São Paulo, quinta-feira, 11 de março de 2004

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ELEIÇÃO NOS EUA

Milionários usam brecha legal e ajudam democratas ao custear campanha de TV que critica o presidente

Poderosos financiam anúncios anti-Bush

DA REDAÇÃO

Um grupo de políticos, entidades e publicitários, reconhecidos por suas afinidades com o Partido Democrata, iniciou ontem em 17 Estados norte-americanos a difusão, ao custo de US$ 5 milhões, de inserções publicitárias em emissoras de rádio e TV com críticas ao presidente George W. Bush.
A iniciativa é ilegal, argumenta o Partido Republicano, porque os fundos arrecadados para essa campanha beneficiam diretamente o virtual candidato democrata, John Kerry, sem que eles estejam sob o controle da Comissão Federal Eleitoral.
A comissão deverá se pronunciar sobre a legalidade dessa forma de propaganda. Enquanto ela não o fizer, dizem especialistas, haverá um limbo jurídico do qual os democratas deverão se beneficiar.
A vantagem é republicana quando se trata de fundos já arrecadados. Para a reeleição de Bush, e depois de uma primeira campanha de anúncios na mídia eletrônica, restam ainda em caixa US$ 100 milhões, quantia que voltará com certeza a crescer até as eleições de novembro.
Mas esse dinheiro está submetido a formas de controle e a valores máximos de doação. Segundo a lei eleitoral, uma pessoa física pode doar no máximo US$ 25 mil por ano a um partido e US$ 2.000 para determinado candidato.
Os valores que indiretamente beneficiam Kerry são bem maiores. Segundo o "Washington Post", o megainvestidor George Soros, por meio de entidades criadas para a arrecadação de fundos, está entrando, só para os atuais anúncios, com US$ 6,5 milhões.
Por sua vez, o site da Joint Victory Campaign 2004, que arrecada fundos em benefício dos democratas, revela que a família Pritzker, que controla a cadeia de hotéis Hyatt, deu US$ 4 milhões.
"Trata-se de uma estupenda violação da lei", disse Tom Josefiak, conselheiro de Bush.
O "New York Times" diz que dois dos grupos próximos dos democratas já teriam arrecadado ou obtido a promessa de algo em torno de US$ 70 milhões. Eles teriam procurado, com isso, compensar a desvantagem de seus caixas, que até agora captavam um décimo do que era obtido por seus adversários republicanos.
A rigor, dizem especialistas, só haveria ilegalidade flagrante caso as campanhas ontem desencadeadas tivessem vínculos diretos com aspirantes fortes à candidatura democrata ou com a própria direção daquele partido.
"Estamos muito cautelosos para que não haja o mínimo risco de confundir o comitê de campanha [de Kerry] ou do partido com os anúncios publicitários", diz um dos responsáveis, Jim Jordan.
O mutirão para se contrapor aos fundos eleitorais de Bush está em mãos de especialistas que não cometeriam erros primários.
Um desses especialistas é Harold Ickes, que trabalhou na Casa Branca no governo Bill Clinton (1993-2001). Ele coordena o Media Fund, que tem como único doador o Joint Victory Campaign 2004, que é por sua vez uma organização que congrega dezenas de entidades menores e lobbies de minorias ou de interesses liberais.
Segundo ele, tenta-se "politicamente sublinhar e pôr em evidência as políticas públicas dos republicanos". Embora aceite o fato de que a operação favorece Kerry em detrimento de Bush, ele diz que o objetivo da campanha não é apoiar ou tentar derrotar candidatos, mas sim, por enquanto, "levantar problemas".
Além de Ickes, há nomes como Ellen Malcolm, que lidera um lobby pela preservação do direito ao aborto, ou Steve Rosenthal, ex-diretor da maior central sindical norte-americana, a AFL-CIO.
Há ainda o MoveOn.org, nascido para defender Clinton quando conservadores tentaram seu impeachment no caso Mônica Lewinsky, a estagiária da Casa Branca com quem o então presidente teve um relacionamento.
O MoveOn cresceu em definitivo como entidade horizontalizada, baseada em e-mails e sites, com a organização, há pouco mais de um ano, de manifestações contra a Guerra no Iraque.
Seu site divulga a lista das 153 empresas ou pessoas que doaram US$ 1.000 ou mais para a atual campanha contra Bush. Aparecem, com quantias relativamente modestas, a Microsoft, a Time Warner, as universidades Stanford e Harvard, a Viacom e o portal de internet Yahoo!.
Um último grupo de arrecadação é o ACT (America Coming Together), financiado por Soros, pela Joint Victory Campaign e por uma série de fundações e empresas, como os assessores filantrópicos da família Rockfeller ou a BellSouth, uma das telefônicas.
A campanha favorável aos democratas privilegia Estados em que Bush estaria fragilizado, como Florida, Ohio, Arizona e Nevada. Os partidários do atual presidente gastaram recentemente US$ 11 milhões em anúncios nesses mesmos Estados.


Com agências internacionais


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