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Obama se afasta de "Washington"
Presidente segue turnê popular para recuperar iniciativa e ataca os "vícios" políticos da capital do país
Criticado pela esquerda de sua base pelo discurso do bipartidarismo, ele vende pacote anticrise na Flórida e rebate alegações opositoras
ANDREA MURTA
DE NOVA YORK
No segundo dia de um tour
pelo país em que tenta recuperar a iniciativa política e se afastar do que chama de "vícios de
Washington", o presidente Barack Obama levou ontem à Flórida a campanha por apoio público a seu pacote econômico. A
intenção é desacreditar as críticas da oposição republicana de
que o plano representa desperdício de gastos públicos.
As críticas foram alimentadas pela desistência, na semana
passada, de dois indicados por
Obama para seu gabinete que
não declararam parte do imposto de renda devido, entre
eles Tom Daschle, que ocuparia
a pasta da Saúde.
Recebido aos gritos de "sim,
nós podemos!" na cidade de
Fort Myers, Obama defendeu a
aprovação do pacote. "Não vou
dizer que o plano é perfeito.
Quer dizer, foi produzido em
Washington", disse, provocando risos na plateia. Mas, afirmou, "as pessoas aqui em Fort
Myers precisam de ajuda".
"Os americanos que conheci
entendem que, mesmo com o
plano, nossa recuperação será
medida em anos (...), mas eles
não têm paciência para esperar
as pessoas em Washington fazerem o que é preciso."
Um pacote de US$ 838 bilhões passou ontem no Senado,
com votos de apenas três republicanos. Mesmo estes custaram caro, e os democratas tiveram de aceitar menos gastos e
mais cortes de impostos. Na
Câmara, nenhum republicano
apoiou a versão aprovada.
Desde segunda, quando a visita ao Estado de Indiana deu a
largada na estratégia de "voltar
à base", Obama já sinalizara desistência de um consenso bipartidário sobre o pacote. "Fico
feliz em receber ideias de democratas e republicanos", disse
em sua primeira coletiva na Casa Branca. "Mas o que não vou
fazer é voltar às teorias fracassadas dos últimos oito anos."
Ele se mostrou longe dos
apelos cordiais aos adversários.
"É meio difícil para mim aceitar críticas das pessoas que estavam no poder quando a dívida nacional dobrou. Não estou
certo de que eles tenham muita
credibilidade em termos de
responsabilidade fiscal."
"Mundo real"
Amanhã, Obama leva a campanha pró-pacote a Chicago.
Por enquanto, há sinais de que
a estratégia está dando certo. A
entrevista na Casa Branca teve
quase 49 milhões de telespectadores. E, em Indiana e na Flórida, a recepção popular não
deveu nada ao entusiasmo da
campanha eleitoral.
Além de deixar claro que não
priorizará mais a negociação
com republicanos no Congresso, Obama está tentando afastar sua imagem da de Washington e se aproximar do que chama de "mundo real".
Não à toa, escolheu falar à população em Estados governados por republicanos (Indiana
e Flórida) que, afundados em
déficits, estão mais propícios a
apoiar gastos governamentais.
Essa nova posição agrada a líderes e comentaristas próximos à esquerda democrata, que
vêm insistindo para que o governo não ceda às pressões republicanas por mais cortes de
impostos e desista de ações bipartidárias. "A simples verdade
é que políticos republicanos
[no Congresso] gostariam que
Obama fracassasse, porque assim teriam sua passagem para
um retorno rápido ao poder",
escreveu no "New York Times"
o colunista Bob Herbert.
O presidente ainda diz esperar colaboração republicana no
futuro. Mas analistas preveem
um caminho difícil. "Em algum
momento, Obama vai ter de escolher entre a retórica bipartidária que adotou na campanha
e as políticas democratas em
que aposta", disse ao "Financial
Times" Bill Galston, especialista em política dos EUA da
Brookings Institution.
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