São Paulo, sábado, 11 de janeiro de 2003

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ÁSIA

Pyongyang deixa pacto de não-proliferação e causa preocupação internacional; EUA querem ação do Conselho de Segurança

Coréia do Norte abandona acordo nuclear

Yun Jai-hyoung/Associated Press
Soldados sul-coreanos fazem exercício militar perto da zona desmilitarizada entre as duas Coréias


DA REDAÇÃO

A Coréia do Norte, alertando para o perigo de uma "terceira guerra mundial", anunciou ontem que abandonará hoje o Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares (TNP), que proíbe que seus 187 signatários produzam armas nucleares, mas afirmou que estaria disposta a dialogar com Washington para buscar pôr fim ao impasse em torno de seu programa nuclear.
Pyongyang disse ainda que, "por enquanto", não tem a intenção de construir armas nucleares e que suas instalações só produzirão energia. Esta terá uso civil, de acordo com os norte-coreanos.
Logo após o anúncio norte-coreano, o presidente dos EUA, George W. Bush, conversou, por telefone, com seu colega chinês, Jiang Zemin. Este expressou decepção e preocupação com a decisão de Pyongyang. A China é a maior aliada da Coréia do Norte. A Coréia do Sul chamou o impasse de "questão de vida ou morte".
Mais tarde, o secretário de Estado dos EUA, Colin Powell, encontrou-se com Mohamed El Baradei, que chefia a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), para debater o tema. Ao final da reunião, ele condenou a decisão norte-coreana e disse que o assunto deverá ser tratado pelo Conselho de Segurança da ONU.
Segundo El Baradei, "se a Coréia do Norte não cooperar nas próximas semanas, a AIEA deverá acionar o Conselho de Segurança". Este poderá impor sanções diplomáticas e econômicas à Coréia do Norte, o que, certamente, agravaria a crise, visto que Pyongyang reiterou ontem que isso seria interpretado como um "ato de guerra".
"Um país não pode simplesmente abandonar [o TNP] sem consequências, pois desafiar a integridade do regime de não-proliferação é algo que pode afetar a paz e a segurança internacionais", declarou El Baradei.
Mas ele não fechou a porta para a abertura de negociações, dizendo que cabe agora a Pyongyang mostrar disposição para dialogar. "Eles [os norte-coreanos] devem saber que receberão algo em troca de seu bom comportamento", afirmou El Baradei, mencionando a possibilidade do envio de ajuda econômica à Coréia do Norte em troca da desativação de seu programa nuclear.
Bush disse a Jiang que compartilha sua preocupação e que os dois têm o mesmo objetivo -manter a península coreana livre de armas nucleares. Bush salientou também que não tem a intenção de atacar a Coréia do Norte, buscando privilegiar uma solução diplomática. Ele já acusou o país, junto com Irã e Iraque, de formar um "eixo do mal".
Jiang foi duro com os norte-coreanos, dizendo desaprovar a decisão deles. A Rússia, que também tem bons laços com a Coréia do Norte, afirmou que o abandono do TNP por parte de Pyongyang "só poderia piorar o já tenso ambiente que cerca o tema".
Enquanto Bush falava com Jiang, dois diplomatas norte-coreanos se encontravam com o ex-embaixador dos EUA na ONU Bill Richardson, hoje governador do Novo México. Eles já tinham conversado anteontem à noite. Mas Richardson, democrata, não pôde negociar em nome dos EUA. "Não sou um negociador oficial", disse.
A tensão na península da Coréia aumentou depois que autoridades americanas disseram, em outubro, que a Coréia do Norte tinha admitido ter um programa de armas nucleares, o que era proibido por um tratado de 1994. Em dezembro, a situação agravou-se, pois Pyongyang começou a reativar um reator nuclear capaz de enriquecer plutônio.
Os EUA buscam uma solução pacífica para o impasse, já que não querem que a questão norte-coreana desvie a atenção internacional da inspeção das armas iraquianas. Inúmeros países criticaram a decisão norte-coreana.

Com agências internacionais


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