UOL


São Paulo, terça-feira, 11 de fevereiro de 2003

Próximo Texto | Índice

IRAQUE NA MIRA

França, Alemanha e Bélgica, opostas a uma ação contra Bagdá, bloqueiam plano de ajuda defensiva à Turquia

Paris e Berlim vetam pedido dos EUA à Otan

DA REDAÇÃO

França, Alemanha e Bélgica bloquearam ontem pedidos dos EUA na Otan para que a Turquia seja defendida em caso de um conflito no Iraque. Disseram que enviar mais mísseis e equipamento militar à região seria aceitar a "lógica da guerra", minando os esforços diplomáticos na ONU para conseguir o desarmamento de Bagdá pela via pacífica.
A medida abre uma das mais graves crises da história da aliança militar ocidental, formada em 1949 para fazer frente ao bloco soviético na Guerra Fria e que enfrenta incertezas sobre seu papel no novo cenário geopolítico.
O desacordo expõe ainda a disposição de alguns países europeus de se opor aos EUA na tentativa de evitar a guerra. O eixo franco-alemão, que ontem ganhou a adesão de Moscou, lidera a resistência aos preparativos bélicos dos EUA e do Reino Unido. Exigem mais tempo para que os inspetores da ONU desarmem o Iraque. Os EUA disseram que esses países estão colocando em risco a credibilidade da Otan. E prometem agir em defesa da Turquia sem ajuda dos integrantes da aliança ocidental se isso se fizer necessário.
A decisão de Paris, Berlim e Bruxelas levou a Turquia a invocar pela primeira vez na história o artigo 4º do estatuto da Otan, que obriga discussões sempre que um país-membro acredite estar sob ameaça. Os representantes dos 19 membros da Otan se reuniram numa sessão emergencial para discutir a questão, mas não solucionaram o impasse. Novos debates estão previstos para hoje.
"Lamentavelmente ainda não conseguimos chegar a um consenso", disse ontem o secretário-geral da aliança, George Robertson, que afirmou que as discussões haviam sido acaloradas e admitiu a gravidade da situação.
A Turquia faz fronteira com o Iraque e teme ser alvo de bombardeios retaliatórios no caso de uma guerra. Os EUA pedem desde dezembro à Otan que autorize o envio de mísseis antimíssil Patriot e aviões de monitoramento aéreo ao país -medida postergada pelos países contrários à guerra.
A Turquia ainda não definiu se permitirá que os EUA utilizem seu território num eventual conflito, mas Ancara sinaliza que sim. Seu Parlamento já autorizou soldados dos EUA a reformar bases. E líderes do governo têm se pronunciado favoravelmente à idéia de aderir à coalizão que Washington tenta constituir para a guerra.
Caso Paris, Berlim e Bruxelas sigam irredutíveis, a Turquia poderia assinar acordos bilaterais de cooperação com os EUA ou com outros países dispostos a ajudá-la.
Diplomatas consideram essa alternativa prejudicial à Otan, uma vez que seu papel como órgão de defesa coletiva ficaria esvaziado.
"A credibilidade da Otan é o que está em jogo", declarou o embaixador dos EUA na Otan, Nicholas Burns. "Os aliados têm a obrigação fundamental defender um aliado que pediu assistência significativa." Especialistas dizem que seria preciso cerca de um mês para o transporte dos equipamentos ao país. Como os EUA têm enviado dezenas de milhares de soldados ao golfo, os turcos têm pressa.


Com agências internacionais


Próximo Texto: "Decepcionado", Bush diz que veto é "miopia"
Índice

UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.