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Desacordo Brasil-EUA não deve ser exagerado, afirma americano
Vice do Council on Foreign Relations se diz otimista quanto às relações de longo prazo
CLAUDIA ANTUNES
DA SUCURSAL DO RIO
O desacordo entre Brasil e
EUA no caso do Irã e em outras
questões internacionais não
deve ser exagerado, afirma James M. Lindsay, vice-presidente e diretor de estudos do
Council on Foreign Relations,
influente centro de pesquisas
de política externa dos EUA.
Lindsay integra delegação de
seis especialistas do Council
que veio ao Rio para o seminário "O Brasil em ascensão", realizado com a Fundação Getulio
Vargas. O encontro, em que os
americanos mais ouvem do que
falam, é parte de projeto, diz
ele, "para entender o que a
emergência do Brasil significará para a política global".
FOLHA - Iniciativas recentes do
Brasil, como a visita do presidente
iraniano ou o não reconhecimento
da eleição em Honduras, foram em
direção contrária a políticas dos
EUA. Como vê as divergências?
JAMES LINDSAY - Se você usar como medida da saúde das relações bilaterais o fato de o Brasil
sempre fazer o que os EUA querem, ou o contrário, está destinado a ficar desapontado.
Quanto à visita de [Mahmoud]
Ahmadinejad, ainda queremos
entender por que o governo
brasileiro seguiu tal estratégia.
Do ponto de vista de Washington, as conversas do presidente Lula com o presidente
iraniano causam inquietação,
pelas declarações [de Ahmadinejad] que negam o Holocausto
e porque o governo iraniano está violando não a política dos
EUA, mas decisões do Conselho de Segurança da ONU.
Mas, em relações internacionais, é preciso evitar reações
exageradas. Não é pela visita
que se pode concluir que há um
problema na relação Brasil-EUA ou mesmo que a política
brasileira esteja seguindo uma
direção particular. Teremos
que esperar para ver.
FOLHA - Tem sido comentada a expectativa americana de que o Brasil
atue como um "acionista" do atual
sistema internacional, em coordenação com Washington. Existe essa
expectativa?
LINDSAY - Não diria que Washington tem a expectativa de
que o Brasil aja desta ou daquela forma. Diria que tem a esperança de que o Brasil atue como
um participante responsável.
Mas cabe aos brasileiros definirem quais são os interesses
do país no exterior e as estratégias para atendê-los. O Brasil
ou outro país pode argumentar
que quer ter alguma voz nas regras. Quando os americanos falam em parceria, o que isso significa? O que o Brasil está disposto a oferecer?
Eu estou otimista quanto às
relações Brasil-Estados Unidos
no longo prazo e, por isso, não
as reduziria a nenhum incidente em particular.
FOLHA - O governo brasileiro tem
dito que é hora de as potências atômicas darem passos para o desarmamento, antes que ele, por exemplo, assine o Protocolo Adicional do
Tratado de Não Proliferação. Como
vê essa questão?
LINDSAY - Espero que o presidente [Barack] Obama consiga
cumprir a promessa de fazer
progresso [na direção de um
mundo livre de armas nucleares]. Falo de coisas como obter
a ratificação pelo Senado do
Tratado de Proibição de Testes
Nucleares e um acordo com a
Rússia para cortes nos arsenais.
Essas medidas vão ao centro
da barganha contida no TNP. O
Brasil dizer que espera que os
outros cumpram sua parte do
tratado parece uma posição razoável. Dito isso, espero que o
Brasil não vá na direção da militarização de seu programa nuclear. Se Rússia e EUA cortarem arsenais e o Brasil aderir
ao Protocolo Adicional, serão
boas notícias.
FOLHA - O governo brasileiro expressou decepção pelo fato de o governo Obama não ter avançado nas
negociações multilaterais sobre comércio e mudanças climáticas. A crítica é justa?
LINDSAY - Sim e não. Existe a
expectativa -e não só no Brasil- de que os EUA têm não
apenas responsabilidade mas
também capacidade de dar a
palavra final em acordos. Isso
pode ter sido verdade, mas o
poder está sendo redistribuído.
A cooperação americana é necessária, mas não suficiente.
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