São Paulo, quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

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Obama se afasta de "Washington"

Presidente segue turnê popular para recuperar iniciativa e ataca os "vícios" políticos da capital do país

Criticado pela esquerda de sua base pelo discurso do bipartidarismo, ele vende pacote anticrise na Flórida e rebate alegações opositoras

ANDREA MURTA
DE NOVA YORK

No segundo dia de um tour pelo país em que tenta recuperar a iniciativa política e se afastar do que chama de "vícios de Washington", o presidente Barack Obama levou ontem à Flórida a campanha por apoio público a seu pacote econômico. A intenção é desacreditar as críticas da oposição republicana de que o plano representa desperdício de gastos públicos.
As críticas foram alimentadas pela desistência, na semana passada, de dois indicados por Obama para seu gabinete que não declararam parte do imposto de renda devido, entre eles Tom Daschle, que ocuparia a pasta da Saúde.
Recebido aos gritos de "sim, nós podemos!" na cidade de Fort Myers, Obama defendeu a aprovação do pacote. "Não vou dizer que o plano é perfeito. Quer dizer, foi produzido em Washington", disse, provocando risos na plateia. Mas, afirmou, "as pessoas aqui em Fort Myers precisam de ajuda".
"Os americanos que conheci entendem que, mesmo com o plano, nossa recuperação será medida em anos (...), mas eles não têm paciência para esperar as pessoas em Washington fazerem o que é preciso."
Um pacote de US$ 838 bilhões passou ontem no Senado, com votos de apenas três republicanos. Mesmo estes custaram caro, e os democratas tiveram de aceitar menos gastos e mais cortes de impostos. Na Câmara, nenhum republicano apoiou a versão aprovada.
Desde segunda, quando a visita ao Estado de Indiana deu a largada na estratégia de "voltar à base", Obama já sinalizara desistência de um consenso bipartidário sobre o pacote. "Fico feliz em receber ideias de democratas e republicanos", disse em sua primeira coletiva na Casa Branca. "Mas o que não vou fazer é voltar às teorias fracassadas dos últimos oito anos."
Ele se mostrou longe dos apelos cordiais aos adversários. "É meio difícil para mim aceitar críticas das pessoas que estavam no poder quando a dívida nacional dobrou. Não estou certo de que eles tenham muita credibilidade em termos de responsabilidade fiscal."

"Mundo real"
Amanhã, Obama leva a campanha pró-pacote a Chicago. Por enquanto, há sinais de que a estratégia está dando certo. A entrevista na Casa Branca teve quase 49 milhões de telespectadores. E, em Indiana e na Flórida, a recepção popular não deveu nada ao entusiasmo da campanha eleitoral.
Além de deixar claro que não priorizará mais a negociação com republicanos no Congresso, Obama está tentando afastar sua imagem da de Washington e se aproximar do que chama de "mundo real".
Não à toa, escolheu falar à população em Estados governados por republicanos (Indiana e Flórida) que, afundados em déficits, estão mais propícios a apoiar gastos governamentais.
Essa nova posição agrada a líderes e comentaristas próximos à esquerda democrata, que vêm insistindo para que o governo não ceda às pressões republicanas por mais cortes de impostos e desista de ações bipartidárias. "A simples verdade é que políticos republicanos [no Congresso] gostariam que Obama fracassasse, porque assim teriam sua passagem para um retorno rápido ao poder", escreveu no "New York Times" o colunista Bob Herbert.
O presidente ainda diz esperar colaboração republicana no futuro. Mas analistas preveem um caminho difícil. "Em algum momento, Obama vai ter de escolher entre a retórica bipartidária que adotou na campanha e as políticas democratas em que aposta", disse ao "Financial Times" Bill Galston, especialista em política dos EUA da Brookings Institution.


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