender o que a emergência do Brasil significará para a política global".

 

FOLHA - Iniciativas recentes do Brasil, como a visita do presidente iraniano ou o não reconhecimento da eleição em Honduras, foram em direção contrária a políticas dos EUA. Como vê as divergências?
JAMES LINDSAY
- Se você usar como medida da saúde das relações bilaterais o fato de o Brasil sempre fazer o que os EUA querem, ou o contrário, está destinado a ficar desapontado. Quanto à visita de [Mahmoud] Ahmadinejad, ainda queremos entender por que o governo brasileiro seguiu tal estratégia. Do ponto de vista de Washington, as conversas do presidente Lula com o presidente iraniano causam inquietação, pelas declarações [de Ahmadinejad] que negam o Holocausto e porque o governo iraniano está violando não a política dos EUA, mas decisões do Conselho de Segurança da ONU. Mas, em relações internacionais, é preciso evitar reações exageradas. Não é pela visita que se pode concluir que há um problema na relação Brasil-EUA ou mesmo que a política brasileira esteja seguindo uma direção particular. Teremos que esperar para ver.

FOLHA - Tem sido comentada a expectativa americana de que o Brasil atue como um "acionista" do atual sistema internacional, em coordenação com Washington. Existe essa expectativa?
LINDSAY
- Não diria que Washington tem a expectativa de que o Brasil aja desta ou daquela forma. Diria que tem a esperança de que o Brasil atue como um participante responsável. Mas cabe aos brasileiros definirem quais são os interesses do país no exterior e as estratégias para atendê-los. O Brasil ou outro país pode argumentar que quer ter alguma voz nas regras. Quando os americanos falam em parceria, o que isso significa? O que o Brasil está disposto a oferecer? Eu estou otimista quanto às relações Brasil-Estados Unidos no longo prazo e, por isso, não as reduziria a nenhum incidente em particular.

FOLHA - O governo brasileiro tem dito que é hora de as potências atômicas darem passos para o desarmamento, antes que ele, por exemplo, assine o Protocolo Adicional do Tratado de Não Proliferação. Como vê essa questão?
LINDSAY
- Espero que o presidente [Barack] Obama consiga cumprir a promessa de fazer progresso [na direção de um mundo livre de armas nucleares]. Falo de coisas como obter a ratificação pelo Senado do Tratado de Proibição de Testes Nucleares e um acordo com a Rússia para cortes nos arsenais. Essas medidas vão ao centro da barganha contida no TNP. O Brasil dizer que espera que os outros cumpram sua parte do tratado parece uma posição razoável. Dito isso, espero que o Brasil não vá na direção da militarização de seu programa nuclear. Se Rússia e EUA cortarem arsenais e o Brasil aderir ao Protocolo Adicional, serão boas notícias.

FOLHA - O governo brasileiro expressou decepção pelo fato de o governo Obama não ter avançado nas negociações multilaterais sobre comércio e mudanças climáticas. A crítica é justa?
LINDSAY
- Sim e não. Existe a expectativa -e não só no Brasil- de que os EUA têm não apenas responsabilidade mas também capacidade de dar a palavra final em acordos. Isso pode ter sido verdade, mas o poder está sendo redistribuído. A cooperação americana é necessária, mas não suficiente.


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