São Paulo, quarta-feira, 11 de março de 2009

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"China fez do Tibete inferno na Terra", diz dalai-lama

Tom incomumente agressivo marca 50 anos do levante tibetano contra Pequim

Governo chinês aumenta cerco à região e acusa o líder religioso exilado na Índia de fomentar a independência e "vilipendiar a história"

RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM

A China transformou o Tibete em um "inferno", disse ontem o dalai-lama, líder espiritual do budismo tibetano, em discurso na Índia. "Os tibetanos são forçados a privações e sofrimentos, eles literalmente vivem o inferno na Terra."
O pronunciamento, de agressividade rara no líder religioso, marcou os 50 anos da rebelião fracassada contra a China, em 1959. Com a derrota, o religioso e milhares de monges partiram para o exílio em Dharamsala, na Índia, onde vive até hoje.
Para ilustrar a repressão, o dalai-lama citou inúmeros toques de recolher, leis marciais e a Revolução Cultural maoísta, afirmando que a política chinesa "matou milhares". "Ainda hoje, os tibetanos no Tibete vivem em constante medo. São tratados como criminosos", acusou ele no discurso para cerca de 10 mil seguidores.
"A cultura e a identidade tibetanas estão perto de sumir."
O governo chinês desmentiu as acusações. "O grupo do dalai-lama confunde o bem e o mal e gosta de espalhar boatos", disse o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Ma Zhaoxu.
A tensão no Tibete e em Províncias vizinhas de grande população tibetana persiste, pelo temor do governo chinês de que se repitam os protestos violentos que aconteceram há um ano. O saldo de mortos do episódio, ocorrido às vésperas do percurso internacional da tocha olímpica, que celebrava a Olimpíada de Pequim, varia.
Para o governo chinês, foram 22 civis chineses atacados por manifestantes; para ONGs pró-Tibete, foram cerca de 200 tibetanos reprimidos pela polícia. Os grupos ainda estimam haver 1.200 desaparecidos.
Desde janeiro, a região está fechada para estrangeiros, de jornalistas a turistas, o que aumenta a desconfiança de que uma onda repressiva esteja acontecendo. Organizações de direitos humanos dizem haver prisões sem mandado e tortura.

Autonomia
Horas antes de o dalai-lama falar, o presidente chinês, Hu Jintao, afirmara que o Tibete precisava de uma "grande muralha" de estabilidade contra o separatismo na Província.
Já o governador do Tibete, Qiangba Puncong, ligado ao Partido Comunista, declarou que o religioso "fabrica e vilipendia" histórias, segundo a agência estatal Xinhua.
Em editorial, o jornal "Diário do Povo", o principal periódico do PC, afirmou que "ninguém deseja retroceder na história". "Apenas alguns donos de escravos ficam recordando como a vida era boa no Tibete."
O governo chinês acusa o dalai-lama de buscar a independência do Tibete e de estimular as tensões na região, ainda que ele tenha dito nos últimos anos que aceita a soberania chinesa -embora reivindique maior autonomia ao Tibete.
Um encontro de exilados tibetanos na Índia em novembro passado também sugeriu essa política de soberania chinesa com autonomia tibetana, mas jovens lideranças começam a temer que ela falhe por intransigência de Pequim.
Apesar da tensão, o dalai-lama defendeu a não-violência no discurso. "Não tenho dúvida de que a justiça da causa tibetana vai prevalecer se continuarmos em nosso caminho de verdade e não-violência", disse.


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